Exército Brasileiro quer comprar 36 veículos blindados da Elbit Systems, alegando que o modelo já foi “testado em campo”. Na prática, com o aval de Lula, militares querem trazer para o Brasil as armas que cometem o genocídio contra o povo palestino
Heron Barroso | Redação
Em meio à matança promovida pelo Exército de Israel contra o povo palestino, que já tirou a vida de mais de 35 mil pessoas (a maior parte delas, mulheres e crianças), as Forças Armadas do Brasil não tiveram o menor pudor em anunciar o fechamento de um contrato com a empresa militar israelense Elbit Systems para a compra de 36 veículos blindados de combate obuseiros, um negócio que pode chegar a R$ 1 bilhão.
Esses equipamentos são considerados armamentos pesados e têm alto poder destrutivo. O modelo comprado pelo Brasil possui o chamado “padrão Otan”, com projéteis de 155 mm, maior poder de fogo e “testado em campo”, ou seja, já foi utilizado em confrontos reais contra a resistência palestina. Como o nosso país não está em guerra com ninguém, essas armas serão usadas pelo Exército contra o próprio povo, nas favelas e periferias, como já aconteceu em inúmeras operações de Garantia da Lei e da Ordem (LGO), e para reprimir greves e protestos.
A Elbit Systems é uma das principais fornecedoras de equipamentos militares e sistemas de vigilância de Israel, que hoje são empregados diretamente na guerra contra a Palestina e na ocupação ilegal que o governo sionista promove em Gaza e na Cisjordânia. No Brasil, a empresa israelense possui uma subsidiária chamada AEL, com sede em Porto Alegre, e tem diversos contratos com governos e instituições públicas e privadas do país. Desde o início da guerra em Gaza, os lucros da Elbit dispararam.
A compra feita pelo Exército foi autorizada pelo governo federal e contou com o aval direto do presidente Lula (PT), a despeito dos protestos e alertas sobre o significado de financiar uma empresa envolvida com os crimes cometidos por Israel. Nem mesmo o fato de o governo israelense ter declarado Lula persona non grata, por comparar o massacre em Gaza ao Holocausto ocorrido na Segunda Guerra Mundial, parece ter sido levado em consideração pelo presidente para o fechamento do contrato.
O anúncio do negócio causou revolta em todos que defendem os direitos humanos e o fim do massacre. O coletivo Vozes Judaicas por Libertação e a Anistia Internacional enviaram uma carta à Presidência da República pedindo a suspensão imediata de todos os acordos no âmbito da Defesa e das licenças de exportação e importação de equipamento militar mantidos com Israel e empresas israelenses. “Cremos que o Governo brasileiro deve tomar medidas concretas e imediatas no sentido de evitar a perpetuação das violações ao Direito Internacional por Israel, afastando-se de qualquer cooperação com tais violações”, afirma o documento, que também exige o encerramento “imediato de todas as transações comerciais com empresas israelenses para a compra ou venda de armas” e que o Brasil “coloque em prática um embargo de armamentos a Israel”.
Já Maren Mantovani, integrante do Movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), que articula o boicote econômico ao Estado de Israel, criticou a falta de coerência do Governo brasileiro. “De um lado, temos a condenação do que Israel está fazendo, mas, do outro, temos o fato de que o Brasil está firmando dois contratos israelenses militares novos, de quase R$ 1 bilhão. Um dinheiro que poderia ser convertido aos salários para os professores brasileiros”, disse. Para ela, “financiar essas empresas e a máquina militar israelense, no mesmo momento em que se reconhece que há um genocídio, é no mínimo uma dissonância entre o que se fala e o que se faz. O grande problema que temos que resolver agora é que, se o Brasil realmente é um amigo da Palestina, é preciso acabar com essa cumplicidade”.
De fato, é inaceitável o presidente criticar os governos dos países ricos que se comportam como cúmplices do genocídio palestino, ao fornecerem armas e apoio financeiro para Israel, enquanto seu próprio governo financia empresas que colaboram e lucram com o massacre de milhares de pessoas inocentes.
É preciso que as palavras correspondam às ações. O Brasil não precisa de armas de guerra, mas sim de mais recursos para a saúde, habitação, creches, escolas e para ajudar a população gaúcha atingida pelas fortes chuvas a reconstruir suas vidas. Usar dinheiro público para financiar a máquina de guerra fascista de Israel é sujar as próprias mãos com o sangue palestino.
Matéria publicada na edição nº 294 do jornal A Verdade
Consideração nenhuma com o povo palestino e o povo brasileiro