Os servidores técnicos-administrativos em educação (TAEs) entraram em greve nacional em março. Em seguida, somaram-se os professores. Entre as principais reivindicações estão: aumento salarial; reformulação da carreira; recomposição do orçamento das universidades e institutos federais. Para entendermos o desenvolvimento e os objetivos da greve, o jornal A Verdade entrevistou militantes do Movimento Luta de Classes (MLC) que atuam nas entidades nacionais que dirigem a ação.
Esteban Crescente | Coord. Geral do Sintufrj
TRABALHADORES – Nos últimos anos, especialmente após o golpe de 2016, os servidores públicos federais enfrentam dificuldades para terem aumento salarial. Em 2023, houve um aumento emergencial, mas com o Centrão e a burguesia disputando o Orçamento da União, ficou evidente para os servidores a dificuldade que seria conquistar um reajuste salarial em 2024.
Diante desse cenário, os servidores técnicos-administrativos em educação (TAEs) iniciaram uma greve nacional em março. Em seguida, somaram-se os professores. Entre as principais reivindicações estão: aumento salarial; reformulação da carreira; recomposição do orçamento das universidades e institutos federais. Após inúmeras tentativas de negociações, as propostas do Governo Federal foram rejeitadas. A luta ganhou força e, até o fechamento desta edição, são 70 universidades e mais de 500 campi institutos federais paralisados em todo o país.
No dia 17 de abril, cerca de 10 mil pessoas participaram de uma grande marcha pela educação que encheu a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, seguida de uma aula pública em frente ao Ministério da Educação. Cícero Lopes, 69 anos, professor aposentado de Agronomia da UnB presente na passeata, afirma: “Participo das greves desde 1982. A gente nunca teve uma reposição salarial sem uma movimentação, sem luta e sem greve. Essa posição de 0% do Governo para 2024 é vergonhosa”.
Para entendermos o desenvolvimento e os objetivos dessa greve, o jornal A Verdade entrevistou militantes do Movimento Luta de Classes (MLC) que atuam nas entidades nacionais que dirigem a ação.
Os TAEs entraram em greve, impulsionando o movimento de servidores e da educação, e quais foram os motivos?
Francisco Dias, da Comissão de Supervisão de Carreira do Sinasefe – Há vários motivos que levaram os TAEs à greve, como a sobrecarga de trabalho, o que gera uma grande quantidade de afastamentos por saúde; a diferença de valorização entre as carreiras do Poder Executivo, pois os da educação recebem os piores salários; a diferença gigantesca em comparação com o valor dos auxílios-creche, alimentação e saúde entre servidores do Legislativo e Judiciário.
O fato mais importante para a greve foi a desvalorização dos salários. Após seis anos sem nenhum reajuste, a inflação levou os servidores ao empobrecimento e ao endividamento. Não por acaso, esta foi uma das bases sociais que mais esteve nas ruas pela derrubada do Governo Bolsonaro antes das eleições.
Nesta greve nacional, os TAEs tomaram a dianteira na luta para recuperar o seu poder de compra dos seus salários. O movimento cresce no país, colocando nas redes e nas ruas trabalhadoras e trabalhadores que estão dispostos a radicalizar suas ações, caso o governo não atenda a pauta.
Quais motivos levaram os professores das universidades à greve?
Aroldo Félix, diretor do Andes-SN – As professoras e professores da base do Andes-SN aprovaram no seu 42° Congresso Nacional, em fevereiro, o fortalecimento da greve da educação federal, já em construção naquele momento. Essa decisão foi tomada porque, ao longo de 2023, o Governo só enrolou os servidores públicos nas mesas de negociação. Para piorar, insistiu com 0% de reajuste para 2024 e míseros 4,5% para 2025 e 2026. Muito distante da nossa proposta para recompor as perdas inflacionárias dos últimos sete anos, que é de 22,71% em três parcelas de 7,06%.
Além disso, a nossa luta é pela recomposição do orçamento das universidades e institutos federais, questão diretamente relacionada com a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão, das condições de trabalho e da política de permanência estudantil.
Por tudo isso, o Andes-SN orienta seus sindicatos filiados a entrar em greve. As assembleias têm sido as mais participativas dos últimos tempos, com mais de 400 professores presentes em algumas delas. No dia 17 de abril, cerca de 10 mil servidores públicos organizaram uma grande caravana a Brasília, que pressionou o Governo Federal a apresentar uma nova proposta. Esta veio um pouco melhor, porém ainda insuficiente para nossas reivindicações.
Como o MLC tem atuado nas entidades de base durante a greve?
Clodoaldo Gomes, coordenador de Educação da Fasubra – O MLC está presente nas direções das entidades nacionais Fasubra, Sinasefe e Andes, que representam as trabalhadoras e trabalhadores das instituições de ensino federal. Fruto de um trabalho de quase uma década com debate coletivo em nível nacional e agitação e propaganda de nossa linha, venda do jornal A Verdade nas plenárias e assembleias de base.
Prezamos pela combatividade, independência de classe frente ao governo e senso de unidade de ação frente às divergências internas no movimento sindical. Periodicamente, lançamos panfletos nas bases e realizamos plenárias presenciais ou virtuais.
Os sindicatos filiados à Fasubra que contam com nossa presença na direção protagonizaram as maiores assembleias de deflagração de greve dos últimos anos, como o Sintufrj, com 700 pessoas, e Sintespb, com 400. Além disso, temos trabalhos de destaque na base UFRGS, Cefet-MG, UFMG, UFES, UFAL, UFABC, etc.
Nas bases dos institutos, dirigidas pelo Sinasefe, atuamos na linha de frente no Sintietfal, Sinasefe-BA, Sinasefe-RN e Sintifrj.
Recentemente, passamos a compor também a direção nacional do Andes em uma frente unitária, o que permitiu crescermos nossa influência entre os professores universitários. Nossa atuação preza pela unidade com os estudantes e trabalhadores terceirizados das instituições de ensino, pois somos todos membros da classe trabalhadora.
Porque o Governo Federal não apresenta solução para a demanda dos servidores e da educação?
Lenilda Luna, oposição sindical ao Sintufal – O Governo Lula cede principalmente aos setores do empresariado, do agronegócio e do sistema financeiro, que cobram o atendimento aos seus interesses. Além disso, o Centrão, liderado por Arthur Lira, suga o Orçamento com emendas parlamentares recordes, em busca dos interesses eleitoreiros.
Medidas estruturantes precisam ser tomadas para atender as pautas populares. É urgente a revogação do Arcabouço Fiscal, que limita o investimento em políticas públicas, assim como as revogações da Reforma Trabalhista e da Previdência, que retiraram direitos históricos das trabalhadoras e dos trabalhadores.
Nesse contexto, é preciso disputar as pautas da classe trabalhadora nas ruas. A educação só será prioridade se as categorias que sustentam o funcionamento das universidades e institutos federais pressionarem com amplas mobilizações e com o fortalecimento da greve. Desde o início, o MLC vem alertando que a negociação vai depender da nossa capacidade de mobilização.
Matéria publicada na edição nº 291 do Jornal A Verdade.