BRASIL As recentes revelações do conluio entre Sérgio Moro e Deltan Dallagnol feitas pelo jornal The Intercept Brasil balançaram todas as esferas políticas do país. A todo momento e em todo lugar se falam sobre tais revelações. Não é para menos, a natureza das conversas que alteraram do dia para a noite o estado da conjuntura nacional, a correlação de forças entre o fascismo e o povo estavam fundamentadas em um crime, “um esquema nacional” articulado unicamente para alterar o processo eleitoral e moldar o país à imagem e semelhança de um juiz parcial e aliado do atual governo Bolsonaro.
Sabatinado pelos senadores do Brasil, Moro estabeleceu seu meio de ataque à imprensa, como qualquer Bolsonarista. Não sendo capaz de comprovar sua inocência, partiu para argumentos falaciosos, não falando das conversas em si, mas indo mais fundo em subterfúgios argumentativos, ora sua memória falhava, ora descaracterizava a importância de suas mensagens, afirmando que um verdadeiro conluio entre juiz e procurador é algo “natural” e “comum” dado a agilidade de um “aplicativo de mensagem”, ou mesmo, o mais comum da sua natureza reacionária, descaracterizou a mídia, acusando o trabalho investigativo impecável do The Intercept Brasil como “sensacionalista” e “fora de contexto”.
Em vista disso, é muito compreensível que, em meio a essa indescritível e ruidosa confusão, Moro esteja se contradizendo continuamente, a cada nova atualização ou declaração. Nesse momento, o que resta a Moro não é senão reconhecer sua nova base de apoio, o fascismo aberto e descarado. Pudemos observar esse apoio se concretizando não nos bastidores da política, nas conversas particulares, mas em rede nacional, na sabatina do antigo Juiz e atual Ministro da Justiça com os senadores de todo o país. Sem mais a fama de “Herói Nacional” entre uma parte do povo, resta então caminhar na mesma estrada que os malandros da política decadente, soldados e policiais militares exonerados, trapaceiros, milicianos, burgueses investigados de todos os tipos de crimes políticos e de responsabilidade, em suma, caminhar junto a toda essa base social indefinida, dogmática, violenta, decadente e sem um rumo para si mesmo senão o da completa paralisia que, quando ameaçada, partem para a agressão verbal e física. Dessa forma, Moro hoje representa a si nos fascistas e os fascistas, tanto no senado e na câmara dos deputados, representam toda sua escória social e corrupção em Moro. Isso acontece porque neles se identificam interesses semelhantes que todos esses perseguem pessoalmente. Vem à tona, então, o verdadeiro Sérgio Moro, um sujeito que não se esconde mais atrás de mensagens no Telegram, mas expõe a si e sua podridão política em seus aliados mais ferrenhos no poder hoje.
Fato que ficou evidente antes de ontem (25), com a entrevista na câmara dos deputados do jornalista e escritor, ganhador do Prêmio Pulitzer, Glenn Greenwald. O jornalista mostrou seu brio e fibras de aço ao combater um a um os ataques pessoais e policialescos dos deputados(as) fascistas. Ao ser atacado pessoalmente e profissionalmente pelos deputados do PSL, Glenn deixou claro a posição firme de suas convicções, ao responder que “Ninguém tem medo do seu partido. Nossos jornalistas estão agora trabalhando nesta reportagem e vão continuar até o final. Nem o seu partido nem o governo Bolsonaro, nem Sérgio Moro podem fazer nada para impedir”. Greenwald disse, também, que haverá ainda mais revelações de acordo com que cada material fique de acordo com o exigente rigor jornalístico do The Intercept Brasil. Fato é que Moro não tem acesso a como, quando, e qual mentira dele será atacada na próxima matéria, isso faz com que ele tenha que se reunir com seus chefes de operação, os EUA; como ele o fez enquanto Glenn Greenwald estava sendo entrevistado, elogiado e atacado na Câmara dos Deputados.
