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quarta-feira, 19 de março de 2025

UP organiza atos pelo fim da escala 6×1 em todo o país

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Nesta quarta-feira (19/3), manifestações com a participação ativa da Unidade Popular (UP) e dos movimentos sociais levantaram bandeiras pelo fim da escala 6×1 pela redução das jornadas de trabalho sem diminuição dos salários.

Guilherme Arruda e Estefani Maciel* | São Paulo (SP)


O fim da escala 6×1, que determina seis dias consecutivos de trabalho e apenas um dia de descanso aos trabalhadores brasileiros, foi a pauta de uma série de manifestações realizadas em dezenas de cidades do Brasil nesta quarta-feira (19/3). A abolição dessa jornada de trabalho, considerada desumanizante e exploratória, é o objetivo de uma onda de mobilizações da classe trabalhadora brasileira que se iniciou no ano passado.

A força dos atos, que contaram com a participação ativa da Unidade Popular (UP), de sindicatos e de movimentos sociais, demonstra a indignação popular com as jornadas exaustivas a que estão submetidos os trabalhadores. Mesmo trabalhando ao menos 44 horas semanais, sem descanso aos finais de semana e feriados, a realidade de milhões de brasileiros ainda é de miséria, sem condições de adquirir alimentos em quantidade suficiente para suas famílias e ainda lidando com valores cada vez mais altos de aluguel, transporte e outras contas básicas para a manutenção da vida.

Os milhares de manifestantes que participaram das ações levantaram palavras de ordem em que defenderam o fim da escala 6×1 sem redução de salários e a revogação imediata da Reforma Trabalhista.

Denunciando a exploração, em muitos municípios, os atos entraram em shoppings e abriram bandeiras com os motes “Pelo fim da escala 6×1!” e “Pela redução da jornada de trabalho”. Nesses locais, onde a maioria dos trabalhadores realiza longas jornadas e sofre com o abuso e o assédio dos patrões, os manifestantes receberam inúmeras demonstrações de apoio da população.

“Com essa escala, minha vida é corrida, não tenho tempo para fazer nada e não tenho liberdade para pensar em outra coisa que não seja o trabalho. Esses tempos eu fiquei com covid e mesmo assim tive que trabalhar. Meu salário não condiz com isso e não sou nem registrada”, afirmou uma funcionária de uma loja do Shopping Metrô Itaquera, onde a mobilização ocorreu na cidade de São Paulo (SP), que não quis se identificar.

Mulheres são as mais afetadas

Manifestação organizada pela UP mobilizou centenas de pessoas só em São Paulo, e milhares em todo o país. Foto: Bia Borges (@bia.borgest)
Manifestação organizada pela UP mobilizou centenas de pessoas só em São Paulo, e milhares em todo o país. Foto: Bia Borges (@bia.borgest)

Como já denunciou o jornal A Verdade, os problemas da escala 6×1 afetam principalmente as mulheres brasileiras. Elas compõem grande parte da força de trabalho dos setores de serviços, comércio e telemarketing, cujas jornadas de trabalho extenuantes e mal remuneradas são, em sua maioria, organizadas a partir dessa escala. Acumula-se, por sobre essa situação de exploração, o problema do trabalho doméstico não remunerado.

Um relatório da Oxfam revela que as mulheres são responsáveis por 75% de todo trabalho de cuidado não remunerado no mundo. Entre lavar, passar, cozinhar, cuidar dos filhos e familiares idosos ou enfermos, cerca de 42% das mulheres nem mesmo conseguem um trabalho formal por serem responsáveis pela função do cuidado – enquanto entre os homens esse percentual é de apenas 6%.

Essas especificidades da situação da mulher se integram a um cenário geral de precarização das condições de vida da classe trabalhadora brasileira. Neste ano, o governo sancionou o valor de R$1518,00 para o salário mínimo. No entanto, um estudo do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) aponta que o “salário mínimo necessário” para o bem-estar de uma família de 4 pessoas deveria ser de R$7229,32, quase cinco vezes maior. A já baixa remuneração dos trabalhadores vem sendo corroída pela alta nos preços dos alimentos, impostas pela especulação dos capitalistas.

A situação se complica quando se leva em consideração que as leis brasileiras não garantem nem mesmo uma jornada de trabalho de 40 horas, uma demanda histórica do movimento operário desde o século XIX. Hoje, a Constituição Federal prevê uma jornada de 44 horas semanais, sem contar as horas extras. Para as mulheres trabalhadoras, que em sua maioria ainda acumulam o trabalho de cuidado com a casa e os filhos, isso significa a completa negação do direito ao lazer, à cultura e à vida.

“São muitas as mulheres que, na prática, têm uma jornada tripla de trabalho, somando emprego, filhos e tarefas domésticas. Para a mulher, o fim da escala 6×1 seria o mínimo para que ela tenha tempo para viver”, afirmou a estudante Mariana, que participou da mobilização em Campinas (SP) e se filiou na UP durante o ato.

Solidariedade entre trabalhadores

Trabalhadores se solidarizaram com a manifestação. Foto: Estefani Maciel (@estefanimcl)
Trabalhadores se solidarizaram com a manifestação. Foto: Estefani Maciel (@estefanimcl)

Com as manifestações da quarta-feira, os movimentos sociais convocaram a classe trabalhadora a aderir massivamente aos próximos passos da luta, reforçando que a conquista de suas reivindicações só acontecerá através de intensa, e organizada, mobilização popular. “Nós, trabalhadores, precisamos entender que só temos um caminho nessa luta contra os patrões e governos pela redução da jornada, que é nos organizarmos para avançar essa luta”, afirmou Petrus Mafra, membro do Movimento Luta de Classes em Natal (RN).

No ano passado, um importante exemplo de combatividade nesse sentido foi dado pelos operários da PepsiCo, no estado de São Paulo, que conquistaram dois sábados adicionais de folga após organizarem uma paralisação de sete dias contra a escala 6×1 nas fábricas de Itaquera, na Zona Leste da capital paulista, e Sorocaba (SP).

Depois dos vitoriosos atos deste dia 19 de março, os movimentos sociais seguirão nas ruas,  atuando pelo fim da escala de 6×1. O calendário de mobilização agora se encaminha para a realização de um 1º de Maio de luta, que deve apontar o caminho da organização da classe trabalhadora pelo fim da exploração capitalista e pela construção de uma nova sociedade.

É o que defendeu Amanda Bispo, liderança da UP, no ato de São Paulo: “Que futuro está sendo colocado para a gente nesse sistema? Mas é possível garantir uma escala de trabalho digna, que sirva para nós e não ao lucro de uma minoria, e conquistar o fim da exploração de trabalho. Nós convidamos cada um e cada uma a conhecer a Unidade Popular e o Movimento Luta de Classes, para que a gente possa construir uma grande greve geral pelo fim da escala 6×1”.

(Em breve, disponibilizaremos uma galeria de fotos dos atos!)

*Por todo o país, colaboraram com a reportagem Alice Morais, Bento Xavier, Leonardo de Paula e Junior de Sousa.

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