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domingo, 22 de dezembro de 2024

6 anos de luta por justiça: confira a linha do tempo do Jornal A Verdade sobre o assassinato de Marielle

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A Jornal A Verdade montou uma linha do tempo com as reportagens sobre as investigações acerca do crime covarde que assassinou Marielle Franco, acompanhe a luta por justiça e contra a impunidade.
Redação


No dia 14 de março de 2018, Marielle Franco, vereadora (PSOL-RJ), militante pelos direitos humanos, e seu motorista, Anderson Gomes, foram executados brutalmente. Desde então o povo brasileiro cobra da justiça a efetiva punição dos mandantes da morte. Depois de muitas reviravoltas, no último domingo (24/03/2024), ao completar seis anos de impunidade, numa operação conjunta da Polícia Militar e Procuradoria-Geral da República (PGR) foi anunciada a prisão de três suspeitos de terem mandado matar Marielle Franco, assassinada com três tiros na cabeça e um no pescoço e Anderson, alvejado com três disparos nas costas. 

Os suspeitos são Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado; o ex-vereador e atual deputado federal, Chiquinho Brazão, (União-RJ) e Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio, que durante um período comandou as investigações do crime. Os três acusados foram presos e enviados à penitenciária federal em Brasília, onde cumprirão a prisão preventiva. No caso de Chiquinho Brazão (União-RJ), por se tratar de deputado federal, como a prisão não foi em flagrante, a prisão poderá ser analisada pela Câmara dos Deputados e ele poderá ser solto, mas é preciso maioria absoluta (257 votos a favor), em votação aberta. 

Apesar de todos os esforços de poderosos para esconder e enterrar a memória de Marielle Franco, arrastando um processo por longos seis anos, as recentes prisões reafirmam as evidências de envolvimento direto do Estado brasileiro no crime.

Desde 2018, o Jornal A Verdade tem denunciado e cobrado o fim da impunidade acerca do crime covarde e brutal que assassinou Marielle Franco, por meio de reportagens que registram o avanço das investigações. Na edição 289, da segunda quinzena de março, produzimos uma matéria especial sobre o caso. Para relembrar nossos leitores de tudo que aconteceu nesses seis anos, organizamos aqui a linha do tempo de nossa cobertura ao caso. 

Leia as principais notícias publicadas por A Verdade, desde 2018, sobre o caso Marielle:

Março de 2018: O crime e o início das investigações

(Foto: Reprodução)

Marielle Franco lutava pela paz e contra a violência

Na semana do assassinato de Marielle, publicamos uma matéria denunciando o crime e falando sobre sua vida e luta.

“Como mulher, mãe, negra, LGBT, socióloga, de periferia e vereadora do PSOL na capital do Rio de Janeiro, nascida em 27 de julho de 1979, Marielle Franco, 38 anos, deixa um legado de luta por direitos humanos e de compromisso com a classe trabalhadora injustiçada, na construção de uma sociedade justa e solidária. Nascida na favela da Maré, no Rio de Janeiro (RJ), Marielle Franco fez nos últimos dias, denúncias de mortes de jovens em operações policiais e chefiaria a comissão legislativa que apuraria as ações da intervenção militar federal no estado do Rio de janeiro.”

Além da breve biografia de Marielle, Frei Gilvander, com muita sensibilidade, indicou que a morte da vereadora seria semente para a luta por justiça.

“Marielle Franco e Anderson Gomes foram vítimas de um crime hediondo, mas o sangue de Marielle Franco e de todas/os as/os que tombam na luta continuará circulando nas nossas artérias, nos inspirando, dando coragem e perseverança na luta em prol da construção de uma sociedade justa e solidária, sem opressores e sem violência.”

https://averdade.org.br/2018/03/marielle-franco-lutava-pela-paz-e-contra-a-violencia/

Março de 2019: A prisão dos atiradores no condomínio de Bolsonaro

(Foto: Reprodução)
Confirmado: Estado brasileiro está envolvido no assassinato de Marielle e Anderson

Na manhã da terça-feira dia 12 de março de 2019, dois policiais militares foram presos, acusados pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. 

“O sargento reformado da Polícia Militar do Rio de Janeiro Ronnie Lessa, de 48 anos teve sua prisão preventiva decretada por ter sido quem efetuou os disparos que alvejaram as vítimas, o atirador foi preso em sua casa, que fica no mesmo condomínio do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O ex-PM Élcio Queiroz também foi preso hoje pela manhã, acusado de dirigir o carro que perseguiu Marielle.”

