No sistema capitalista, que impõe às mulheres o trabalho de cuidar, se faz necessário o autocuidado coletivo para garantir qualidade de vida para as mulheres da classe trabalhadora.
Geisiane Gomes | Salvador*
MULHERES – Cuidar da casa, dos filhos, idosos e o trabalho doméstico – as mulheres carregam o peso do cuidado no capitalismo. A dupla jornada de trabalho, que chega a ser tripla, sem direito ao descanso, impede que as mulheres trabalhadoras possam se acolher.
No capitalismo, a classe trabalhadora é privada de direitos básicos e momentos de lazer, muitas vezes sendo empurrada para os bares e o consumo de drogas lícitas e ilícitas como única alternativa para descansar e “fugir da realidade”. As mulheres, por sua vez, são impedidas de relaxar e vivem com as preocupações do dia a dia. Também somos ensinadas que se cuidar é se isolar, e esse discurso afasta as mulheres de espaços onde o autocuidado pode ser coletivizado.
A Casa Preta Zeferina promoveu, no dia 2 de março, um dia inteiro de atividades de cuidado e saúde às mulheres. A ocupação do Movimento de Mulheres Olga Benario recebeu pela manhã um aulão de yoga com café da manhã coletivo, em parceria com a professora Kristiele Serrão, e aula de automassagem com a professora Julia Kraus, que também realizou quatro sessões de 1:30 h de massagem pela tarde. A ocupação é o espaço das mulheres na luta contra a violência de gênero, que só cresce no estado.
Espaços coletivos são importantes para oferecer acolhimento entre as mulheres e realizar atividades culturais que cheguem principalmente naquelas que mais sofrem de vulnerabilidade social: as mulheres pretas, moradoras das periferias, que são excluídas do acesso à cultura e saúde.
Só o trabalho coletivo ajuda no processo do autocuidado
Para as mulheres que, além da sua jornada de trabalho, escolhem lutar contra esse sistema que nos explora, a tentativa de problematizar o coletivo vai ser grande, mas a luta aproxima as companheiras e nas tarefas se encontra a perspectiva de um mundo melhor para o nosso povo.
Por isso, são importantíssimas as atividades culturais e de cuidado que as ocupações do Movimento de Mulheres Olga Benario oferecem para as mulheres dos centros urbanos, bairros e faculdades. O cuidado está nos espaços de coletividade entre as companheiras.
Além de fortalecer as mulheres, as aproxima da luta e do trabalho coletivo. Promover essas atividades gera resultados: as mulheres organizadas em núcleos do movimento e na linha de frente das tarefas. É visível a mudança que a luta coletiva promove na qualidade de vida.
Por isso, o trabalho entre as mulheres devem aumentar cada vez mais. Lutar contra esse sistema é cansativo, e mesmo que, sim, seja importante descansar e ter seu lazer, pois é de direito nosso, é ainda mais eficaz a participação do coletivo nesse processo de autocuidado. Pensar no próximo, no povo, é trabalhar o amor e solidariedade entre nós. É organizar as tarefas e não cair na sensação de automático.
Só o povo salva o povo, e o autocuidado entre as mulheres é uma tarefa fundamental para a revolução.
*Geisiane Gomes é militante do Movimento de Mulheres Olga Benario em Salvador