Este sistema resistirá com toda violência e desespero, buscando barrar qualquer reforma proposta pelos trabalhadores, como a redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1. Conscientes disso, cabe aos trabalhadores se unirem para lutar a favor de uma reforma na escala de trabalho e na redução da jornada.
Wanderson Pinheiro | São Paulo (SP)
A classe trabalhadora é cada vez mais explorada pelos grandes monopólios no atual sistema capitalista-imperialista. No Brasil, com a famigerada escala 6×1, a grande burguesia sustenta uma exaustiva jornada de trabalho de 44 horas semanais. Sem contar que os patrões, muitas vezes, passam por cima das leis trabalhistas, com artifícios como o das horas-extras, para impor uma jornada que chega a 16 horas por dia. Os trabalhadores e trabalhadoras do comércio, da limpeza, dos aplicativos e do telemarketing, são as principais vítimas desse trabalho escravo “moderno”, legalizado pelo Parlamento e pela Justiça burgueses.
Os grandes capitalistas internacionais e seus países imperialistas, que se lançam à guerra para defender os mercados para seus monopólios, são os mesmos que exploram a classe trabalhadora e a empurram para o desemprego e o trabalho informal (sem direitos).
Dessa forma, a grande burguesia atua para aumentar o exército de trabalhadores desempregados, rebaixar os salários e aumentar a jornada de trabalho de forma violenta, tudo com o objetivo de vender suas mercadorias. Por trás disso, existe uma grande disputa por mercados. E se trata de uma disputa entre gigantes, entre oligopólios que levam a concorrência ao extremo. Essas disputas se desenvolvem a ponto de gerar disputa entre Estados imperialistas, de forma que estamos à beira de uma nova guerra mundial.
Para reduzirem seus custos de produção, também aumentam fortemente os investimentos em tecnologia e demitem milhares de trabalhadores. Por outro lado, no geral, reduzem o poder aquisitivo das amplas massas, reduzindo o consumo dos seus próprios produtos e aprofundando a crise econômica do sistema.
Por isso, o avanço da crise do capitalismo-imperialismo moribundo é perfeitamente previsível e inevitável. Porém, este sistema resistirá com toda violência e desespero, buscando barrar qualquer reforma proposta pelos trabalhadores, como a redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1.
Conscientes disso, cabe aos trabalhadores se unirem para lutar a favor de uma reforma na escala de trabalho e na redução da jornada. Essa reforma progressista é pela vida dos trabalhadores, pela redução da exploração e contra a crise econômica que nos rodeia. Estas bandeiras de luta devem estar no centro dos atos do 1º de Maio que se aproximam, até porque o Dia Internacional da Classe Trabalhadora surgiu, há quase meio século, exatamente em torno da luta pela redução da jornada de trabalho.
Escala 6×1
Os altos investimentos em tecnologia, além de reduzir o tempo de trabalho necessário para produzir as mercadorias, demitindo trabalhadores e reduzindo salários. Um exemplo é o que foi apresentado pelo relatório do FMI, de 2024, no qual afirma que os bilhões de investimentos em Inteligência Artificial (IA) afetarão substancialmente 40% dos empregos em todo mundo.
O investimento mundial em IA, de 2023 para 2024, cresceu 62%, chegando a US$ 110 bilhões no último ano. Este é um forte setor de investimentos do capital financeiro em cadeia, que vai desde a produção de microchips em larga escala, passando por fazendas de grande porte para armazenamento de dados, até chegar ao processamento dos dados por meio da IA. As chamadas big techs são parte desse monopólio das informações e tecnologia nas mãos da burguesia em nível internacional.
Segundo o Relatório Emprego Mundial e Perspectivas Sociais da OIT-ONU, 435 milhões de trabalhadores estiveram desempregados em 2024, o que representa 5% da população mundial. Isto é, como disse Karl Marx, um verdadeiro exército de trabalhadores desempregados.
Somando-se à enorme fila dos desempregados, tivemos a redução dos salários, de maneira mais exacerbada nos países explorados pelo imperialismo. No Brasil, por exemplo, tivemos uma queda geral nos salários de 7%. Em nível mundial, o número de trabalhadores no mercado informal ultrapassou a marca de 2 bilhões, e mais de 241 milhões de trabalhadores vivem em famílias com renda per capta inferior a 2,15 dólares por dia (R$ 12,56).
A tática dos capitalistas é clara. Jogam milhões de pessoas nas filas em busca de emprego, passando fome e morrendo à mingua para pressionarem aqueles que estão empregados, ameaçando-os de demissão caso reivindiquem melhores condições e pagando salários miseráveis. E pior: mesmo passando fome e estando subnutridos, os trabalhadores têm que cumprir jornadas exaustivas, como a escala 6×1.
