No último dia 30 agosto foi realizada mais uma edição da Batalha, em homenagem ao cinquentenário do Hip Hop e contra a violência racista da polícia.
Riqueza* e Kethlyn Kethriny* | São Paulo
CULTURA – No mês de agosto comemoramos 50 anos do nascimento da cultura Hip Hop. Esta data marca a realização, em 1973, de uma festa organizada por Cindy Campbell, B-Girl, grafiteira e produtora cultural responsável pela organização do rolê, e seu irmão Kool Herc, DJ responsável pela condução da festa.
Tal qual as demais culturas e elementos da vida, não surge do nada, mas de um acúmulo. Acúmulo esse que vem, dentre outras coisas, das migrações caribenhas para os Estados Unidos e a marginalização racista, imposta pelo capitalismo, desses povos junto aos povos negros estadunidenses.
Dado este breve salve acerca do que, e de quem materializava o embrião da cultura Hip Hop, nos propomos a falar sobre o protagonismo juvenil sobretudo na música RAP (Rhythm and Poetry), formada por dois dos elementos que constituem a cultura: o MC e o DJ.
Se evidenciou, ao longo destas 5 décadas, a capacidade de descoberta e reinvenção – seja sonora, estética ou política – que as juventudes têm a apresentar para o caminhar da música RAP na história.
Grandmaster Flash, por exemplo, ao lançar pro mundo o clássico “The Message”, lançando não somente uma letra forte e rimando magistralmente, como também produzindo um registro da moda em seu tempo e território, tinha apenas 24 anos. Tupac Shakur e Notorious Big, entraram pra história como dois dos maiores rappers da nossa cultura a nível mundial tendo apenas 25 anos, idade com que, infelizmente, ambos faleceram.
No Brasil não foi diferente. Apesar de chegar em território brasileiro 10 anos após seu nascimento, em 1980 com encontros no pátio da estação de metrô São Bento em São Paulo, tendo pioneiros como: Sharylaine, Sabotage, Negra li e Racionais mc ‘s, a cultura Hip Hop parte de uma gênese parecida com a que teve nos Estados Unidos: a exclusão e marginalização racista imposta pelo capitalismo às juventudes pobres e negras.
Identidade e Resistência
Sendo a periferia composta, em sua maioria, por pessoas negras e totalmente pela classe trabalhadora, é sabido que o sistema educacional do nosso país, que é ditado pelos tubarões da educação, não tem como objetivo incentivar um pensamento crítico na nossa juventude.
E a cultura hip hop chega nos guetos exatamente com essa proposta, onde temos em diversas letras de RAP as vivências periféricas com muitas referências sobre a história do nosso povo nesse país, engajando os jovens a pensarem sobre o sistema capitalista em que vivem, que os oprime e tem como heroína a polícia militar que ainda hoje reproduz, nos guetos, as torturas da ditadura militar, como é relatado no álbum “Sobrevivendo no inferno” de Racionais mc’s.
Ao terminarem o ensino médio, nossos jovens almejam uma educação superior de qualidade, visando entrar e permanecer nas melhores universidades do país. Contudo, quando nossa classe “burla” o sistema dos vestibulares, que tem o objetivo de peneirar quem entra no espaço universitário, nos deparamos com uma face extremamente elitizada da universidade pública, onde não há permanência e nem possibilidade de se enxergar nesse ambiente para classe trabalhadora, preta e periférica.
Esse é o caso da Unicamp, onde três estudantes negros, que constroem o Movimento Estudantil, viram a necessidade de se sentirem mais pertencentes no campus e criaram a “Batalha da Maré”, uma batalha de rima realizada pelo Movimento Correnteza, na Unicamp, que tem como objetivo promover um espaço de encontros e disseminação da cultura preta aos jovens pretos que entram na universidade.
A batalha da Maré acontece uma vez por mês desde Março de 2023 e já chegou a reunir mais de 200 estudantes e jovens, sendo muitos de fora da universidade, que relataram que antes das batalhas nas universidades nunca haviam pisado em uma universidade pública, como é o caso de Vickvi, que participou da primeira edição da batalha, Poeta, Slammer, Mc de batalha e que vive à 3 anos da cultura Hip Hop.
No último dia 30 agosto foi realizada mais uma edição da Batalha, em homenagem ao cinquentenário do Hip Hop e contra a violência racista da polícia, que é extremamente truculenta e promove o genocídio do povo preto a mando do Estado burguês no nosso país, como nos casos recentes da chacina do Guarujá e o assassinato de Mãe Bernadete.
Nessa edição também foi possível confirmar a cultura como um instrumento importante da propaganda do socialismo, onde vendemos 30 Jornais A Verdade, filiamos na Unidade Popular e criamos novos núcleos do Movimento Correnteza na Universidade.
As batalhas feitas dentro das universidade trás uma perspectiva para os jovens, que é a de se enxergar dentro de uma espaço que é da classe trabalhadora por direito. Há uma carência da cultura negra dentro das Universidades e esse é o momento de organizar os nossos jovens para pautar o fim do vestibular, para que cada vez mais possamos ter nossas universidades pintadas de povo.
Viva a cultura Hip Hop que resiste há 50 anos. A arte é revolucionária e o RAP é a revolução!
*Militantes da UJR/SP
Hip hop sempre foi estilo e rua, hoje ta evoluido e mais aceito