Um dos casos mais espantosos de racismo da história recente do Brasil completou 11 anos neste domingo. Os seis policiais militares envolvidos no crime contra Cláudia Ferreira foram inocentados pelo Estado
Gabriela Torres | Redação PR
Há 11 anos, o braço armado do Estado interrompeu, com um tiro no pescoço e outro nas costas, os sonhos de uma mãe de família que saía para comprar pão. Cláudia Silva Ferreira tinha 38 anos e quatro filhos quando teve a sua vida ceifada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Após o assassinato, os criminosos ainda arrastaram o corpo de Cláudia, preso por suas roupas na viatura na Estrada Intendente Magalhães, protagonizando uma das cenas de racismo mais cruéis já registradas no país. A justificativa para os tiros seria um suposto confronto no Morro da Congonha, em Madureira, região Norte da capital carioca.
Em março do ano passado, os seis policiais militares envolvidos no caso foram inocentados pelo Estado. Os envolvidos respondiam pelo crime de homicídio contra Cláudia Ferreira, mas o juiz alegou “erro de execução”, sob um falso contexto de “legítima defesa”.

Cláudia era uma trabalhadora do Hospital Marcílio Dias, e de acordo com relatos da família, vivia a vida cotidiana da maioria das mulheres negras: acordava às 4h30 da manhã para trabalhar e, além dos quatro filhos, criava também mais quatro sobrinhos. Uma rotina que, apesar de severa, carregava o extraordinário sustentado por cada uma das mães negras de família que criam os seus filhos e constroem as riquezas desse país, mas são impedidas de usufruir dessa riqueza no sistema capitalista. Conhecida carinhosamente como Cacau, Cláudia Ferreira comemoraria na semana de sua morte 20 anos de casada com o seu companheiro, e a sua família não teve nenhuma resposta do governo do estado do Rio de Janeiro.
Para Juliane, membra da direção da Unidade Popular no Paraná, o caso de Cláudia escancara a realidade de racismo e violência que as mulheres estão submetidas: “O assassinato da Cláudia só escancara ainda mais como os corpos negros são tratados no Brasil e lutamos pela justiça para que seus torturadores não sejam esquecidos. Reiteramos o nosso compromisso de lutar contra a violência policial, para que nossas mulheres negras, mães de família não sejam mortas, que nossa juventude tenha a possibilidade de sonhar um futuro diferente sem o medo de ser mais um número para o índice de mortalidade“, afirma a militante.