Jornadas exaustivas
Devemos observar que a escala de trabalho 6×1 é parte de um sistema de exploração geral e violento. É a extração da nossa força de trabalho até o limite, sugando nosso sangue e nos matando. Esta situação é mais grave nos países explorados, onde somos obrigados a vender nossa força de trabalho para os patrões, sem receber o mínimo necessário para nos manter em pé no dia seguinte.
Segundo o IBGE, no Brasil, 60% dos trabalhadores vivem com até um salário mínimo (R$ 1.518,00), que, ironicamente, não satisfaz o “mínimo” para sobrevivermos e nos recompor para trabalhar uma jornada de trabalho exaustiva de 44 horas semanais ou mais. Não temos tempo para o descanso, para o lazer e nem mesmo para conviver com a própria família.
Além disso, esse limite de jornada é muitas vezes “flexibilizado” pela reforma trabalhista. Este é o caso de uma grande quantidade de trabalhadores informais (os “uberizados”, pjotizados, etc.), falsamente caracterizados como colaboradores/empreendedores e trabalham cumprindo até 12 horas por dia.
Pesquisa da ONG Ação Cidadania revela que 56% dos entregadores, em São Paulo e no Rio de Janeiro, trabalham mais que 9 horas por dia. Com dados referentes a agosto de 2024, a pesquisa diz ainda que 13,5% vivem em condições de restrição alimentar grave e 41% já sofreram acidentes no trabalho.
Mais ainda, segundo o Colab/PUC-Minas, o regime de escala 6×1 está associado ao crescimento da síndrome burnout no Brasil, que é uma doença de esgotamento profissional silencioso. Os sintomas da crise são o cansaço extremo, sensação de ineficácia, dificuldade de concentração e irritabilidade constante, que geralmente evoluem para ansiedade e depressão. As causas do desenvolvimento da síndrome são a pressão por produtividade, ausência de pausas adequadas e as jornadas de trabalho exaustivas.
A luta contra o capitalismo
A redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1 é uma luta de toda a classe trabalhadora contra a classe da grande burguesia e diz respeito diretamente ao lucro dos capitalistas. Por isso, essa luta se desenvolve de maneira encarniçada, já que os patrões não admitem perder nada.
Porém, para obter essa grande conquista, a classe trabalhadora precisa se organizar e desenvolver uma grande luta em nível nacional, e mesmo internacional. Um caminho a seguir é a realização de uma enorme “Campanha pelo fim da escala 6×1”, com grandes atos e manifestações nacionais, que coloquem milhões de trabalhadores nas ruas. Devemos ainda desenvolver e aprofundar atos de protestos nos shoppings, supermercados, call centers e demais empresas que promovem a escala 6×1.
Mas, para obtermos mais rapidamente vitórias, precisamos nos inspirar no que fizeram os irmãos trabalhadores da Pepsico (ver pág. 6), que realizaram uma grandiosa greve de sete dias, parando completamente a produção, e conquistaram a primeira vitória contra a escala 6×1. No final da greve, os trabalhadores conquistaram mais um dia de folga no mês e derrotaram os patrões. Por isso, consideramos que esse é o caminho a seguir: não ficar esperando o Parlamento burguês, mas sim deflagarmos uma jornada de GREVES CONTRA A ESCALA 6×1!
Para avançarmos nessa luta, não podemos ter ilusão que a conquista virá do parlamento, da justiça burguesa ou de alianças com o centrão para a aprovação de um projeto via conciliação. É necessário levarmos nossos interesses às ruas, com ações do poder popular. Já está demonstrado que nem o Centrão nem a social democracia defendem os reais interesses do nosso povo. Também é claro que esses setores não se movem para reverter as privatizações e a retirada de direitos. Portanto, a força para acabar com a escala 6×1 e reduzir a jornada de trabalho deve vir das ruas pelas mãos da classe trabalhadora.
Também é importante avançarmos a consciência dos trabalhadores enquanto classe. Demonstrar que esses precisam se unir e lutar por uma política da classe trabalhadora. Política esta que combate as privatizações, luta pelo cancelamento das reformas trabalhista e previdenciária, pela auditoria e cancelamento da dívida pública, pelo aumento de 100% do salário mínimo, pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários e o fim da escala 6×1. Enfim, queremos que a luta por reformas progressistas não caia nos limites da legislação vigente (burguesa), do puro reformismo, pois os capitalistas querem nos fazer conformar com as migalhas permitidas.
A nossa luta pode e deve se desenvolver no caminho da revolução socialista, da construção do poder popular e do socialismo. Pois, somente assim, poderemos acabar de uma vez por todas com todas as formas de exploração e opressão e destruir o velho sistema capitalista-imperialista que tanto nos explora e assassina.
Matéria publicada na edição impressa nº 311 do jornal A Verdade