A prisão dos policiais já deixava claro o envolvimento de poderosos agentes do Estado capitalista no assassinato da vereadora. Com a prisão de Ronnie Lessa e Elcio Queiroz, a cobrança pela prisão dos mandantes era o próximo passo na luta por justiça por Marielle e Anderson. Na cobertura da prisão, denunciamos este envolvimento e cobramos a prisão dos mandantes.

“A prisão dos dois policiais deixa evidente o envolvimento do Estado brasileiro nesse assassinato, que tinha o objetivo de pôr fim à luta de Marielle contra as milícias e sua tentativa de demonstrar a ligação profunda que essa tem com os governantes do estado do Rio de Janeiro. […] A prisões da manhã de hoje são um passo importante, conquistado pela pressão popular e pela atuação dos movimentos sociais pela justiça a Marielle. Nossa luta precisa seguir, Lessa e Queiróz puxaram o gatilho, agora precisam ser indiciados os mandantes, aqueles que encomendaram a calada da voz.”

https://averdade.org.br/2019/03/confirmado-estado-brasileiro-esta-envolvido-no-assassinato-de-marielle-e-anderson/

Março de 2019: Um ano cobrando por justiça

(Foto: Reprodução)

Mulheres batizam ponte no DF com o nome de Marielle Franco

No dia que marcou um ano da morte da vereadora, cobrimos intervenções de movimentos sociais cobrando justiça para o crime. Militantes renomearam uma ponte no DF em homenagem a Marielle.

“No dia em que se completam 365 dias do assassinato da vereadora Marielle Franco, o povo ainda não conseguiu a resposta da pergunta: ‘quais foram os mandantes do crime?’. Desde essa atrocidade, em que também foi morto Anderson Gomes, Marielle se tornou um símbolo ainda maior de luta e resistência de mulheres em todo o Brasil e no mundo.”

https://averdade.org.br/2019/03/mulheres-batizam-ponte-no-df-com-o-nome-de-marielle-franco/

Janeiro de 2020: A luta por memória continua

(Foto: Reprodução)

Governador de Brasília veta praça de ser batizada com o nome de Marielle

Movimentos sociais continuam lutando pela memória de Marielle. Na capital do Brasil, o Governador Ibaneis Rocha (MDB) vetou projeto que homenagearia Marielle. Apesar do linguajar técnico, a razão do governador aliado de Bolsonaro foi política.

“Em várias cidades do Brasil e pelo mundo, monumentos, praças, ruas e avenidas foram batizadas com o nome de Marielle Franco, ex-vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL, assassinada em 14 de março de 2018 junto com o motorista Anderson Gomes. Isso se deve pelo fato de Marielle representar um símbolo na luta contra as milícias do estado do Rio de Janeiro além de representar risco a políticos e empresários poderosos.”

https://averdade.org.br/2020/01/governador-de-brasilia-veta-praca-de-ser-batizada-com-nome-de-marielle-franco/

Julho de 2023: Marielle segue lutando contra a violência no Rio de Janeiro

(Foto: Arquivo JAV)

Avanço nas investigações do assassinato de Marielle mostra indústria da morte

A delação do ex-PM Élcio Queiroz, o motorista de Lessa na noite do crime, deu detalhes do passo a passo para assassinar Marielle e trouxe à tona a atuação do “Escritório do Crime” e outros grupos de pistoleiros. O avanço das investigações do crime que vitimou Marielle, desvendou uma cadeia de assassinatos envolvendo bicheiros e milicianos no Rio de Janeiro.

“Uma submetralhadora desviada do BOPE da PMRJ, um desmanche de carros controlado por máfias criminosas, responsáveis por dirigir o carro do assassino, sumir com provas do crime são alguns dos elementos revelados pela Polícia Federal, ontem (24), que surgiram na investigação do brutal assassinato da vereadora socialista Marielle Franco, ocorrido em 2018.”

A delação também escancarou domínio político das milícias no RJ, dando indícios claros de quem seriam os maiores interessados no silenciamento de Marielle.

