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terça-feira, 16 de julho de 2024

Como conciliar a luta com a rotina

O capitalismo nos impõe uma rotina cada vez mais extenuante para que possamos sobreviver com salários mais baixos e preços mais altos. Essa também é uma estratégia para nos retirar da luta. Mas como resolver esse problema?

Amanda Rocha – Militante do Movimento de Mulheres Olga Benario


SANTO ANDRÉ – Doze horas diárias de trabalho, contas para pagar, família para cuidar, saúde mental, amigos, vida pessoal, estudar etc. A lista de coisas para fazer na nossa rotina parece sem fim. E junto com ela, vem o cansaço.

Não é segredo para o povo trabalhador que o capitalismo nos coloca em uma situação insalubre de sobrevivência que esgota nosso físico e mental. Então, como é possível conciliar a luta com a nossa rotina?

A exaustão é proposital.

Sabotam o tempo para não nos organizarmos, o salário continua mínimo enquanto o preço das coisas sobe, não há momento ou dinheiro para o lazer. Ou seja, não se preocupam com a integridade física e mental do trabalhador. E o capital sabe disso. Tanto que mantém este ciclo, sempre acrescentando mais doses de sadismo nesta rotina caótica.

Para não deixar a revolta do trabalhador se transformar em luta, cria meios para que esta raiva se torne mero conformismo. Assim, o desespero do povo, a violência e a tragédia se tornam um banquete para a grande mídia, que normaliza tudo de mais horrível que assola este país.

É preciso relembrar, mais uma vez, como as mulheres são as mais afetadas. São mães solos, donas de casa e trabalhadoras, que são oprimidas diariamente por um sistema machista, que as trata como responsáveis por todos os trabalhos domésticos, além de terem que dar conta do trabalho e família, sem ter tempo para seu lazer pessoal e sentindo-se exaustas pela sobrecarga do dia a dia.

Como relata a companheira Erica, mãe, professora e que constrói a Unidade Popular (UP): “É realmente muito desgastante… trabalhar tantas horas e muitas vezes distante, cuidar de toda a logística que envolve cuidar de uma casa para seu pleno funcionamento para atender a todos, ser cobrada de ser forte e estar sempre bem, e ainda parece que é proibido dizer “não”, mesmo quando resulta em uma resposta com um discurso acolhedor, não é raro vir com uma atitude contrária. Não vejo perspectiva de melhora para a vida das mulheres debaixo desse sistema e é daí que persisto na luta. O machismo e o racismo batem todos os dias e em todos os espaços. Isso adoece. Tento conciliar as atividades para equilibrar o melhor possível os momentos de trabalho, repouso e lazer. Não é fácil, mas ajuda também quando conversamos com outras mulheres que passam pela mesma situação. Não resolve o problema, mas alivia e graças a isso hoje não me sinto mais culpada como antes, por coisas que não me cabem. A culpa é desse sistema imposto que nos quer imóveis de tanta exaustão”.

Portanto, retoma-se o questionamento: como conciliar a luta com a nossa rotina?

São nos momentos de organização e de formação popular que se inicia a luta. Com a consciência de classe, direcionamos nossa raiva e frustração para o inimigo principal: o capitalismo. Assim, conseguimos tomar ações realmente efetivas que nos tiram do conformismo.

Panfletagens, colagens, venda de jornais, participação em congressos, votar, debater: todas são formas de transformar a indignação em luta. As ações não precisam ocorrer apenas no tempo livre, podem estar presentes no próprio trabalho, como nas greves e nos lugares de estudo ou no movimento estudantil.

Não é deixar de lado a vida pessoal para militar ou deixar a militância por conta da rotina. É o equilíbrio entre os dois. Por isso os movimentos se constroem coletivamente.

Quando discutimos e trocamos experiências, quando dividimos os afazeres, quando reconhecemos nossos limites e aceitamos as tarefas que somos capazes de realizar, se estabelece uma divisão justa de responsabilidades. E é justamente por essa razão que a luta cresce. Nos unimos e agimos de maneira organizada, construindo um coletivo com o mesmo objetivo: o poder popular.

Portanto, camaradas, continuemos a luta, pois, sem ela, nada do que já foi construído seria possível e nada do que virá se tornará concreto. Para nós a revolução não é um mero sonho. É a realidade, a rotina, é o dia a dia. E ela sempre pertencerá a nós da classe trabalhadora.

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