Diovana Nogueira Marino, Rio de Janeiro
Um prédio enorme… amplamente decorado e trabalhado. Havia de um tudo, baldes, mesas, pás, enxadas, banheiro, cadeiras, cisternas… E o grande detalhe: sem qualquer função. Sim, totalmente abandonado no relento do coração do Rio de Janeiro. Ali, na rua da alfandega número 48, estava um grande concreto desperdiçado. E assim se mantinha, ninguém pestanejava, ninguém reclamava da poeira causada pelo vazio. Estava ele jogado nas ruas, que nem o povo pobre do nosso Brasil.
Mas de repente, algo de peculiar acontece: famílias iniciam ali a sua moradia. Ai já vem todo estardalhaço. “Como ousam correr atrás do seu direito à moradia?”, pensam os autoritários. Enquanto desperdiçar uma construção é tranquilo, usá-la para morada é balburdia. E ali se começa toda a operação. Um organização impecável. Comissões se formavam e o prédio mal podia esperar pra se sentir em casa. Tudo em seu devido lugar e as formiguinhas a trabalhar. Famílias e apoiadores, juntos por um lar.
Ao lado de fora, piscavam as cores da guerra, podíamos sentir ali o pisar opressor de quem bastasse um comando ser lançado para nos destruir. Por sorte, havia nossos lá fora, galões de água, peças inteiras de mortadela, agasalhos. Uma grande muralha de gente ali, mostrando que éramos muito maiores do que aquela construção. Palavras de ordem, informações, apoio, companheiragem. Uma sociedade completa por ali, igualdade, sem os “ismos” que perseguem o mundo ao lado de fora dali. Os entulhos, vidros, vergalhões, rapidamente deram lugar a cozinhas, salas de estar, quarto e a belíssima creche. Crianças brincando, correndo, apesar de mais uma vez estarem em uma guerra por direitos. Lá dentro fizemos o que eu senti como Sociedade Perfeita. Igual, justa e Honesta.
Um prato para cada no café, almoço e janta e todos comiam bem.
Que isso se expanda para todo o mundo.
Que toda a terra se torne uma ocupação.
Que todo lugar se torne digno de se morar.
Que todos possam ter tudo.