“Mais do um estado paralelo ou simples criminosos, os milicianos são hoje o próprio poder político no estado. Toda a política de segurança, que no RJ é um negócio de bilhões, está nas mãos destes personagens. Hoje, existe uma indústria da morte no Rio, responsável pela morte de milhares de pessoas todos os anos e que viu em Marielle um alvo que ameaçava seu poder político no estado. […] A delação de Élcio deixa claro que não foi ódio pessoal que levou ao assassinato, mas um projeto político que hoje governo o RJ. Ainda falta a PF responder às duas perguntas que não querem calar: Quem mandou matar Marielle e por que estamos há mais de 5 anos sem resposta?”

https://averdade.org.br/2023/07/avanco-nas-investigacoes-do-assassinato-de-marielle-mostram-industria-da-morte-no-rj/

Julho de 2023: Edição nº 277 do jornal A Verdade cobra justiça por Marielle e Anderson

(Foto: Reprodução)

Justiça por Marielle e Anderson!

A edição impressa que sucedeu a confirmação das milícias e políticos do Rio de Janeiro no assassinato de Marielle realizou uma cobertura especial ao caso. Mais uma vez relembramos a vida e luta de Marielle e cobramos justiça.

“A trajetória pessoal e política de Marielle sempre foi marcada pela luta contra as desigualdades, o racismo e a violência de gênero. O feminicídio político da vereadora expôs uma rede miliciana de característica racista e misógina, que possui relação com os poderes do Estado e marcou a história política nacional e internacional.”

Na matéria, ressaltamos a necessidade de lutar por justiça e a força de Marielle como semente para a luta popular.

“Em um dos seus últimos discursos no Plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Marielle Franco disse: “Não serei interrompida”.

Apesar de seu assassinato ter sido uma tentativa de calar tudo o que Marielle representava, seu legado e sua luta política permanecem vivos. Quem achou que, matando Marielle, calaria os que lutam, perdeu! Sua memória, assim como a de várias outras lutadoras, serve de combustível para todas as pessoas que lutam contra o fascismo, a violência política e as injustiças sociais.

Nossa resposta deve ser espalhar pelo Brasil um chamado para resistirmos à brutalidade, para ocuparmos e transformarmos os espaços de poder. Um chamado coletivo para falar de Marielle, que é também falar sobre um projeto de sociedade que ela representava. Um chamado coletivo para denunciar sua execução, pois falar disso é denunciar o sistema que a matou. 

Vamos seguir lutando pela punição dos fascistas mandantes desse crime e de todos os fascistas que atentam contra a democracia! Não permitiremos que as vozes do nosso povo sejam interrompidas!”

https://averdade.org.br/2023/08/justica-por-marielle-e-anderson/

Julho de 2023: Olhando para o caso ainda mais profundamente

(Foto: Reprodução)

Bruno Paes Manso: “Alguém queria Marielle morta. Foi uma questão política.”

Depois da delação de Élcio Queiroz, fomos olhar para o caso ainda mais profundamente, para isso conversamos com Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, autor do livro “A República das Milícias”. Quando perguntado se teriam interesses do Estado no assassinato da Marielle e na falta de avanço nas investigações, Bruno denunciou o interesse de poderosos e do próprio Domingos Brasão no assassinato de Marielle. Os fatos seriam confirmados posteriormente.

“Segundo, tem uma história de convivência de corporações com os grupos que mataram Marielle. Com o caso Marielle, a gente fica sabendo de um grupo que matava há dez anos impunemente, responsável por uma série de mortes que aconteceram e que nunca foram investigadas e só começaram a ser por causa da investigação sobre Marielle. Então, você tem uma máquina muito comprometida. Imagino que até os investigadores compromissados tenham dificuldade de trabalhar em um lugar onde você não sabe quem é amigo e quem é inimigo. Isso em um contexto do Rio de Janeiro, que envolve autoridades ligadas a grandes capos (chefes) do jogo do bicho, pessoas muito influentes na polícia e com ligações com as milícias.” 

E continua. 

“Tem vários grupos dentro do Estado que dificultam [as investigações]. O Cláudio Castro, por exemplo, fez lobby para tirar o superintendente do Rio de Janeiro que tinha feito o inquérito da Raquel Dodge e denunciado Domingos Brazão. Ele vai assumir a superintendência do Rio, na Polícia Federal, e o Cláudio Castro tenta tirá-lo. Então você tem grupos que acabam sempre trabalhando.”

