Reproduzimos na íntegra a nota do movimento de mulher que afirma: “Esse não é um caso isolado, é a triste e trágica realidade de ser mulher em uma sociedade machista, patriarcal e capitalista. O Brasil é o 5º país mais violento para as mulheres no mundo!”
Movimento de Mulheres Olga Benario
FLORIANÓPOLIS (SC) – Na manhã da última quinta-feira (26), um dia após a data em que marca o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, uma mulher negra de 27 anos foi assassinada a facadas pelo ex-namorado bolsonarista em Blumenau (SC).
Daiana dos Santos da Silva é mais uma vítima de feminicídio no Brasil! O assassinato aconteceu quando ela chegava no estacionamento do salão de beleza onde trabalhava. A jovem foi atacada, com diversas facadas no pescoço e tórax, pelo ex-namorado Neylor Eduardo de Siqueira Dias, 33 anos, que não aceitava o fim do relacionamento. O autor do feminicídio fugiu sujo de sangue em seguida do ataque e foi preso pela Polícia Militar logo após o crime. Nas redes sociais, ele aparece com filtros de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e publicações repercutindo falas de bolsonaristas.
Na sexta-feira (27), o 8M Blumenau mobilizou virtualmente um ato que aconteceu no centro de Blumenau, com as palavras de ordem “Justiça para Daiana! Justiça para todas!” em protesto às mulheres vítimas de feminicídio na cidade e no estado.
Esse não é um caso isolado, é a triste e trágica realidade de ser mulher em uma sociedade machista, patriarcal e capitalista. O Brasil é o 5º país mais violento para as mulheres no mundo! E segundo dados da Secretaria do Estado da Segurança Pública de Santa Catarina (SSP-SC), somente de janeiro a outubro de 2020 ocorreram 45 feminicídios no estado, sendo que 2019 registrou o maior número dos últimos três anos: 59 casos.
Em diversos estados brasileiros, houve aumento do índice de feminicídio durante o governo Bolsonaro e sabemos que a base ideológica desse governo tem a misoginia como projeto político. São dados que informam mais do que números de mortas. Eles denunciam o descaso do poder público perante todas as mulheres que, apenas por serem mulheres, são alvos dessas e de várias outras violações.
A escalada do extermínio das mulheres está diretamente ligada aos retrocessos promovidos pelo atual governo de Jair Bolsonaro, que se traduzem não só nas declarações repugnantes machistas e LGBTfóbicas feitas pelo presidente e por parte de seus ministros, mas também na destruição das políticas públicas para as mulheres, com desinvestimentos em atendimento, acolhimento, campanhas e educação para autonomia financeira dessa população – sendo as mulheres pobres, mães e negras as mais afetadas.
Um governo que se elegeu com discurso abertamente fascista e contra a vida da classe trabalhadora precisa urgentemente ser derrubado, assim como toda a estrutura machista e patriarcal da sociedade. Precisamos acabar com a cultura de que a mulher é um objeto sexual e uma propriedade privada do homem. É urgente e necessário transformar os padrões machistas e patriarcais, pois o domínio da mulher pelo homem se reverbera em todos os aspectos da sociedade e precisa ser combatido!
É urgente investimentos aos aparelhos públicos responsáveis pelo amparo às vítimas de agressões, tendo à disposição delegacias da mulher abertas 24h, casas de referência (local onde existe encaminhamento e atendimento às vítimas) e casas abrigo (locais onde são transferidas as mulheres em situação de risco) que sejam de fato construídas e efetivadas. É fundamental o incentivo às denúncias entre as jovens, com debates entre as escolas sobre os diversos tipos de violência em que as mulheres estão submetidas.
Por isso, nós do Movimento de Mulheres Olga Benario, organizamos mulheres para lutarem por seus direitos, para dar um basta nessa realidade de viver todos os dias à sombra de dados alarmantes. Fazendo também aquilo que o governo não faz: políticas de combate à violência contra as mulheres.
Construímos três das primeiras ocupações só de mulheres da América Latina, que funcionam como casas de referência para mulher, um lugar de resistência, de acolhimento e de organização das lutas pela vida das mulheres. Também gerando renda, abrindo caminhos e dando novas possibilidades para centenas de mulheres, construindo parcerias com diversos movimentos e inúmeras mulheres anônimas que entendem a necessidade e urgência de estarmos amparadas na construção coletiva de nossos direitos e na defesa de nossas vidas.
Nessa luta seguimos firmes pelo bom, pelo justo e pelo melhor do mundo!
Em justiça por Daiana e pela vida das mulheres!
Olga Benario vive e luta!