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quarta-feira, 29 de outubro de 2025

CARTA | Pelo bem da minha saúde mental, eu permaneço na luta

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Paula Dornelas | Minas Gerais


CARTA – Em tempos neoliberais, em que o indivíduo tem um peso gigante de responsabilidade sobre as coisas, se sobrepondo a qualquer trabalho ou compromisso coletivo, foi um alívio escutar o seguinte lembrete de uma companheira na luta pelo socialismo, “tenhamos a certeza da vitória independente do indivíduo”. Compartilho aqui algumas reflexões que se desdobraram a partir daí.

Há algum tempo em tratamento para depressão e transtorno de ansiedade, mais uma em meio à juventude brasileira, tenho sintomas que vão de uma desimportância e impotência frente aos problemas e dores do mundo, a uma vontade forte de pôr abaixo de vez o sistema capitalista, que nos oprime e explora a todo segundo.

Nesse caminho, percebi que a dor, a tristeza, ou angústia que por vezes sentimos, seja desencadeada por problemas financeiros, por questões de um relacionamento, ou pelo luto; em meio às necessidades diárias da vida, nos deixa mais sensíveis ao individualismo. Nos levando a pensar que estamos sozinhos, que devemos prezar por um autocuidado e concentrar nos próprios corres e afazeres. É comum escutarmos de pessoas que se preocupam com a gente frases como: cada um tem as suas batalhas, é momento de pensar em si primeiro, de dedicar para cuidar de você, do seu trabalho, do seu estudo, em lugar de cuidar do outro ou dos outros.

Apesar dessas orientações até virem com uma justa preocupação, elas podem reforçar o individualismo; e de maneira alternada ou mutuamente, aquele misto de importância e desimportância em relação às nossas vidas: com uma separação do “eu” para me cuidar; junto da ideia de que “ninguém se importa comigo ou com o que sinto”, que “por mais que possam ter passado por coisas parecidas, só eu sei da minha vida”, por isso, me distancio para cuidar dela. Por mais que pareçam nada prejudiciais, essas possíveis decisões nos fecham para com o outro e reforçam uma responsabilidade individual frente à vida. E tá aí um problema. Essa responsabilidade é adorada pelo neoliberalismo e para a manutenção do capitalismo que nos quer desunidos, contrapondo uma vida em comunidade.

Outro exemplo aparece quando reforçamos que estando à frente do coletivo, quem dá “a cara a tapa” é um indivíduo e, por isso, somente ele sabe o que passa e sente mais o peso da responsabilidade. Uma situação que exige muita atenção individual-coletiva.

Retomando mais alguns exemplos atuais que reforçam o individualismo: Competimos para conseguir um trabalho que, provavelmente, vai nos adoecer, enquanto uns poucos acumulam riquezas; Competimos por uma vaga na universidade: nossa vida em sociedade acumula importantíssimos conhecimentos, mas há aqueles que poderão aprendê-los e outros que não, mesmo sendo um acúmulo coletivo, social, que no capitalismo é privatizado; Mais um exemplo recente da nossa história: a pandemia da Covid-19 foi um momento que tivemos que nos isolar, mas definitivamente foi preciso contar muito com os outros para a manutenção de nossas vidas. Sejam diretamente os profissionais da saúde, da limpeza, aqueles que cozinhavam, que cuidavam, e que se solidarizavam nas ações de combate à fome.

Retomando o fio da meada, com essas reflexões cheguei a conclusões que me aliviaram e fortaleceram, entendendo que: não é uma responsabilidade só minha as vitórias e derrotas que enfrentamos pelo caminho, tampouco é errado identificar que preciso de algum cuidado mais específico num momento. Entretanto, eu tenho um papel e uma responsabilidade no coletivo e o coletivo também um papel em cada um de nós; pensando e exercendo uma relação dialética entre ambos. Nesse trajeto vivido por mim até aqui, digo que não há uma dor que seja só nossa, que numa conversa não possamos pensar com o outro em formas de diminuir o peso para enfrentá-la ou passar por ela; e, junto disso, não nos ausentar, mas seguir em movimento, entendendo e nos responsabilizando enquanto coletivo e enquanto indivíduos-parte de um todo.

O sistema capitalista é perverso, e provoca mais a destruição do que a manutenção ou melhoria das diferentes formas de viver existentes entre os povos. Então, com essa condição desumana, somada à nossa sensibilidade comunista cheia de revolta e amor, é difícil por vezes não nos entristecermos. E eu compartilho isso pra quebrarmos a ilusão de que virá uma resposta imediata e mágica para acabar com essa angústia. A resposta que temos para isso é trabalhosa, cotidiana, coletiva, organizada e revolucionária, que precisa ser cultivada no coletivo, na luta e nos estudos do marxismo-leninismo.

Por fim, eu gostaria com esse texto fazer (a mim mesma) e a quem ele chegar um chamado a continuar na luta pela vida. Um chamado que passa necessariamente por estar no coletivo. Aos nossos militantes comunistas, por coletivo digo o nosso Partido, nossos núcleos de base, os espaços de formação política, as ações revolucionárias que nos fazem sentir a coragem carregada e acumulada por esse nosso povo que trabalha.

Frente ao individualismo e a essa forma de “vida” adoecedora, que nos mata, nos rouba o tempo, a criatividade, os amores, a comida, a casa; enfrentando tudo isso e entendendo que essa é uma decisão que precisa ser construída, reconstruída e tomada diariamente. Essa é a nossa única saída para uma garantia segura de viver. Por isso, eu convido aos camaradas a permanecerem, a serem parte desse processo revolucionário que nosso povo trabalhador caminha rumo a ele. Entendendo que nesse trajeto vamos ter encontros e desencontros, vamos sentir dores, caminhar descalço em chão de pedras, vamo subir e descer morro; mas é assim de pé no chão e coletivamente que avançaremos e viveremos numa sociedade socialista.

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