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sábado, 2 de novembro de 2024

O impacto da alimentação na saúde mental

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É comum afirmarmos que uma dieta adequada influencia diretamente na qualidade de vida, fornecendo os nutrientes necessários para o melhor funcionamento do corpo. No entanto, pouco se fala sobre a importância de uma alimentação saudável e como isso impacta o nosso corpo e a saúde mental do nosso povo.

Pedro Noah | Cabo de Santo Agostinho – PE


SAÚDE – É comum falarmos que manter uma alimentação adequada influencia diretamente na nossa qualidade de vida, em virtude de proporcionar os nutrientes necessários para o melhor funcionamento do nosso corpo. Há quem se preocupe com a alimentação para fins de perda de peso, redução do índice glicêmico, da hipertensão arterial ou do colesterol considerado ruim.

No entanto, pouco falamos da importância de uma alimentação saudável para o eixo cérebro-intestino: uma conexão bilateral entre o sistema nervoso central e o trato gastrointestinal, cujos respectivos órgãos consistem no primeiro e no segundo centro de controle do corpo humano que acabam por atuar conjuntamente em nossa saúde mental. 

Alimentação e saúde mental no capitalismo 

Enquanto 64,2 milhões de brasileiros passam fome (A Verdade, n° 292), a outra parcela da classe trabalhadora deste país sofre com nutrição inadequada causada pela produção capitalista. Nesse sistema, a alimentação reflete a dialética social das diferenças de classes: ao invés do alimento ser distribuído pela necessidade nutricional de quem o produz, ele é transformado em uma mercadoria para o lucro das classes dominantes.

Sendo assim, a indústria alimentícia, por meio de grandes tecnologias, gera excessivamente produtos baseados em todo tipo de ingredientes de baixo custo e insumos químicos de fácil acesso, ainda que reconhecidamente sejam tóxicos e cancerígenos para a nossa saúde. É isso que comemos, quando conseguimos pagar.

As questões alimentares são complexas, vão desde a produção desenfreada e o desperdício de alimentos até o acesso ao saneamento básico e a água tratada. Esses fatores garantem o preparo de qualquer refeição, é verdade, mas antes de tudo, eles próprios também estão relacionados à garantia da qualidade dos alimentos.

Na mesma medida, os transtornos mentais também possuem variadas causas. Entretanto, uma dieta de qualidade tem sido apontada como ferramenta na prevenção e no combate aos problemas da mente. Em 2020, durante a pandemia de Covid-19, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relatou um aumento em 17% do mercado brasileiro de fast foods e um decréscimo no consumo de arroz e feijão, sendo representados por 72,9% e 59,7% cada.

O alto consumo desses ultraprocessados, alimentos gordurosos e altos em açúcares industriais estão relacionados à maior probabilidade de desenvolvermos transtornos ansiosos, depressivos e Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), distúrbio neurológico de ocorrência comum no Brasil. 

Hoje, o Brasil é um dos países que alimenta o planeta (A Verdade, n° 276), ao passo que possuímos a população mais deprimida e ansiosa da América Latina, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), que realizou, em 2022, a maior revisão sobre a saúde mental global desde a virada do século. 

São estimados 11 milhões de brasileiros deprimidos (5,8%) e 18,6 milhões de ansiosos (9,3%). No mesmo ano, segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), 209.124 pessoas precisaram se afastar do trabalho devido aos transtornos mentais. 

Como a alimentação atua em nosso corpo?

O cérebro humano consome em torno de 20% de toda a nossa energia e tem como tarefa emitir comandos para o restante do corpo. Fica a cargo do trato gastrointestinal metabolizar e também produzir muitos neurotransmissores, isto é, as substâncias químicas liberadas pelos neurônios que carregam informações necessárias para que as células dos demais órgãos recebam os comandos dados pelo cérebro. 

Uma alimentação inflamatória com ingestão excessiva de ultraprocessados, açúcar adicionado, gordura saturada e com baixo consumo de cereais, frutas e vegetais, leva a deficiências de vitaminas e minerais, causando uma duplicação descontrolada na quantidade desses microrganismos. Com isso, a saúde intestinal se desregula e a transmissão de sinais entre o eixo cérebro-intestino é comprometida. 

Ou seja, os neurotransmissores que são sintetizados no intestino são alterados, aumentando os riscos de desenvolvermos distúrbios de humor, tais como ansiedade e depressão. O principal caso é o da serotonina, que regula os níveis bem-estar, apetite e padrões de sono: cerca de 95% da produção desse neurotransmissor provém do trato gastrointestinal, uma vez que o aminoácido necessário para metabolizá-la vem de fontes alimentares. 

Ao mesmo tempo, a propaganda capitalista nos arrasta para um ciclo vicioso de preocupação superficial com a estética. São horas na academia, inúmeros procedimentos cirúrgicos e intervenções na pele. A alimentação passa para o primeiro plano apenas quando se busca pelo shape perfeito, à medida que observamos um adoecimento psicológico em massa da classe trabalhadora e o crescimento do lucro de uma elite financeira que come do bom e do melhor. 

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