“Um governo que privatiza a saúde atende unicamente aos interesses dos planos de saúde privados em detrimento da saúde da maioria da população. Ou seja, busca através da morte do povo pobre o enriquecimento de uma minoria capitalista rica.”
Denise Maia
RIO DE JANEIRO (RJ) – O Sistema Único de Saúde (SUS) atende 150 entre os mais de 211 milhões de brasileiros. É um dos maiores serviços públicos de saúde do mundo. Sua abrangência e universalidade revelam toda a importância que tem para a maioria da população, composta por mulheres, crianças, negros, idosos e pessoas de baixa renda.
Diante disso, fomos em busca da opinião dos dois públicos mais importantes do SUS – o usuário e o profissional de saúde – para saber como um sistema público de saúde impacta a vida das pessoas e por que a privatização do setor é uma ameaça à vida dos brasileiros.
A Saúde Antes do SUS
Muita gente não se lembra ou não sabe, mas o SUS é uma conquista relativamente recente na vida do povo brasileiro. Antes, o que existiu por muitos anos foi o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), que atendia apenas a quem possuía carteira assinada e contribuía para a Previdência. Ou seja, desempregados e trabalhadores informais não tinham direito à saúde pública.
Essa situação levou à criação de um grande movimento social em defesa do direito humano à saúde para todos os brasileiros. “Com o fim da ditadura e a promulgação da nova Constituição, em 1988, o movimento conquistou o SUS e a noção de que o atendimento de saúde deveria ser obrigação do Estado brasileiro”, relembra a Dra. Nayá Puertas, médica da Família e diretora do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro.
Ela explica que o SUS possui três níveis de atenção à saúde: primário, secundário e terciário. O primeiro é composto pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), que são a porta de entrada para o sistema. “São os postos de saúde, que operam próximos aos locais de trabalho e moradia das pessoas, oferecendo consultas e exames de rotina, além de medicamentos e vacinas”. Além disso, existem também as Unidades de Pronto Atendimento (UPA), para casos de urgência, como acidentes, fraturas, infartos e AVCs, por exemplo.
No segundo nível, encontramos serviços especializados localizados em hospitais e ambulatórios, com atendimento direcionado para áreas como pediatria, cardiologia, neurologia, ortopedia, psiquiatria, ginecologia e outras especialidades médicas.
Por fim, o terceiro nível é composto pelo atendimento de alta complexidade em hospitais de grande porte. É aqui que procedimentos que demandam tecnologia de ponta e custos maiores, como os oncológicos, transplantes e partos de alto risco, são oferecidos gratuitamente à população.
“O governo não tem que privatizar a saúde básica”
Atualmente, todos esses direitos estão sob ameaça, uma vez que o governo Bolsonaro já deixou claro que seu objetivo é acabar com a saúde pública e privatizar o SUS. “Privatizar o atendimento básico, como queria o Governo Federal com o decreto 10.530, seria um verdadeiro genocídio, pois o povo pobre e os trabalhadores desempregados deixariam de ter acesso aos serviços de saúde que hoje são oferecidos pelo SUS”, acredita a Dra. Nayá.
Márcia Barnabé, que é usuária do sistema público de saúde no Rio de Janeiro, também é da opinião de que o SUS deve continuar gratuito. “O posto de saúde é importante porque somos atendidos na UPA e depois vamos ao posto pegar remédio grátis. Isso tem uma importância grande na nossa vida, principalmente pra gente que é pobre. O governo não tem que privatizar a saúde básica. Tem que pensar na gente que é pobre”, afirma.
SUS Sob Ataques
Não é segredo para ninguém que a estratégia de sucessivos governos é de primeiro sucatear o SUS para depois vendê-lo. Fazem isso cortando verbas, suspendendo a realização de novos concursos públicos e a contratação de mais profissionais, deixando de comprar remédios e equipamentos para todo o sistema, nos três níveis. “Saio de Cavalcante, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, para ser atendida aqui na terra de bacana (posto de saúde em Copacabana), porque em Cavalcante a saúde está muito ruim”, relata Márcia.
Esses ataques ao SUS explicam, em grande parte, os problemas enfrentados pela população no sistema público de saúde que, com a pandemia, se agravaram. Por isso, é preciso ficar atento para não ser enganado pela falsa propaganda de que “privatizar é a solução”.
“O SUS é um direito conquistado pelo povo. Se não fossem as clínicas da saúde e os postos de saúde, essa pandemia teria causado muito mais mortes”, defende Nayá. “Oferecer atenção básica não se trata de curar a doença, mas de prevenção, que são as vacinas, o acompanhamento da gestante, do bebê quando nasce, do idoso, do adulto, da mulher e do homem”, explica.
Defender o SUS
Sem dúvida, muito ainda terá que ser feito para melhorar as condições de atendimento no SUS. Mas uma coisa é certa: priorizar a saúde pública é garantir a qualidade de vida de uma população massacrada pela desigualdade social. Um governo que privatiza a saúde atende unicamente aos interesses dos planos de saúde privados em detrimento da saúde da maioria da população. Ou seja, busca através da morte do povo pobre o enriquecimento de uma minoria capitalista rica. Por isso, defender o SUS é uma bandeira de luta importantíssima que precisa ser levantada por todo o povo.