Estudar as lutas em defesa do socialismo e contra o fascismo na URSS é fundamental para os dias atuais. O fascismo é, no essencial, uma ditadura terrorista do grande capital para impor o saque das riquezas dos povos e um regime de superexploração sob a classe trabalhadora. Para vencer o nazifascismo, é necessário a derrota do próprio sistema capitalista.
Leonardo Pericles | Presidente da Unidade Popular
HISTÓRIA – Como vimos no artigo A preparação da União Soviética para enfrentar o nazifascismo (A Verdade nº 270), a industrialização teve um papel determinante para o desenvolvimento da União Soviética nos centros urbanos. Era preciso, entretanto, consolidar o socialismo em todo o país. A luta de classes se agudizava em nível internacional, com o nazismo crescendo na Alemanha. A cada movimento desenvolvido pelos bolcheviques para reforçar o poder proletário, ocorria uma reação feroz dos representantes das classes opressoras derrotadas e de seus aliados dentro e fora do país.
Uma das principais lutas para desenvolver a economia soviética foi a coletivização no campo, um grande processo de mobilização social do povo, iniciado em abril de 1929 e concluído na metade da década de 1930.
Essa mobilização consistiu em acabar de vez com o latifúndio e com os camponeses ricos (kulaks) enquanto classe e com a grande propriedade privada no campo. Criarem-se, assim, os kolkhoses e sovkhoses. Os kolkhoses eram fazendas coletivas organizadas sob a forma de cooperativas de camponeses. Já os sovkhoses eram grandes empresas estatais agrícolas, baseadas na propriedade estatal da terra e dos meios de produção.
A coletivização deu as condições para a implantação da Comuna, forma de organização da produção coletiva agrícola em que é coletivizado o conjunto dos instrumentos de produção, representando um estágio mais avançado do processo de coletivização.
O que não foi feito sem grandes enfrentamentos com os latifundiários e os kulaks, que queriam manter seus privilégios e a exploração sob milhões de camponeses pobres. Essa fase marcou a radicalização da luta de classes na URSS e terminou com uma verdadeira revolução dentro da revolução, fundamental para garantir a soberania alimentar do povo soviético.
Os julgamentos de Moscou
Muitos tentaram sabotar os esforços para desenvolver a agricultura e acabar com a fome no país. A cada dia, os debates sobre os rumos do país ganhavam um enorme caráter de massas. Sabotagens, atentados terroristas e tentativas de golpes começam a adquirir grandes proporções e levam o Poder Soviético a ter que defender a revolução e o socialismo.
As investigações e incursões dos serviços de informação do Estado descobrem e abortam uma rede de inimigos do socialismo que há alguns anos se embrenhavam em tentativas de enfraquecer e até derrubar o poder proletário. Vários inimigos do Estado são levados a julgamentos e uma rede de conspirações antissoviéticas é completamente desmantelada durante o final dos anos 1930.
Neste contexto, acontecem os julgamentos de Moscou, realizados entre 1936 e 1938. Estes processos foram conduzidos pelo grande procurador soviético, Andréi Yanuárievich Vichinski.
O primeiro dos julgamentos foi realizado em 1936 e desmantelou uma rede terrorista, que tinha ligações e era financiada pela Alemanha nazista para realizar sabotagens, assassinatos e derrubar o governo.
O segundo processo se inicia em 1937, quando são descobertos e presos agentes do serviço secreto alemão e japonês (os dois países estavam sob governos fascistas).
Em 26 de maio de 1937, foi desmantelada uma conspiração no Exército, comandada pelo marechal Mikhail Tukhatchevski e outros sete generais do Exército Vermelho, que preparavam um golpe de Estado armado, colaboravam com o Serviço Secreto alemão e se empenhavam em destruir e debilitar o Exército Vermelho.
O último dos três famosos “Julgamentos de Moscou” iniciou-se em 02 de março de 1938. Foram julgadas 21 pessoas, dentre elas, Yagoda, chefe da NKVD¹, e Nicolai Bukharin².
Não havia nessa altura muitas dúvidas sobre os verdadeiros inimigos internos e externos. O governo soviético, após meses de investigação preliminar, juntando provas, depoimentos dos julgamentos anteriores e acareações, chegava a uma série de fatos que veremos a seguir.
