No estado cuja taxa de desemprego é a 5° maior do Brasil, alta especulação imobiliária e fome crescente, estudo recente aponta Natal como a capital nordestina com maior porcentagem de pessoas diagnosticadas com depressão.
Núcleo UP Zona Sul | Natal (RN)
BRASIL — Em um estudo realizado pelo Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis no final de 2023, Natal foi a capital nordestina com maiores diagnósticos de depressão entre seus cidadãos, com uma média de 13,2% (cerca de 117 mil casos) entre maiores de 18 anos. Os dados também revelam um crescimento de 1,4% nos diagnósticos na capital desde o último levantamento feito pelo Ministério da Saúde em 2021.
A capital do Rio Grande do Norte também foi a quinta capital do país com maior índice de desemprego (10,1%) no último semestre de 2023, acompanhada por uma média salarial significativamente inferior à do restante do país. Essas condições exercem uma influência direta na saúde mental dos trabalhadores potiguares.
A ‘Cidade do Sol’ apresenta um alto número de trabalhadores autônomos e um aumento no processo de “uberização”, que surge, na guinada neoliberal, com uma proposta de “inovação” por permitir ao trabalhador (o qual se denomina de “empreendedor”) a flexibilidade de definir “seus próprios horários para ganhar dinheiro”. No entanto, a lógica por trás é nefasta: tem-se um trabalhador que está dispondo de seus próprios recursos (veículo e gasolina), para ganhar valores irrisórios, haja vista a lucratividade descontada pela empresa, caindo por terra o discurso de que pode fazer seu próprio horário, afinal, precisará trabalhar por horas a fio para conseguir ganhar o mínimo, sem segurança nenhuma caso se acidente ou adoeça, e que só se submete a esse regime por não ter escolha. Trata-se, assim, de um modelo que tem em sua base a precarização do trabalho, submetendo os trabalhadores à fragilização física e psicológica.
Além disso, o custo de vida na cidade de Natal é incompatível com a realidade do trabalhador comum. Em dezembro de 2023, o custo de vida para 1 pessoa em Natal era de R$4.182, contrastando com o salário mínimo de R$1.320 na época e que sofreu reajuste de apenas 6,9% este ano. Em contrapartida, os 10% mais ricos da cidade ganham cerca de 47 vezes a renda dos 40% mais pobres, colocando Natal no primeiro lugar de capitais mais desiguais do nordeste. Entre as preocupações da maioria da população, há a insegurança financeira, o desemprego e o medo de não conseguir se alimentar.
“Minha avó tem 80 anos e é diagnosticada com depressão, transtorno bipolar, entre outras coisas. Ela não teve uma vida fácil. Chegou a passar fome por causa do descuido dos pais, cuidava dos irmãos mais novos e passou por muita coisa, trabalhou muito desde muito nova. Claro que deve ter o fator genético, mas com certeza os traumas e pelejas de uma vida toda e sem acesso à tratamento até a velhice influenciaram e muito. Se ela tivesse tido acesso à tratamento e uma vida minimamente digna desde cedo, tenho certeza que a condição dela seria mais leve hoje. Acredito que sempre houve gente doente por conta das dificuldades que passou durante a vida, mas nossa juventude está adoecendo cada vez mais rápido, porque esse sistema nos adoece, mata nossos sonhos e ainda tira tudo que deveria ser direito básico, e tudo cada vez mais escancarado e mais rápido. Como não adoecer vivendo no mundo do jeito que está?” relata Alice Morais, estudante e militante da Unidade Popular pelo socialismo.
O capitalismo destrói a saúde mental da classe trabalhadora
No sistema capitalista, a classe trabalhadora não tem a possibilidade de viver uma vida culta e plena, assim, tampouco tem acesso à saúde, esta que no capitalismo é transformada em produto e mercadoria.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a previsão é de que até 2030 a depressão seja a doença mais comum do mundo, entre os diversos fatores isso contribuirá para o aumento do número de pessoas que sofrerão dessa condição; essa realidade está relacionada a um sistema que oprime e produz sofrimento. O excesso de trabalho; cobranças e exigências altas atreladas à lógica da competição entre as pessoas e menos qualidade de vida têm gerado transtornos como depressão e ansiedade.
Em Natal, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do município (SME-Natal), em 2023, o número de procura por atendimento voltado à saúde mental aumentou mais de 40% após a pandemia de COVID-19. E, aqui é importante mencionar, embora muitas pessoas tenham sidas afetadas no período da pandemia com o desenvolvimento de transtornos, especialistas informam que já haviam indícios de que as pessoas iriam adoecer e desenvolver algum tipo de transtorno mental, diante de uma lógica de trabalho que causa sobrecarga e sofrimento psíquico.
No Brasil, quase metade das vítimas sofrem de ansiedade ou depressão. É o que demonstra o relatório, “esgotadas: o empobrecimento, a sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico das mulheres“, realizado em 2023 pela ONG Think Olga, onde constatou-se que 45% das mulheres brasileiras possuem diagnóstico de ansiedade, depressão ou outro transtorno mental em um cenário pós-pandemia. O relatório para produção dessa pesquisa contou com mais de 1000 mulheres entrevistadas com idade entre 18 e 65 anos, contemplando todos os estados do país.
Os resultados dessas pesquisas refletem os impactos de uma sociedade adoecida pelo capitalismo que não preza pelo bem-estar do ser humano e como consequência há um adoecimento de forma acentuada na população.
Ainda de acordo com o relatório, outro item que merece destaque é insatisfação e o descontentamento da sobrecarga de trabalho doméstico como também as jornadas excessivas de trabalho. As mulheres são submetidas a mais horas de trabalhos domésticos e nas tarefas de cuidados; submetidas a duplas ou triplas jornadas de trabalho.
Portanto, não se trata de fazer uma responsabilização do indivíduo e tratar o transtorno mental como algo individual; mas sim toda uma estrutura que visa atender as demandas e os interesses da classe dominante deste país. Os problemas de saúde mental possuem influências de aspectos políticos e econômicos sob o capitalismo nas nossas relações com o trabalho e o convívio em sociedade.
O fato é que o capitalismo está destruindo nossa saúde mental. A violência desse sistema impõe ao esgotamento físico e mental da classe trabalhadora, enquanto ricos cada vez mais aumentam suas riquezas. Os dados, fatos e evidências demonstram que cada vez mais os números de pessoas diagnosticadas e afastadas dos postos de trabalhos por causa de transtornos mentais são preocupantes. Por isso, é urgente o enfrentamento deste sistema que é uma “máquina de moer gente” que nos adoece e mata. A contínua construção da consciência de classe e o trabalho coletivo são fundamentais. É necessário lutar por uma nova sociedade: uma sociedade socialista, em que o povo esteja no poder.
Pelo poder popular e pelo socialismo! Filie-se à Unidade Popular!
Fontes:
https://lab.thinkolga.com/esgotadas/
https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/svsa/vigitel/vigitel-brasil-2023-vigilancia-de-fatores-de-risco-e-protecao-para-doencas-cronicas-por-inquerito-telefonico