A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) anunciou com alarde na grande mídia, em fevereiro, a proibição da venda e o uso de pomadas modeladoras e de fixação. Sem alardes, holofotes e qualquer comoção retirou, em 20 de março, a proibição de 934 marcas que haviam sido proibidas. Dois pesos e 2 medidas, a troco de quê?
Renata da Silva | Boituva
BRASIL – Na época, a declaração veio a público, após casos recorrentes de cegueira temporária, forte ardência nos olhos, coceira e vermelhidão da região ocular. Os números divulgados pela agência foram de 780 casos relacionados ao uso das pomadas, segundo as investigações no estado do Rio de Janeiro.
A situação alarmou toda a comunidade das trancistas, pois o produto é um dos principais e mais usados para trançar cabelos, mas o que causou maior divergência entre as trancistas e a agência foi a forma racista e negligente que toda situação foi conduzida.
A princípio, quando a Anvisa anunciou a proibição do produto, o fez de forma totalmente desrespeitosa e racista. Utilizou imagens de tranças para relatar casos de pessoas lesadas pelo produto, fazendo assim uma associação totalmente errada de que os problemas tinham exclusividade em pessoas que usam tranças.
Ainda na comunidade das tranças há denúncias de trancistas que relataram terem perdido agenda e até mesmo credibilidade de suas clientes por terem tido problemas com os produtos, mesmo que já houvessem procurado os fabricantes e até mesmo a própria Anvisa, mas sem nenhuma resposta.
Os casos tomaram visibilidade próximo ao Carnaval, época em que a procura pelos penteados com tranças aumentam. Consequentemente, os casos também aumentaram de forma absurda gerando denúncias e reclamações de pessoas na internet pressionando a agência, que tomou a atitude de proibir todas as marcas de pomadas nacionais e internacionais deixando todas as profissionais, literalmente, sem opção.
Essa decisão causou revolta entre os consumidores porque no mercado encontram-se várias marcas produzindo com responsabilidade e qualidade tais produtos, inclusive, com selo de certificação da própria agência.
Em 17 de fevereiro foi realizada uma reunião online com fabricantes que reuniu mais de 400 participantes com o intuito de achar uma solução para o problema, mas a reunião passou longe disso.
Presenciamos comentários extremamente racistas como: “deveriam proibir, em primeiro momento, somente o uso e comercialização para tranças, pois é de lá que vem a grande causa do problema” falou um dos participantes, seguido de tantos outros comentários que beiram o absurdo.
O impacto que toda essa situação causou foi uma visão ainda mais deturpada das tranças, mas após o caos gerado durante a proibição, nada se falou após as pomadas serem novamente liberadas.
A fabricação das pomadas aumentou significativamente após o sucesso das tranças nagô e o mercado logo surfou nessa onda como fez com produtos para mulheres com cabelos crespos e cacheados.
Quando o problema arrebenta, a primeira coisa que fazem é associar isto aos trabalhadores ao invés de apontar os verdadeiros culpados: os fabricantes das pomadas – certificadas pela Anvisa.
Portanto, mais uma vez, fica transparente que o lucro está acima da vida. Enquanto vivermos no sistema capitalista os burgueses serão os beneficiados. Enquanto os trabalhadores(as) serão prejudicados, como está acontecendo nesse caso das tranças.