Em 1932-33, os Estados estrangeiros hostis à URSS formaram um grupo conspirativo denominado “Bloco das Direitas Trotskistas”, acusado de espionagem, sabotagens industriais, políticas e militares contra a URSS. Esses atos terroristas levaram também à morte líderes do governo e do partido, como grande escritor Máximo Gorki e do dirigente Soviético S. M. Kirov³.
O julgamento divulgou, pela primeira vez na história, as atividades das quintas-colunas4 nazistas e suas técnicas de propaganda, espionagem e terror, que já havia obtido enormes êxitos na tomada de vários países da Europa.
A invasão da URSS
Em 1941, a URSS foi invadida pela imensa máquina de guerra dos nazifascistas com o objetivo de esmagar o povo soviético e destruir o socialismo. Neste sentido, uma gigantesca reação a essa invasão foi organizada pelo Partido Bolchevique, que ficou conhecida como a “Grande Guerra Pátria”. A mobilização de todos os povos que viviam sob a bandeira vermelha do socialismo para resistir à invasão e vencer o inimigo.
No primeiro momento, não tendo como impedir a penetração nazifascista, houve um recuo, que, mesmo com muitas perdas, buscou atrair o inimigo para determinadas batalhas que tinham objetivo de impor encarniçada resistência que pudessem ir minando e diminuindo o ímpeto das forças invasoras.
Em seguida, o Estado Socialista e o Partido colocaram em prática todo o acúmulo tecnológico e político conquistado desde a Revolução de 1917 e implementou uma estratégia de aplicar um dos maiores planos militares da história humana, que permitiu que a indústria de guerra soviética, a partir do final de 1942, superasse a indústria de guerra nazista, sobretudo na aviação, dando a URSS a soberania nesta área fundamental para a guerra moderna.
Estes fatores, somados ao firme comando de Stálin e do Partido Bolchevique, foram fundamentais para a contraofensiva geral. Tornando possível, a partir da épica Batalha de Stalingrado, que expulsou os invasores nazistas do território soviético e os encurralou por meio de centenas de batalhas, terminando com a tomada de Berlim, em 1945, batalha que marcou a rendição incondicional do Exército nazista e um passo decisivo para o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Estudar essa experiência é fundamental para os dias atuais. O fascismo é, no essencial, uma ditadura terrorista do grande capital para impor o saque das riquezas dos povos e um regime de superexploração sob a classe trabalhadora. Para vencer o nazifascismo, é necessário a derrota do próprio sistema capitalista.
Enquanto isso não acontecer, o combate continuará e exigirá dos amantes da liberdade, dos verdadeiros democratas, dos revolucionários e, principalmente, dos comunistas, muita capacidade de organizar as amplas massas trabalhadoras e os povos para avançar e criar as condições do triunfo do socialismo em cada país e em escala internacional.
Matéria publicada na edição nº271 do Jornal A Verdade.
Notas:
- NKVD: Criada em 1934, era a Polícia Secreta Soviética. Em português significa: Comissariado do Povo para Assuntos Internos.
- N. Bukharin: Nasceu em Moscou, filho de professores do ensino básico. Estudou economia na Universidade de Moscou, onde também iniciou sua vida política e começou a participar das atividades estudantis, durante a Revolução de 1905. Ingressou no Partido Operário Social-Democrata Russo em 1906, na ala bolchevique. Foi um dos teóricos marxistas mais destacados, além de jornalista e de colaborador próximo de V. I. Lênin a partir de 1912. Após a morte de Lênin, esteve ao lado do partido na luta política contra os trotskistas. Posteriormente, adotou uma política reformista, colocando-se contrário à coletivização e defendeu o enriquecimento dos kulaks. Formou uma “nova oposição”, agora de direita.
- S. M. Kirov: Ingressou no Partido Operário Social-Democrata em 1904. Bolchevique, lutou no Exército Vermelho contra Denikin em 1920. Participou da organização da República Socialista Soviética Transcaucasiana. Em 1930, ingressou no Politiburo. Nesse período, era um dos principais dirigentes do Partido Bolchevique. Foi assassinado em 1934 por um complô antissoviético.
- Quinta-coluna: Termo usado para se referir a grupos clandestinos que trabalham dentro de um país ou região, ajudando a invasão armada promovida por um outro país em caso de guerra internacional, ou facção rival, no caso de uma guerra civil. Por extensão, o termo é usado para designar todo aquele que auxilia a ação de forasteiros, mesmo quando não há previsão de invasão.