Bruno ainda detalhou a linha de investigação que levava a Domingos Brasão, que naquele momento havia sido abandonada e que posteriormente seria retomada pela Polícia Federal e a os irmãos Brasão presos como mandantes do crime.

“No caso do Élcio Queiroz, ele rompe esse pacto de silêncio, assume o caso e dá detalhes de como foi o crime, o que já é um grande avanço. Isso já é bem importante porque o caso não foi a júri ainda e temia-se que eles próprios fossem inocentados. Então, você já tem uma confissão e um detalhamento do crime. O tal do Macalé, que surge no depoimento do Élcio Queiroz, era um miliciano de Oswaldo Cruz, na região da Zona Norte do Rio, que foi citado na CPI das Milícias como chefe das desta que é uma região de domínio do Domingos Brazão [foi deputado estadual no RJ e hoje é conselheiro do TCE] e do Chiquinho Brazão. Isso é uma hipótese que já tinha sido levantada. O Marcelo Freixo já suspeitava que a morte da Marielle poderia ter sido uma represália por causa de duas operações da Polícia Federal, que aconteceram ainda nos desdobramentos da Lava Jato, em 2017.”

Em outro momento, Bruno se aprofundou ainda mais no caso.

“A operação chamava “Quinto de Ouro”, que começou depois que um funcionário da Andrade Gutierrez contou que o Tribunal de Contas do Rio recebia até 20% de propina para julgar favorável a esquemas. São presos cinco conselheiros, entre eles o Domingos Brazão. […] Iriam entrar três funcionários de carreira, só que eles não entram. Na “Hora H”, o Pezão indica Edson Albertassi, um deputado da base do Cabral, do velho esquema da Assembleia Legislativa do Rio e Freixo fala “Não é possível, de novo?”, e vai fazer um depoimento na Tribuna da Assembleia. […] Logo em seguida vem uma segunda fase, que é a Operação Cadeia Velha, que prende toda essa galera da Assembleia Legislativa: Paulo Melo, Picciani, Edson Albertassi, o filho do Picciani, prende geral. [A denuncia] foi importante porque se ele assumisse o cargo de conselheiro, teria uma questão de foro privilegiado e a Procuradoria Geral não conseguiria fazer essa operação. A suspeita do Freixo é que, por causa disso, mataram a Marielle, que inclusive foi com ele na reunião com a Procuradoria Geral, como retaliação política. Mas com o passar do tempo essa hipótese acabou ficando de lado, o Claudio Castro ganha, as promotoras saem e a coisa morre. Agora, com esse depoimento, essa hipótese volta à tona.”

https://averdade.org.br/2023/08/bruno-paes-manso-alguem-queria-marielle-morta-foi-uma-questao-politica/

Março de 2024: A prisão dos mandantes

(Foto: Reprodução)

PF prende 3 acusados de serem os mandantes do assassinato de Marielle Franco

Seis anos após assassinato de Marielle e Anderson, após seis anos de luta por justiça por Marielle e Anderson, na última semana a Polícia Federal Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do RJ, Chiquinho Brazão, deputado federal (União Brasil – RJ), e o ex-chefe de Polícia na época do assassinato, Rivaldo Barbosa. As prisões confirmaram as relações entre o Estado e as milícias no Rio de Janeiro para explorar o povo trabalhador. 

“A motivação para o crime brutal foi a oposição e a luta de Marielle em defesa da moradia popular para o povo trabalhador do Rio. A vereadora se opunha ao controle das milícias do mercado imobiliário da Zona Oeste e Norte do Rio e lutava contra projetos de lei que aumentavam o poder da milícia na especulação imobiliária. A revelação dos mandantes é mais uma prova do envolvimento dos fascistas e do centrão com as milícias do Rio de Janeiro. Um chefe de Polícia, um deputado e um conselheiro do TCE serem presos por mandarem milicianos assassinarem uma vereadora que lutava pelo povo trabalhador é uma demonstração de como o chamado “crime organizado” é na realidade parte do poder político do Estado hoje no RJ.”

https://averdade.org.br/2024/03/pf-prende-3-acusados-de-serem-os-mandantes-do-assassinato-de-marielle-franco/

A próxima edição impressa do Jornal A Verdade (nº 289) trará matéria especial sobre o desfecho do caso. Não perca.

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