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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Latifundiários são os responsáveis pelas queimadas no Brasil

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As queimadas que assolam o país estão longe de serem espontâneas: o agronegócio e os políticos a seu serviço têm responsabilidade por estes crimes. Desrespeito do Governo com servidores do ICMBio e Ibama e cortes nas verbas dos órgãos ambientais deixam a situação ainda mais crítica

Fernando Alves | Redação


No dia 10 de agosto de 2019, aconteceu, no Pará, o chamado “Dia do Fogo”, uma ação combinada por grileiros e fazendeiros que incendiou vastas porções de floresta nas regiões de Novo Progresso e Altamira. Tudo sob a conivência do governo fascista e negacionista de Jair Bolsonaro. Agora, no Brasil, todo dia é “Dia do Fogo”.

Dados do Monitor do Fogo de 12 de setembro (levantamento feito mensalmente pelo MapBiomas), apontam que, de janeiro a agosto de 2024, as queimadas aumentaram 116% em relação ao mesmo período do ano passado. A situação é mais grave na Amazônia, que concentra 48% de toda a área queimada no país nos últimos oito meses. O Cerrado é o segundo bioma que mais queima no país: a área destruída representa 36% de todo território queimado no Brasil. Destaque para a disparada nas Florestas Públicas Não Destinadas (FPNDs), principal alvo da grilagem na Amazônia. Nessas áreas, o salto das queimadas foi de 175% em relação aos mesmos oito meses de 2023.

Um alerta da Met Sul, uma consultoria de tempo e clima, apontou que, devido às queimadas que atingem o Brasil e a América do Sul nos últimos dias, os níveis de monóxido de carbono na atmosfera, neste momento, são altíssimos em parte do território brasileiro e em países vizinhos, como a Bolívia e o Paraguai. Incolor e inodoro, este gás é muito perigoso e até fatal em ambientes fechados.

A fumaça das queimadas já se espalha por quase todo o território nacional, deixando o ar seco. A baixa umidade relativa do ar apresenta índices alarmantes. Milhares de cidades estão cobertas de fumaça há semanas e os incêndios se proliferam em todas as partes do Brasil.

No último dia 16, o incêndio que atinge o Parque Nacional de Brasília tomou proporções incontroláveis. Segundo estimativas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), até o fechamento desta edição, o fogo havia tomado 700 hectares do parque. Em poucas horas, no início da tarde, a área cresceu mais de três vezes, chegando a cerca de 3.000 hectares. Com várias mudanças na direção do vento, as chamas cruzaram o Rio Bananal e se dividiram em diferentes frentes de queimadas, dificultando muito a ação de controle, colocando em risco a bacia hidrográfica da região.

Estiagem prolongada, secas intensas nos rios, queimadas, fumaça e poluição nas grandes cidades e nas florestas. Esse clima sufocante acontece como resultado de um “modelo de desenvolvimento” insustentável, mortal, predatório e ultrapassado.

Amazônia

Os maiores impactos acontecem na Floresta Amazônica, a maior do mundo. No Rio Madeira, a seca causada pela estiagem no Rio Madeira levou a lâmina d’água a apenas 41 centímetros, o menor nível da História. No Rio Amazonas, na região da fronteira entre o Brasil e o Peru, a seca atinge o Rio Solimões. Em Manaus, capital do Estado do Amazonas, a seca do Rio Negro atinge mais de 1,5 milhão de pessoas. Situação que também ocorre no Acre.

Áreas de Proteção Ambiental e terras indígenas não escapam da sanha e da cobiça dos exploradores da natureza. No Pará, grileiros provocam incêndios nos territórios Apyterewa e Trincheira Bacajá. Cerca de 2.000 hectares já foram devastados, de acordo com denúncias de organizações socioambientais. O fogo é usado para preparar o terreno para criação ilegal de gado – e afeta gravemente os povos indígenas locais. Há casos de crianças levadas ao hospital devido à inalação de fumaça.

Incêndios florestais criminosos

Grandes metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília vivem os reflexos das queimadas. Nas grandes e médias cidades também se apresentam os interesses da especulação imobiliária, que querem as regiões nobres das cidades e defendem até mesmo a privatização das praias.

Em São Paulo, no Rio Pinheiros, a proliferação de algas deixa suas águas esverdeadas. Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a estiagem diminuiu o volume de águas dos afluentes, deixando a vazão baixa e favorecendo essa proliferação em decorrência da poluição.

Em Ribeirão Preto, após sucessivos incêndios nas plantações, a cidade foi atingida, levando fogo para as áreas urbanas, ameaçando as casas e condomínios. O mesmo vem ocorrendo em Sorocaba, Marília, Orlândia, Dumont e outras cidades próximas à divisa com o Mato Grosso do Sul.

No Rio de Janeiro, as cenas se repetem, os principais locais atingidos estão no sul do estado, em especial na Serra da Beleza e na Serra da Concórdia. Como em outros estados, os parques têm sido alvos dos ataques criminosos. O aparato para combater as queimadas ainda é insuficiente. Foram disponibilizados três helicópteros, 60 viaturas e 300 brigadistas para enfrentar os mais de 60 casos. O Governo do Estado determinou o fechamento dos parques, num total de 40 unidades de conservação ambiental. A umidade relativa do ar nunca esteve tão baixa, chegando a menos de 30%.

No Maranhão, mais de 600 ocorrências atingem várias cidades ao sul do estado. Em Goiás, a área de proteção ambiental de Pouso Alto, no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Colinas do Sul, também sofre com os focos de incêndios.

