No domingo (28/09) o povo foi às ruas manifestar em defesa da garantia do direito ao aborto legal na America Latina e no Caribe. A luta não se restringe às mulheres cis mas é uma pauta fundamental para todos os corpos que gestam
Felipe Fly | São Paulo
LUTA POPULAR – A luta pela legalização do aborto deve ser pleiteada por toda a população, uma vez que se trata da garantia da dignidade humana, prevista pela nossa constituição e é portanto, de interesse social que se faça ser cumprida.
Ainda assim, sabemos que o regime político burguês hoje imprime diversas exceções e arbitrariedades às leis e à garantia da democracia, de modo que seus interesses de classe e sua ideologia atrasada e reacionária prevaleçam a todo custo.
Dentre as diversas identidades de gênero que compõem a nossa sociedade, é nítido a posição privilegiada que é resguardada ao homem cisgênero, sobretudo o branco. Não à toa é este o perfil majoritário dos deputados que foram favoráveis ao PL do estupro e que defendem a criminalização do aborto.
É também essa a parcela da população que está nos melhores postos de trabalho, que recebe os melhores salários, mesmo havendo outras identidades ocupando um cargo equivalente.
Mais pobres são sempre os mais afetados
Grandes mobilizações vêm denunciando a importância de que a legislatura esteja à altura do povo, isso significa legislar pelos interesses da maioria, que é uma população pobre, que não tem acesso à realização de abortos seguros, e que numa situção de necessidade vê nos abortos clandestinos a sua única opção e acaba muitas vezes por falecer no procedimento ou em decorrência de complicações do mesmo.
É importante destacar que a vulnerabilidade que leva à necessidade de recorrer ao aborto clandestino é fruto de uma sociedade capitalista que explora o povo até as últimas consequências, obrigando a maior parcela da população a viver numa situação constante de fome e miséria, enquanto capitalistas donos de bancos e de grandes empresas seguem acumulando riquezas e exportando capitais.
Notemos ainda, que para que a situação de violência sexual aconteça, outras responsabilidades do Estado foram negligenciadas, como a ausência de políticas de educação sexual nas escolas, pouca iluminação nas vias públicas, precária malha de ônibus e metrôs nas regiões periféricas e alto índice de impunidade aos estupradores.
Aborto legal é direito de todes
É preciso salientar que são diversas as identidades que podem gestar e que devem ter direito à liberdade de decidir sobre seu corpo, e que devem ter sua dignidade garantida pelo Estado. Unir a luta de todas as identidades em defesa do aborto legal e seguro é fundamental para a conquista da pauta e para o avanço do debate em relação aos direitos reprodutivos.
Transmasculinidades, identidades não-binárias, pessoas intersexo são algumas dessas identidades que, assim como mulheres cis capazes de gestar, precisam do acesso ao aborto legal, e sofrem diretamente um prejuízo pela ausência de hospitais que garantam o abortamento seguro, legal e gratuito.
Quase totalidade das pessoas trans em na cidade de São Paulo depende da sua força de trabalho para sobreviver (dados do mapeamento realizado pela prefeitura junto a CEdEC) e portanto não pode arcar com um aborto seguro por conta do valor.
Isso somado a já precariedade dos abortos clandestinos, sofremos ainda com o despreparo geral do atendimento à saúde para nossos corpos cotidianamente. Se considerarmos a pauta do aborto um ataque às mulheres, apenas, estaremos violando corpos trans duas vezes.
Por isso, vamos às ruas com toda a nossa militância em defesa do direito reprodutivo a todos os corpos. Nenhuma criança, cis ou trans, deve ser responsável por outro ser. Nenhuma criança deve ter seu corpo violado. E toda a pessoa que gestar, deve ter o direito de decidir sobre o seu corpo, sobretudo numa situação de violência.