Por maior que tenha sido o fervor em algumas declarações dos deputados fascistas do PSL, na Câmara eles estavam em clara desvantagem perante os demais partidos democráticos. Seu discurso permaneceu, até certo ponto, “monossilábico”, fazendo as mesmas acusações e pedidos de prisão indiretos, falando que Glenn Greenwald era, em si, o hacker; para recuar depois na sentença mais comum entre os reacionários, cunhando em Glenn sua condição de “socialista”. Declara-se, então, toda forma antagônica a este dejeto de governo como socialista. Cunha-se de socialista a liberdade de imprensa, tal qual o simples ato de investigação à um regime democrático burguês.
Mas não se trata aqui de apenas um discurso de partido, de categorização do jornalismo do The Intercept Brasil. Os fascistas têm noção de que as armas que a “democracia” forjou voltam-se agora contra eles, que todas as instituições corruptas que eles (os fascistas) denunciaram em suas campanhas eleitorais são agora parte deles mesmos perante os olhos do povo. Essa fração da burguesia mais reacionária compreendeu, então, que todas as liberdades civis conquistadas pelo povo, como a liberdade de imprensa, se viram agora contra sua dominação de classe. Em vista disso, Moro e seus aliados partiram então em uma campanha contra a liberdade de imprensa, caracterizando-os como “um grupo criminoso organizado”. Porém, a câmara dos deputados vive de debate, que se fomenta tanto nas instituições do estado como na imprensa, e agora os fascistas querem negar o debate, pois estão sem sua antiga imprensa – “Folha de S. Paulo” e o “Estadão” – que publicam e confirmam em seus editoriais a veracidade dos fatos apresentados pela equipe do The Intercept Brasil. Agora esses jornais se ocupam de chamar as principais figuras políticas, renomados intelectuais da literatura e da ciência, doutores em código penal, direitos civis, todos sob as palavras de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” para pautar o que a própria burguesia deve fazer com Sérgio Moro e seu conluio descarado com Deltan Dallagnol. Com essa nova conjuntura, os fascistas não tem senão outra escolha que cunhar toda a mídia liberal atual de socialista tal qual fez com Glenn Greenwald.
“A função da imprensa é ser o cão-de-guarda, o denunciador incansável dos opressores, o olho onipresente e a boca onipresente do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade.” – Com essas palavras, Karl Marx representa exatamente o que se desenvolve em nosso país: estão impedindo a imprensa de cumprir seu papel, e esse ato representa um ataque aos jornais independentes e do povo, em particular o Jornal A Verdade, que há 19 anos cumpre o papel colocado por Marx; como também o independente The Intercept Brasil. No Brasil, de 2010 à 2017, 26 jornalistas foram assassinados somente por exercer sua profissão, tornando nosso país continental o segundo país mais violento com jornalistas na América Latina segundo a ONG internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Na tradição histórica do fascismo no Brasil, a mídia sempre foi perseguida. Após o golpe do Estado Novo, em 1937, aconteceram diversas prisões, censuras, torturas à jornalistas liberais e comunistas, um deles era o renomado e brilhante jornalista Noé Gertel, torturado ao lado do revolucionário, e também jornalista do jornal “A Classe Operária”, Carlos Marighella em 1940 – A resistência heróica de ambos nos porões do antigo DEOPS lhes renderam a imortalidade de suas contribuições no livro Subterrâneos da Liberdade de Jorge Amado -; já após o golpe militar fascista de 1964, tivemos exemplos como o assassinato covarde de Vladimir Herzog sob a farsa de suicídio.
Como vimos, surge dos fascistas uma nova investida contra a liberdade de imprensa, alçados pelas ameaças à vida de Glenn Greenwald, que supostamente faz parte de “uma organização criminosa estruturada”. Não obstante, o fascismo, pela sua incapacidade de governar o estado, melhorar as condições de vida do povo etc., está desmoralizado perante todas as esferas sociais da política atual. Há um espaço aberto e gigante à se conquistar, e assim conquistaremos através da imprensa, das vendas e ampliação do Jornal A Verdade e maior dedicação na construção da imprensa livre de qualquer influência capitalista.
Thales Caramante