A situação é extremamente crítica no Norte do Mato Grosso e Sul do Pará, que aparecem como as regiões mais afetadas pelas queimadas. As chamas consumiram áreas do Parque Nacional do Xingu e várias aldeias e povoados indígenas, a exemplo dos Kayapó. Somente nessa região, 100 mil hectares de florestas foram queimados. É um cenário de devastação provocado por criminosos que cobiçam as riquezas da floresta.

O cacique Megaron Txucarramãe, da etnia Kayapó, denuncia os interesses que estão por trás desses incêndios. Segundo o ICMBio, 96% das queimadas são causadas por ações criminosas e enfatiza não existir surgimento de focos de incêndio espontaneamente. Os indígenas cobram o envio de sementes para replantarem seus cultivos, pois essa medida vai garantir a alimentação nos meses de muitas chuvas na região, que compreendem os primeiros meses do ano.

Também é preciso falar dos animais, encurralados pelos incêndios, não têm abrigo e lutam para fugir do calor, do fogo e da escassez de água, muitos morrem ou ficam mutilados. Essa é uma realidade difícil e afeta a sobrevivência de várias espécies, como é o caso das araras azuis, que tem seu principal santuário e concentra o maior número de espécies no norte do Mato Grosso.

Causas da destruição ambiental

A realidade brasileira é a prova de que decisões políticas podem ter consequências muito graves para o mundo. Com o Governo Bolsonaro, o negacionismo se tornou o principal discurso e prática desse governo fascista para aplicar cortes de recursos para a preservação e proteção da natureza, sucateando e retirando poderes dos órgãos públicos na fiscalização, controle e proteção das florestas, parques nacionais, áreas de proteção ambiental, terras indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Uma política expressa pelas palavras de seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que era momento de “deixar a boiada passar”, numa referência direta aos interesses do agronegócio.

Com isso, organismos como Ibama, ICMBio e todos os órgãos institucionais e governamentais ficaram sem recursos e estrutura necessária para aplicar uma política ambiental séria. Foram quatro anos em que prevaleceu uma política fascista e reacionária de negação à ciência. Essa política deliberada fortaleceu a criação de grupos e milícias armadas que agiram livremente com ações organizadas sobre as florestas. Com o crime organizado à solta e atuando com o apoio do governo, madeireiras, o garimpo ilegal, grileiros de terras, contrabandistas de ouro e pedras preciosas, mafiosos que lavam dinheiro do contrabando de armas e drogas agiram abertamente. Mesmo com a derrota desse governo, esses grupos seguem avançando sobre as florestas e as terras da União.

Porém, existem interesses ainda maiores em jogo. É o caso do agronegócio, das mineradoras e dos latifundiários, que vêm promovendo uma política predatória que destrói as terras e a natureza para manter seus lucros bilionários.

Ao mesmo tempo, com uma política de amplas alianças com esses setores, o Governo Lula é dominado por esses grandes monopólios econômicos e mantém a mesma política de produção e exportação de matérias-primas.

Somente neste ano, o agronegócio recebeu, através do Plano Safra, mais de R$ 500 milhões em subsídios do Estado brasileiro, ou seja, dinheiro do orçamento público, além de linhas de créditos do Banco do Brasil, aquisição de equipamentos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sementes para plantio, aquisição de agrotóxicos para envenenar as plantações de alimentos consumidos em larga escala pela população, tudo isso livre de impostos.

Entre 2019 e 2023, as mineradoras lucraram R$ 1,2 trilhão explorando as riquezas do Brasil, mas seus superlucros são privados, vão parar nas contas bancárias de seus acionistas e não pagam nada os prejuízos deixados pela retirada de minérios e riquezas do subsolo brasileiro. Para nós ficam as crateras e um rastro de destruição, em especial no Estado de Minas Gerais, onde cometeram crimes ambientais em Mariana e Brumadinho e sequer fizeram a reparação das vidas humanas perdidas, dos animais, das terras e dos rios contaminados. Também no Pará e na Bahia a ação das mineradoras é destruidora.

Governo Federal não prioriza defesa da natureza

No âmbito político, o Congresso Nacional é composto por uma grande bancada de parlamentares latifundiários e negacionistas, sendo vários da extrema-direita. Eles usam seus mandatos para barganhar milhões do orçamento público para emendas próprias e votam, portanto, de acordo com quem libera essas emendas.

Por outro lado, as ações do Governo Lula são muito tímidas. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse defender um marco regulatório para o clima e condenou as queimadas como uma ação de criminosos. Mas, neste ano, os servidores do ICMBio realizaram uma corajosa greve nacional e não foram atendidos pelo Governo. Pelo contrário. Tiveram vários dias de salário cortados. Ressaltando que, durante o movimento, esses servidores, que são as pessoas que executam na ponta a política nacional para o meio ambiente, alertaram sobre os riscos de agravamento da crise socioambiental no Brasil.

É com um país sufocado pelas políticas neoliberais, por ataques constantes à natureza, por um ajuste fiscal perverso (que retira as verbas de setores importantes, como os investimentos em pesquisas, educação pública e meio ambiente), que o Brasil vai sediar, em novembro de 2025, em Belém do Pará, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30).

Para barrarmos, de fato, os crimes contra a natureza no Brasil e no mundo é preciso uma transformação radical da sociedade, um novo modo de produção, que seja coletivo, socialista. As guerras e a destruição ambiental são provas do esgotamento do sistema capitalista. Esses fenômenos climáticos extremos, causados pela ação das grandes corporações econômicas, que visam somente ao lucro, à custa da vida do planeta, só reforçam o caráter de morte que tem o capitalismo. Somente com o socialismo a humanidade vencerá a barbárie que nos consome hoje como o fogo que toma conta do nosso país.

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