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quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

A história de luta da classe operária de Petrópolis

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Classe operária de Petrópolis acumula 150 anos de organização e luta contra a exploração capitalista.

Christian Nunes | Petrópolis (RJ)


LUTAS DO POVO – Muito se fala sobre a cidade Petrópolis, na Região Serrana, como “Cidade Imperial”. As elites locais e empresários na cidade alimentam a narrativa da cidade ter sido construída somente pelos colonos europeus, que ocuparam o território na segunda metade do século 19.

Ao mesmo tempo, quando contam a história, apagam o passado de luta operária da cidade, dos quilombos e dos povos indígenas que estavam centenas de anos antes da chegada da família imperial e dos colonos. Fazem-nos pensar que o povo de Petrópolis é pacato e ordeiro e ainda inventam que este povo teria orgulho de seu passado imperial. Os fatos a seguir demonstram um pouco sobre o verdadeiro passado de luta do povo. A maioria dos fatos estão expostos no livro Pão, Terra e Liberdade na Cidade Imperial, de Paulo Henrique Machado.

Em 1873, um tempo após a família imperial comprar terras em Petrópolis, surgiu a primeira fábrica de tecidos em Petrópolis, e nos anos seguintes, a classe operária crescia na cidade. Alguns fatores motivaram o aparecimento de muitas fábricas nos anos seguintes: A cidade ser próxima do Rio de Janeiro, a existência de um grande potencial hidrelétrico para as fábricas por conta dos rios e haver a situação de desemprego de muitos operários após o término da construção da Estrada União Indústria, o que originou uma mão de obra barata.

Segundo as pesquisas históricas, os operários viviam numa condição muito ruim de trabalho. Boa parte do operariado era composto por mulheres (nas fábricas de tecido), e era comum o uso de mão-de-obra infantil. A mão de obra era diversa, porém predominantemente embranquecida, e incluía muitos imigrantes italianos, além de alemães e outras nacionalidades.

Naquele período, as elites imperiais acreditavam que negros eram menos aptos a assumirem trabalhos nas indústrias, o que era fortemente reforçado pelas ideologias eugenistas, mesmo após a abolição da escravatura. Além de haver muitas indústrias de tecido, na cidade também havia empresas metalúrgicas, gráficas, padarias e outras.

Desde o fim do século 19, eram comuns as greves da classe operária de Petrópolis contra baixos salários, jornadas excessivas, condições precárias de trabalho, além de uma forte repressão a que os trabalhadores estavam submetidos. Na Cia. Petropolitana de Tecidos, já em 1890, uma greve resultou na prisão dos líderes, mas já em 1891 novas greves ocorreram.

Influenciados pela revolução russa de 1917, operários nos anos seguintes organizaram muitas greves e 1918 foi um ano explosivo. Em 1918, uma greve na fábrica Cometa por solidariedade a 14 companheiros demitidos. No mesmo ano, uma nova greve gerou repressão da polícia. Depois, uma revolta que mobilizou 2 mil pessoas, numa ação coordenada (segundo a imprensa local), promovem saques a armazéns, gerando pânico nos proprietários. 

Militância comunista e antifascista 

Os líderes operários, em boa parte anarquistas, se converteram em maioria, em líderes comunistas, com a fundação do PCB (Partido Comunista do Brasil), em 1922. Além disso, o PCB também tinha parte ativa e determinante na construção da ANL (Aliança Nacional Libertadora).

O partido lançou candidatos a vereador na cidade no ano de 1929. Eram Sebastião de Oliveira Mello e Domingos Braz, nomes referendados numa assembleia da UOFT (União dos Operários em Fábricas de Tecidos). A campanha teve forte apoio entre os operários. Porém, o eleitorado no Brasil era restrito aos homens alfabetizados, o que impedia operários analfabetos e mulheres de votarem, impedindo-os de se elegerem.

Em Petrópolis, na década de 1930, os nazistas e integralistas eram fortemente organizados, alcançando vários espaços de influência e propagando a ideologia fascista pela cidade. 

O ano de 1935 foi marcado por fortíssimas tensões e lutas realizadas pela classe trabalhadora com protestos, enfrentamentos e greves. Em maio, ocorreu um comício da ANL, seguido de um segundo comício no dia 12. Fotos da época mostram a ampla participação de negros na ANL e a força da luta antirracista em plena década de 30. Esses atos também eram demonstrações de força contra o fascismo que se apresentava organizado na cidade e contra a exploração capitalista.

No dia 9 de maio, um ato foi organizado pelos comunistas, para denunciar o fascismo. O ato marchou até a sede da Ação Integralista Brasileira (AIB), e os manifestantes pararam em frente para protestar e denunciar o fascismo e o integralismo. As luzes da sede se apagaram e muitos tiros foram disparados contra os membros da ANL, ferindo dezenas de operários e assassinando Leonardo Candú, operário têxtil, membro da ANL, esposo de Antônia Candú e pai de 3 crianças. Nos dias seguintes, uma greve de 9 dias ocorreu, paralisando a cidade, fechando bancos e comércios e tendo adesão de muitas categorias de trabalhadores.

Leonardo Candú segue vivo na memória dos lutadores sociais de Petrópolis. E a tradição do movimento operário deixa como legado até os dias de hoje a existência de inúmeros sindicatos (têxtil, rodoviários, vestuário, metalúrgicos, alimentação, turismo e hotelaria, comerciários, bancários etc.) Que lutam por melhores condições de vida da classe trabalhadora.

A verdade é que o povo petropolitano é historicamente um povo de luta, assim como todo o povo brasileiro, que a cada dia alimenta seu ódio contra as injustiças e de tempos em tempos se revolta, como a própria história recente mostra, quando fecha a rua contra o descaso nas enchentes ou quando faz barricadas nos bairros contra o péssimo serviço de transportes públicos.

Em cada canto da cidade, carrega no sangue as lutas do passado, alimenta seu ódio contra os políticos que só buscam votos por promessas e sonha com um país mais justo, livre das injustiças, da exploração e da corrupção capitalistas.

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