E. E. Sapopemba: uma tragédia anunciada

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O descaso do governo causa mais mortes em escolas na periferia de São Paulo.

Beatriz Zeballos | São Paulo


BRASIL – Na semana passada, dia 23, mais uma escola brasileira – localizada na zona leste de São Paulo -, amanheceu com seus estudantes pulando os muros e quebrando as janelas para fugir de um atirador, sujeito que também era estudante e estava se vingando de diversos episódios de violência dentro da escola e do descaso da diretoria e coordenação da instituição.

Resultado de tantos descasos sequenciais: a morte de uma jovem de 17 anos e 3 pessoas feridas.

A grande mídia burguesa tenta encontrar um culpado de maneira rasa, culpabilizando o estudante descontrolado que atirou, que jogava videogames e vivia na internet. Enxergam de maneira micro e interpretam o que lhes convém para não se contradizer, tiram a responsabilidade do governador que os financia e da mídia sensacionalista que perpetua violência como resultado de qualquer relação humana.

Mas afinal, quem é o culpado?

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), filhote político do fascista Jair Messias Bolsonaro, sempre deixou claro em suas comitivas de imprensa e nas atitudes que não teria aumento nos investimentos da educação Estadual.

A falta de concurso público para professores, a degradação de direitos da categoria O, o esvaziamento de profissionais nas diretorias de ensino e o Veto da lei que tornava obrigatório psicólogos e assistentes sociais presentes em todas as escolas estaduais comprovam que Tarcísio nunca prezou pela qualidade de ensino, pela segurança nas escolas e por mais ambientes de convivência agradáveis dentro das instituições de ensino.

A materialização dessas decisões políticas e econômicas do governo se refletem no cotidiano escolar da juventude da periferia que convive com a violência, o abandono e a falta de perspectiva de futuro.

Estudantes que conversaram com o jornal A Verdade denunciaram que a direção da escola sabia das ameaças do atirador e que a mesma não tomou nenhuma medida sobre o fato, ignorando as possíveis consequências. A mesma direção tinha acesso às imagens das câmeras que estavam dentro da sala de aula e presenciaram diversas violências físicas e psicológicas que o atirador sofria por outros estudantes, mas que também não teve nenhuma movimentação para evitar consequências futuras. Os mesmos estudantes denunciaram que no momento do tiroteio a direção não deixou ninguém sair da escola, ocasionando a fuga de diversos estudantes pelos muros e janelas do imovel.

A prioridade do governo nunca foi de proteger as vida dos estudantes das escolas estaduais, se esse fosse o objetivo não haveria investimento em câmeras na sala de aula para o controle da direção, mas sim em profissionais qualificados e bem remunerados que pudesse acolher e ajudar no tratamento de diversos jovens que sofrem cotidianamente com as opressões do sistema capitalista.

É preciso atentar também ao perfil das vítimas do atirador: todas mulheres. Após os quatros anos de governo do fascista Bolsonaro, incitação e crimes de ódio foram “legalizados” pelas atitudes e fala do ex-presidente, tirando do fundo do esgoto os misóginos, racistas, homofóbicos e fascistas abertamente declarados e causando vítimas.

Não é coincidência que as balas do atirador atingissem corpos femininos, é mais um traço fascista que o governo Bolsonaro deixou entranhado em nossa sociedade, que se torna mais gritante e perceptível nas periferias.

Pela falta de investimento público, pelo abandono que a juventude periférica sofre dentro e fora das escolas, pela extrema violência exposta pela mídia sensacionalista e pela falta de contratação e incentivo à vida profissional de educadores, perdemos mais uma mulher, filha, sobrinha e neta de trabalhadores, que hoje mal conseguem ficar de pé por conta do baque; e que amanhã pode vir a acontecer de novo, e depois de amanhã, enquanto o sistema ganhar dinheiro em cima das mazelas do nosso povo.

Essa é a única perspectiva de vida que o sistema capitalista dá aos nossos filhos, irmãos, primos, netos. É preciso que o povo trabalhador se organize para construir um novo mundo onde crianças e jovens voltem vivas de suas escolas.