UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Governo do RN se nega a construir centro de referência da mulher

Outros Artigos

Descumprindo acordo judicial, Governo do RN ofereceu espaço provisório inseguro e inadequado para o trabalho de atendimento de mulheres em situação de violência realizado pelo Movimento de Mulheres Olga Benário. Poder Executivo também se recusa a construir sede definitiva para a Ocupação Anatália de Souza Melo Alves

Nota do Movimento de Mulheres Olga Benário – RN


Na cidade de Natal (RN), a Ocupação de Mulheres Anatália de Souza Melo Alves nasceu em 25 de novembro de 2023, quando o Movimento de Mulheres Olga Benário ocupou o antigo prédio da Faculdade de Contábeis e Atuariais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

A ação foi fruto de uma decisão ousada: criar na capital potiguar uma casa de referência para combater os casos de violência e feminicídio, que tem aumentado a cada dia. No último ano, só no Rio Grande do Norte, as tentativas de feminicídio cresceram em 88%. As denúncias de violência contra a mulher também tiveram uma alta de quase 50%. No entanto, o Estado pouco tem feito para reverter a situação. De acordo com o Tribunal de Contas da União, metade das legislações e normas para proteção da vida das mulheres estão engavetadas, sem sair do papel.

Os serviços de atendimento às mulheres na cidade sofrem com o sucateamento. É o caso do Centro de Referência à Mulher Elizabeth Nasser, serviço municipal em que as trabalhadoras estão sobrecarregadas e recebem pouco apoio da prefeitura da cidade de Natal, capital do estado.

Com pouco mais de duas semanas de ocupação, o Movimento de Mulheres Olga Benário conquistou duas importantes vitórias em uma mesa de negociação judicial realizada em dezembro de 2023. Nessa mesa, além do movimento, estiveram presentes o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, a Superintendência do Patrimônio da União, a Procuradoria Geral do Estado, a Procuradoria Geral do Município, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e o Ministério Público Federal.

A primeira dessas vitórias foi a cessão, pela União, de um local para a construção de um centro de referência para mulheres, que será administrado pelo Movimento de Mulheres Olga Benário. Ficou definido na reunião que a construção desse espaço definitivo será financiada por meio de uma emenda parlamentar, sendo esta aplicada pelo governo estadual do RN.

Além disso, enquanto o novo prédio estivesse em processo de construção, o Governo do Estado teria a obrigação de prover um espaço provisório seguro para que o movimento continuasse a atender mulheres em situação de violência, salvando suas vidas.

9 meses de descaso

Após o acordo judicial, a Ocupação Anatália de Souza foi realocada para a antiga Delegacia da Mulher, que estava fechada há 6 anos, sem qualquer manutenção estrutural de suas instalações pelo governo estadual.

A consequência desse descaso é que falta água diariamente na ocupação, as infiltrações levam a alagamentos quando há chuva, e os dias de sol são marcados por um calor intenso devido à falta de ventilação. Além disso, a iluminação é precária, faltando luz com frequência. Em janeiro de 2024, houve uma explosão do disjuntor, escancarando os perigos do espaço para as mulheres.

Em conversa com o movimento, a própria representação do Governo do Estado afirmou que existe um laudo do Corpo de Bombeiros condenando o espaço para onde a ocupação foi realocada, devido às más estruturas para atendimento ao público.

Diante dessa condições precárias, o movimento procurou diálogo, durante 9 meses, com o Governo do RN, especialmente com  o Gabinete Civil e a SEMJIDH, secretaria responsável pelas políticas para as mulheres, visando a realocação da ocupação. No entanto, não houve qualquer resolução.

Isso demonstra uma decisão política do governo de descaso com a vida das mulheres, ao se negar a oferecer um espaço de referência digno para que o Movimento de Mulheres Olga Benário atenda trabalhadoras que sofrem diariamente com a exploração e a violência.

Recusa em ceder espaço

Além da falta de interesse em encaminhar a realocação da Ocupação Anatália de Souza Melo Alves para um local adequado, sem infiltrações, com energia e água encanada, o Governo do RN aparentemente se recusa a cumprir com o acordo judicial firmado com o Movimento de Mulheres Olga Benário.

Nos últimos nove meses, o movimento também tem tentado dialogar com a SEMJIDH para que a secretaria organize a solicitação do imóvel doado pela Superintendência do Patrimônio da União para a construção do centro de referência. No entanto, até o momento, não houve qualquer movimentação por parte da pasta para realizá-lo. Pelo contrário, a SEMJIDH se negou diversas vezes a realizar a solicitação, afirmando que o acordo judicial era ilegal e que não havia concordância por parte da secretaria na realização da decisão.

Em outras palavras, fica claro o desinteresse do Governo do Estado em cumprir o acordo judicial que ele mesmo assinou. Em consequência disso, o Executivo estadual prejudica o andamento da construção do centro de referência na cidade, impedindo que mais pessoas sejam salvas por esses aparelhos de acolhimento e fortalecimento social, psicológo, jurídico e político para mulheres.

Pela realocação da Ocupação Anatália

Nos últimos meses, a Ocupação Anatália de Souza realizou dezenas de atendimentos, plantões gratuitos com profissionais de saúde, cursos e núcleos de formação política para as mulheres.

Todos os dias, a ocupação realiza conversas com as mulheres do bairro e das periferias da cidade, a fim de fortalecer essas trabalhadoras que sofrem violências diárias do sistema capitalista, seja dentro de casa, na rua ou no trabalho. É um trabalho que salva vidas.

Por isso, chamamos todos os apoiadores e apoiadoras do Movimento de Mulheres Olga Benário e da Ocupação Anatália de Souza para participar da construção da luta pela vida das mulheres e de uma forte mobilização por uma sede digna para o trabalho de atendimento de mulheres em situação de violência.

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes