Luiza Helena
Militante da UJR
Foto: Daniel Walker
AMÉRICA LATINA – As ditaduras civil-militares perpetradas pelas burguesias nacionais, as forças armadas e apoiadas pelos Estados Unidos abriram na década de 60 um período de exceção e terror em vários países da América Latina. Com o fim da Segunda Guerra, inspirados pelas vitórias da União Soviética, os trabalhadores desencadearam diversos processos revolucionários em inúmeros países, como por exemplo, Cuba e Vietnã.
Em 1946, um ano após o fim da Segunda Guerra, funda-se a Escola das Américas, instituto militar de formação ligado ao Departamento de Defesa dos EUA, com o objetivo de formar oficiais para a luta anticomunista. Desta escola, surgiram nos anos seguintes, aqueles que viriam a ser os ditadores mais sanguinários da América Latina.
O sonho de um mundo melhor transformava-se em realidade, porém o capitalismo jamais perderia sem atacar de todas as formas, e assim, ocorreram diversos golpes por toda América latina. Os primeiros golpes militares na América do Sul ocorreram no Brasil e Bolívia em 1964, posteriormente houveram dois golpes na Argentina (1966 e 1976), e por fim em 1973 no Chile e Uruguai. Além dos países já citados, outros também sofreram golpes militares como Cuba, República Dominicana, Venezuela, Haiti, Nicarágua e Peru, porém em outros períodos.
Foram décadas de violência, assassinatos, tortura, corrupção e ampliação das desigualdades sociais nos países sul-americanos. No caso chileno, por exemplo, Salvador Allende, eleito presidente em 1970, após diversos ataques da oposição, greves financiadas pela CIA, e sabotagens econômicas promovidas pelos EUA, sofreu em 11 de setembro um golpe militar, promovido pelo general-chefe do Exército e membro do gabinete militar presidencial, Augusto Pinochet. Além de mais de 40 mil vítimas de torturas, mortes e desaparecimentos, o governo de Pinochet é o responsável por medidas econômicas como a privatização da previdência social, que colocaram uma enorme parcela do povo chileno, após o fim da ditadura, abaixo da linha da pobreza.
Já a ditadura militar boliviana está diretamente relacionada ao caso do assassinato do revolucionário Ernesto “Che” Guevara. Em 1964, o militar René Barrientos, é eleito vice-presidente da Bolívia, representando junto com o presidente Victor Paz Estenssoro, a burguesia nacional e internacional. Porém um golpe realizado com o apoio dos EUA, coloca Barrientos no poder até 1969. Em 1966 desembarca em La Paz Adolfo Mena González, disfarce utilizado por Che para ingressar na Bolívia e derrubar os militares e instaurar a revolução através da guerrilha. Os planos do heroico guerrilheiro foram interrompidos pelos representantes da CIA, que o assassinaram covardemente. Passaram-se quase 20 anos até a redemocratização no país, deixando marcas até hoje no povo boliviano.
O exemplo da história mostra que a tentativa da conciliação de classes promovida pela socialdemocracia na América Latina é, como diz George Dimitrov, a antessala do fascismo. Nos últimos meses, temos observado levantes por vários países latino-americanos. No Chile, influenciados pelas mobilizações equatorianas, uma onda de protestos tomou conta do país, contra a política neoliberal e pedindo a renúncia do presidente Piñera. Além disso, a fotografia de Susana Hidalgo, do maior protesto no Chile desde a redemocratização, com a bandeira do povo Mapuche, circulou nas redes sociais como exemplo da rebeldia do povo contra a exploração. Os Mapuches representam a luta incansável contra a dominação dos colonizadores, uma luta que durou mais de 300 anos.
No último domingo, dia 10 de novembro, as grandes mídias noticiaram incansavelmente a renúncia do presidente Evo Morales, que teve sua casa invadida, roubada, e sua biblioteca pessoal incendiada, mais um golpe contra a classe trabalhadora e os povos. As fake news, que também foram utilizadas como arma da extrema-direita no golpe de 2016 e na eleição do fascista Bolsonaro em 2018 aparecem como um dos pilares dos últimos acontecimentos bolivianos. Evo Morales assumiu a presidência do país em 2006, mesma década que outros presidentes socialdemocratas foram eleitos na América do Sul. A classe trabalhadora depositou esperanças nas transformações sociais, que embora tenham acontecido, foram fruto de diversas concessões aos poderosos em troca da estabilidade política.
Mais uma vez, aqueles que promoveram as maiores atrocidades contra indígenas, trabalhadores, negros, mulheres, querem uma América Latina submissa e explorada. É preciso unir os povos e resistir novamente contra a burguesia, apoiada pelos EUA, como nossos irmãos já fizeram nas décadas de 60 e 70 em meio a ditaduras militares. Sejamos como os Tupamaros, os Mapuches, os Quilombolas. Sejamos como as irmãs Mirabal, como todos os trabalhadores e trabalhadoras que deram suas vidas para libertar seu povo das opressões. Sigamos em luta!
“No momento em que for necessário, estarei disposto a entregar minha vida pela liberdade de qualquer um dos países da América Latina, sem pedir nada a ninguém” – Ernesto “Che” Guevara.