Por Larissa Mayumi – Movimento de Mulheres Olga Benario
A nós mulheres, dentro da sociedade e do sistema capitalista que vivemos, cabe-nos a responsabilidade do trabalho doméstico e do cuidado dos filhos, além do trabalho para garantir a renda, a famosa tripla jornada. Em tempos de pandemia, muitas mulheres não tiveram o direito ao isolamento social e precisaram continuar trabalhando, como as diaristas, por exemplo, outras mulheres que estão em isolamento social, tiveram que continuar com o trabalho, agora realizado em casa, o famoso “home office” e muitas reuniões online que se tornaram muito comum, pois visam substituir as reuniões e conversas antes feitas pessoalmente.
Tudo isso exige infraestrutura, como computador e internet em casa, além de um ambiente adequado, sem considerar ainda a possibilidade do adoecimento por estresse, que nos afeta de diversas formas, faz com que a nossa saúde mental com o cenário da pandemia acabe desenvolvendo um imenso desgaste emocional e psicológico para nós mulheres.
Para as mães, que têm crianças ou as que cuidam de idosos, o trabalho neste ambiente se torna quase impossível. Isso porque, com o fechamento das creches e escolas ou a impossibilidade de deixar as crianças com as avós, por serem grupo de risco, exige-se a atenção e o cuidado quase que cem por cento exclusivo da força feminina. Se a rede de apoio era pequena, agora é quase nula, e poucas são as famílias em que os pais assumem ativamente as tarefas de cuidado com a casa e com os filhos.
Na ciência, este cenário não se torna diferente. Para estudantes, professoras e cientistas, com a adesão de muitas universidades e escolas ao Ensino à Distância (EaD) as aulas continuaram normal mesmo com o cenário da pandemia. As pesquisas também continuaram por meio das atividades à distância, desconsiderando totalmente a situação em que se encontram muitas mulheres neste momento. Muitas acabam se privando das horas de sono para dar conta deste acúmulo imenso de tarefas, e que apesar de todos os esforços, a produção científica realizada por mulheres despencou.
O cenário científico já era bastante diferenciado entre homens e mulheres, com apenas 28% dos pesquisadores do mundo sendo mulheres (USP, 2019). Ainda que, no Brasil, o número de mulheres pesquisadoras tenha aumentado nos últimos anos, com 40% dos pesquisadores com doutorado serem mulheres. Durante a pandemia, no mundo todo, desde fevereiro, o número de pesquisas de autoria de mulheres caiu drasticamente, enquanto as realizadas por homens aumentaram. (Dados da revista Marie Claire, Globo).
A maior parte das pesquisas de doutorado na área da saúde é feita por mulheres, mostrando a importância de sua pesquisa no combate ao Coronavírus, como exemplo duas cientistas sequenciaram o genoma do coronavírus. As pesquisadoras envolvidas no estudo são Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP e a coordenadora do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE) e Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP e bolsista da Fapesp.
Segundo Sabino, a pesquisa cientifica permitiu identificar as regiões do genoma viral que menos sofrem mutações – algo essencial para o desenvolvimento de vacinas e testes diagnósticos. Vale ressaltar que a maior parte das pesquisas é realizada em instituições públicas, que vem sendo atacadas pelo governo fascista de Jair Bolsonaro e seu ministro da educação Weintraub, com seu projeto de desmonte ao ensino público, com cortes de verba na educação e na ciência.
Mesmo com a tentativa do governo de negar o papel da ciência como um instrumento poderoso para enfrentar os problemas concretos da nossa sociedade, é necessário defender a universidade pública e a permanência dos estudantes, com políticas específicas de acesso, permanência e incentivo para as estudantes.
Uma sociedade que utiliza a ciência, realizando pesquisas que busquem enfrentar os desafios do século XXI que são acabar com as desigualdades sociais e ambientais em nosso país deve ser o nosso caminho, pois as universidades públicas e o conhecimento produzidas nelas são do povo brasileiro.