Exército e forças policiais tomaram as ruas das principais cidades do país para tentar impedir as manifestações e manter o presidente Jovenel Moïse no poder, mesmo após o fim de seu mandato.
Por Eduardo Leal | Rio de Janeiro
INTERNACIONAL – O Haiti vive a crise mais grave desde o golpe que derrubou, com apoio dos Estados Unidos, o presidente Jean-Bertrand Aristide, em 2004. Desde o dia 7 de fevereiro, data que marca o aniversário de 35 anos do fim da ditadura de Duvalier, manifestações tomaram as ruas da capital Porto Príncipe e de outras cidades do país contra a prisão de 20 opositores do presidente Jovenel Moïse e contra a decisão de prorrogar seu mandato até 2022.
Moïse, aliado dos EUA, fez um governo marcado pela repressão e perseguição política aos movimentos sociais e aos lutadores do povo. São inúmeros os relatos de organizações paramilitares e criminosas apoiadas pelo governo que promovem assassinatos e violência política contra opositores. Em dezembro do ano passado, ficou conhecido o caso do assassinato do presidente do Colégio de Advogados de Porto Príncipe e um dos líderes da oposição, Monferrier Dorval.
Em janeiro de 2020, Moïse dissolveu o congresso e passou a governar o país por decretos. Entre os mais de 170 decretos assinados está o que determinou a criação da Agência Nacional de Inteligência, com agentes que contam com imunidade para investigar supostos atos “terroristas”.
Governo reprime manifestações
Um dia após o golpe de Moïse, partidos de oposição e movimentos sociais anunciaram que não reconhecem mais o atual mandatário do país e exigiram a criação de um governo de transição, tendo à frente o juiz da Corte de Cassação, Joseph Mécène Jean-Louis. A resposta do governo foi ferir a Constituição e exonerar três juízes da Corte de Cassação, Jean Louis, Dabrésil e um terceiro que supostamente também estaria envolvido nos planos de golpe. Dabrésil, que estava preso desde domingo (7), teve uma ordem de liberdade emitida pelo tribunal civil de Croix-des-Bouquets.
O exército e as forças policiais tomaram as ruas para tentar impedir as manifestações. Apesar disso, os protestos continuam e exigem o respeito à Constituição e a saída imediata de Moïse da presidência. Os relatos de violência policial e repressão têm crescido, inclusive contra jornalistas e a imprensa, como denuncia a Associação de Jornalistas do Haiti.
Toda essa repressão não é novidade para o povo haitiano, que lutou anos contra a exploração dos colonizadores, contra o imperialismo norte-americano e seus fantoches e que luta já há muito tempo contra o caos aprofundado pelo atual governo.
Desde 2018, quando eclodiu a crise de desabastecimento no país e as denúncias de corrupção do atual governo, o Haiti tem sido alvo de diversos protestos. É possível afirmar que o governo Jovenel Moïse não teria se mantido de pé se não fosse o apoio da OEA e das forças policiais e militares treinadas pelos EUA. Independente disso uma coisa é certa: o povo haitiano não aceitará calado os desmandos do imperialismo e continuará sua luta pela independência.
Haïti thousands already taking the streets to join other group to protest against Jovenel moise and dictatorship. pic.twitter.com/9IxRbt4TWz
— yvonvilius (@viliusyvon) February 14, 2021