Luiz Falcão
Diretor de Redação do Jornal A Verdade
RECIFE (PE) – Entre os que lutam pelo fim da exploração e da opressão do regime capitalista e por uma verdadeira revolução socialista em nosso país, não há mais dúvida de que o Partido dos Trabalhadores, o PT, se transformou num partido social-democrata, e que seu objetivo é tão somente minimizar os males causados pelo capitalismo. Prova disso, são as últimas entrevistas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que o PT não tem nenhuma autocrítica a fazer e que seu objetivo é governar “para todas as pessoas. Para o banqueiro e o bancário, o fazendeiro e o trabalhador rural. O que a pessoa tem que saber é que eu vou governar como um coração de mãe.” (UOL, 26/01/2020). Mal sabe ele que o tanto o bancário quanto o trabalhador rural viveriam muito melhor, como de resto toda a sociedade, se o banqueiro e o fazendeiro fossem expropriados, isto é, se os bancos, as terras e os principais meios de produção em vez de pertencerem a uma minoria estivessem sob controle dos trabalhadores.
Ademais, como sabemos, muitos líderes do PT passaram a ter como objetivo de vida o enriquecimento e se envolveram em negociatas. Um desses negócios é o que envolve a empresa de telecomunicações OI e a Gamecorp, empresa de Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula. A OI investiu de 2004 a 2016, período em que o PT estava no Governo, um total de R$ 82,8 milhões na Gamecorp e cobra na Justiça R$ 6,8 milhões por um empréstimo feito há dez anos.
O PCdoB também segue a mesma trilha. Além de propagandear que seu modelo de socialismo é o superexplorador capitalismo chinês decidiu tirar a máscara que usava para esconder sua traição à classe operária e resolveu excluir a palavra comunista e a foice e o martelo da sua legenda. Nada mais coerente para quem já tinha abandonado, na prática, o marxismo-leninismo e quando ocupou o Ministério da Defesa não cansou de elogiar e render homenagens às Forças Armadas que torturaram, assassinaram e esconderam os corpos dos guerrilheiros do Araguaia.
Freio às Lutas
Em consequência dessa política de conciliação de classes, esses partidos atuaram nas duas últimas décadas como freio ao avanço das lutas das massas trabalhadoras. Seus movimentos de moradia não mais realizam ocupações e a CUT e a CTB preferiram se associar à Força Sindical, defender subsídios para os patrões e negociar demissões voluntárias em vez de organizar greves. Até os movimentos camponeses foram contaminados e as ocupações de terra foram diminuindo ano a ano. Pior fizeram a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) que, de entidades representativas e reconhecidas pelos estudantes, hoje estão burocratizadas e perderam o protagonismo na luta da juventude brasileira.
Por tudo isso, ganha extraordinária importância a vitoriosa greve dos petroleiros organizada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e Sindipetros que, após 20 dias de paralisação e apesar da ocultação feita pela mídia burguesa, derrotaram a intransigência e a intolerância da diretoria da Petrobras e do Tribunal Superior do Trabalho e obtiveram várias conquistas.
Mas, apesar de ter sofrido derrotas eleitorais e de atuar para evitar o avanço das lutas operárias e populares (A greve contra a reforma da previdência no ano passado durou apenas um dia), o PT segue tendo relativa influência sobre as massas, consequência das lutas que desenvolveu nas décadas de 80 e 90 e de ter o controle das principais entidades e sindicatos do país.
Porém, de nada adianta, o lamento ou constatar essa traição. É preciso agir e trabalhar cotidianamente para conquistar as massas e atraí-las para as posições revolucionárias. Só com o trabalho revolucionário entre as massas esses setores sairão da inércia e transformarão a desilusão e a frustação com a socialdemocracia em luta contra os patrões, a exploração da burguesia e pelo fim imediato do governo fascista.
Como se Ligar às Massas?
Como superar, entretanto, essa influência da socialdemocracia sobre as massas? As anotações de Lênin no Plano de Teses sobre o Papel e as Tarefas dos Sindicatos trazem importantes reflexões para os comunistas revolucionários sobre como desenvolver o trabalho no seio do povo, vejamos:
“Ligação com às massas:
- Viver no meio do povo
- Conhecer seu estado de ânimo
- Conhecer tudo
- Compreender as massas
- Saber abordá-las
- Conquistar sua confiança absoluta
- Os dirigentes não podem se desligar das massas nem do exército do trabalho.”
Observamos que Lênin apresenta como primeira questão algo aparentemente simples: “Viver no meio do povo”. Este é o primeiro passo para vincular-se às massas, pois, vivendo no meio do povo estaremos mais próximo dele e teremos uma ideia concreta de suas dificuldades e da sua vida. Onde morar não é, portanto, uma questão sem importância ou que não tem relação com o nosso trabalho entre as massas. Essa decisão nos colocará mais próximos ou mais distante das massas. Por outro lado, viver no meio do povo também deve ser entendido como estar atuando numa fábrica ou numa empresa e convivendo diariamente com os trabalhadores e as trabalhadoras.
A segunda indicação de Lênin é para conhecermos bem o estado de ânimo das massas. Com efeito, não é possível lançar uma palavra de ordem, propor uma determinada ação ou mesmo deixar de realizá-la baseando-se apenas na nossa vontade; é preciso saber qual é a disposição daqueles que são realmente a força fundamental para a transformação da sociedade. Assim, para bom êxito no trabalho com as massas, precisamos conhecer sua disposição, seu estado de ânimo, ter uma ideia precisa sobre suas condições de vida e de trabalho, seus anseios e estado de espírito.
