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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Entre a morte, a miséria e a marra: Obra Esculpido a machado completa três anos

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Em um retrato explícito, Leall evidencia a violência e a crueldade presente nas periferias do Rio de Janeiro. Originário de Marechal Hermes, zona Norte da capital carioca, Leall é um dos nomes de destaque da cena do Hip Hop contemporâneo, e nesse 1° de março, comemora três anos do lançamento do seu primeiro álbum, Esculpido a machado.

Gabriela Torres | Redação PR


OPINIÃO – Afinal: é possível mudar o destino da juventude negra? Para o rapper Leall (23), essa possibilidade é uma máxima que deve ser conquistada por cada um dos sobreviventes da guerra contra os pobres que acontece nas favelas do território brasileiro. Originário de Marechal Hermes, zona Norte da capital do Rio de Janeiro, Leall é um dos nomes de destaque da cena do Hip Hop contemporâneo, e nesse 1° de março, comemora três anos do lançamento do seu primeiro álbum, Esculpido a machado.

Em um retrato explícito, Leall evidencia a violência e a crueldade presente nas periferias do Rio de Janeiro. Com referências que vão das obras literárias do comunista Jorge Amado até a artista baiana Luedji Luna, o artista se propôs a trazer temas como a desigualdade de classe, o racismo, a violência e abuso policial na sua forma mais crua.

A introdução da obra faz alusão ao clássico Capítulo 4, versículo 3, dos Racionais MCs, e já expõem a proposta política do projeto:

Pesquisas afirmam que 54% das pessoas que entram pro tráficoTem entre 13 e 15 anos de idade e 40% já tentaram sairMas voltaram pela precariedade que encontraram

A história que você vai ouvir agoraÉ uma história que acontece com pelo menos dois em cada dez jovens do meu bairroQue na barriga da miséria nasceram brasileiros”

A escrita cuidadosa das letras desenvolvem a relação dialética entre a vulnerabilidade e a violência, a sensibilidade e a injustiça. O canto dos escravos de Clementina de Jesus, referência histórica do samba e da cultura afro-brasileira, embala a denúncia comovente presente em Pedras amarelas, música que reflete sobre o papel que as drogas cumprem nas favelas, onde o autor as interpreta como continuidade da política de genocídio da população negra

“Ele reveza com a química na lataDeixa que a fome, a droga mataMas tu sabe quem fornece o genocídio na favela?E a injustiça empurrada pela goelaEu vi na Brasil atropelado igual sucataNa bandeira 2, ele se droga e cata lataE a solidão vira cachimbo pra miséria”

Cadeia ou morte? é uma das faixas que explicita a falta de perspectivas no futuro quando se é um jovem pobre. Essa falta de perspectiva é agravada pela presente violência nas periferias, protagonizada diversas vezes pela polícia militar, instituição que desde a sua criação, cumpre o papel de repressão popular e manutenção do racismo.

“Velório ou julgamento? Detento ou defunto?Solidão ou luto?Onde sua mãe se frustraria menos?”

A profundidade do trabalho de Leall é vista tanto na lírica quanto na sua produção: a discografia é criada através de uma conexão entre o trap, o grime, e o boombap – tipos de vertente do RAP, que constroem a estrutura e expressão da identidade sonora da música.

O fim do disco é coroado com as letras de Posso mudar o meu destino e Pela minha área, que trazem uma mensagem à juventude pobre que segue sendo alvo do Estado: transformar a realidade em que vivemos e lutar pelo futuro que o povo brasileiro merece não é apenas uma possibilidade, mas uma necessidade que sairá das mãos daquelas e daqueles que carregam em si esse senso de justiça e a história da sua área. 

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