Compreender as massas e saber abordá-las são outras importantes exigências apontadas por Lênin. Na realidade, é impossível abordar às massas corretamente se não as compreendemos. Por isso, é essencial conhecer profundamente suas necessidades e dificuldades, o que as inquieta e preocupa.
Mas esse conhecimento só terá valia para nosso trabalho se soubermos abordar as massas. De fato, saber abordar as massas é talvez a principal preocupação de um comunista revolucionário quando realiza o trabalho de base. Chegar até às massas e conquistar sua atenção requer sermos profundamente humanos, ter consciência de que as pessoas têm inteligência, capacidade de discernir, pensam, refletem e têm opiniões e não as mudarão simplesmente porque queremos que o façam. Para ocorrer essa mudança é preciso apresentar fatos, elementos, identificar o que as levaram a pensar assim e ter autocontrole ao apresentar nossos argumentos e ideias.
Muitos acreditam que como o partido é a vanguarda das massas trabalhadoras, o que seus militantes defendem em um belo discurso será automaticamente aceito pelas pessoas. Agir assim é deixar de ser vanguarda, é não entender que só com a persuasão conseguiremos convencer às massas e levá-las à ação. Para educar e elevar a consciência das pessoas, é necessário antes de tudo estabelecer uma identidade ou, como preferem alguns, uma conexão, entre a vanguarda e as massas.
Sem a Participação Direta das Massas não há Revolução
Lênin sempre deixou muito claro que para realizar uma revolução é preciso que a vanguarda seja decidida e firme, mas também enfatizou que não é possível realizá-la se os oprimidos e os explorados não a desejarem, se não houver uma elevação da consciência de milhões e milhões de trabalhadores e trabalhadoras. Ou seja, para a vitória da revolução é preciso contar com a simpatia e o apoio da maioria dos oprimidos e explorados. Ora, só se alcança esse objetivo por meio da própria experiência das massas, conversando com as pessoas do povo, escutando, ouvindo atentamente suas reclamações, estabelecendo uma relação de igual, de pessoas da mesma classe e que têm um interesse comum.
Além do mais, o papel das massas populares para a transformação da sociedade é maior do que o de qualquer indivíduo; logo, a tarefa dos comunistas não é substituir o que é insubstituível, mas sim revelar aos trabalhadores as contradições da sociedade capitalista, explicar por que o patrão é rico e o operário ou camponês são pobres, o que causa o desemprego e os baixos salários, propagar a ideias do socialismo e da revolução e contribuir para o desenvolvimento e a organização do movimento operário e popular. Em outras palavras, não conseguiremos nossos objetivos a não ser por meio da persuasão, da conversa fraterna e respeitosa com o povo e sepultando toda a vaidade, arrogância e presunção comunista.
O último elemento, obter a confiança absoluta das massas, só virá se cumprimos rigorosamente com as indicações apresentadas por Lênin. Isto é, se vivermos no meio do povo, soubermos abordar corretamente as massas e lutarmos ao seu lado, alcançaremos a confiança absoluta das massas.
É importante ressaltar ainda que a vinculação às massas deve acontecer antes, durante e após as realizações das lutas. Com efeito, é comum, camaradas realizarem um bom trabalho de persuasão, conseguirem obter a confiança das massas e desenvolverem as lutas, alcançando importantes vitórias. Porém, após o triunfo dessas lutas se afastam e se desligam das massas, deixam de ter o convívio diário e agem como se a luta do comunista fosse não para transformar a sociedade e fazer uma revolução, mas simplesmente por reivindicações parciais e reformas. Como disse Lênin em seu artigo “Confusão Entre Política e Pedagogia” “É preciso aprofundar e ampliar continuamente o trabalho e a influência entre as massas. (…) Até porque, a debilidade neste trabalho é sempre uma das causas da derrota do proletariado.” Assim, o trabalho entre as massas é um trabalho permanente e sua continuidade é fundamental para o êxito da revolução.
Para cumprir essas tarefas, nosso partido precisa ter quadros preparados, abnegados e dispostos, quadros que sejam formados nas reuniões partidárias, no estudo do marxismo-leninismo, no trabalho prático com as massas, na preparação de suas reuniões, assembleias, mobilizações e lutas. Quadros que superem a autossuficiência e a arrogância, e estejam dispostos a aprender com as massas e não apenas ensiná-las.
É claro que não devemos esperar que a influência da socialdemocracia se evapore do dia para noite ou que acabe após perder uma ou outra eleição. Não podemos nem devemos alimentar essa ilusão, pois somente quando nosso vínculo com as massas se aprofundar, e houver confiança absoluta na alternativa revolucionária que defendemos e representamos, é que os partidos reformistas e revisionistas serão ultrapassados. Dito de outro modo, se seguirmos firmes e de mãos dadas com o povo, mais cedo ou mais tarde, a depender do ritmo do nosso trabalho, a classe operária e o povo acreditarão na sua força e na revolução popular.
Temos certeza de que seguindo essas corretas e importantes indicações de Lênin daremos passos decisivos para aprofundar nossa ligação com as massas. Trata-se de um trabalho que exige amar o povo, ter abnegação e convicção na vitória da revolução, mas, sem dúvida, ao conseguimos êxito, ele tornará o nosso Partido Comunista Revolucionário forte e invencível.
Acertada e coerente análise de conjuntura de todas as tendências que se dizem representar as massas, mas nenhum deles toca na ferida sobre a importância dessa verdadeira ligação com as mesmas para a construção do verdadeiro Partido Comunista Revolucionário. Estamos no caminho certo. Ousar Lutar, Ousar vencer, mas sempre com as forças populares para fazermos a verdadeira revolução que libertará nosso povo da exploração capitalista.