Stálin formulou diversos textos que descrevem a necessidade de uma organização forte, centralizada, monolítica e que agisse como um punho firme. No texto “A Crise no Partido e as Nossas Tarefas”, publicado na revista “Bakinski Proletari” (“O Proletário de Baku”) em 27 de agosto de 1909, é abordada a crise no Partido e as formas de solucioná-la.
Igor Barradas | Redação RJ
TEORIA MARXISTA – No início do século XX, Stálin e os comunistas revolucionários se encontravam no centro de uma luta encarniçada contra a polícia, o czarismo e o reformismo dos social-democratas. De acordo com o livro História do Partido (Bolchevique) da URSS, não foram fáceis os anos de 1908 a 1912 para os revolucionários russos. Antes da revolução de Outubro, os comunistas haviam sofrido uma derrota na revolução de 1905. Com isso, ocorreu um declínio do movimento revolucionário.
A partir desta situação e com a crescente perseguição da polícia secreta dos czaristas, os bolcheviques aproveitaram as menores possibilidades legais para manter a ligação com as massas e acumulavam forças para o novo auge do movimento revolucionário. O Partido Bolchevique foi fundado somente no ano de 1912, após uma luta contra os mencheviques.
Nesta dura situação criada pela derrota da revolução, o Stálin formulou diversos textos que narram a necessidade de uma organização forte, centralizada, monolítica, como um punho firme. No texto “A Crise no Partido e as Nossas Tarefas”, publicado na revista “Bakinski Proletari” (“O Proletário de Baku”) em 27 de agosto de 1909 é abordada a crise no Partido e as formas de solucioná-la.
Organizações estavam fracas, separadas umas das outras e das massas
A separação entre o Partido e as amplas massas e a separação dentro do Partido dos demais organismos (células e comitês) eram a essência da crise que os comunistas atravessavam. Esses dois fatores enfraquecem a unidade dos princípios que dizem respeito ao programa, à tática e à organização revolucionária.
Para Stálin, o fato de que as organizações do Partido estavam separadas umas das outras e das massas levava a inevitável ausência de um trabalho partidário unificado. A separação dos organismos, na verdade, demonstrava que o Partido estaria doente, atravessando uma séria crise. Essa crise acarretou, na época, na crescente saída de membros do Partido, o menor número e a debilidade das organizações partidárias.
A ligação com a classe operária e todo o povo
O Partido Comunista é invencível se está ligado intimamente à classe operária e a todo povo. Para a direção do proletariado no período de sua luta pelo poder, era necessário um partido que se distinguisse dos velhos partidos social-democratas da Segunda Internacional, partidos de reformas sociais que se afastaram da luta popular. O Partido, portanto, deveria fincar suas raízes em quem o concebeu, ou seja, nas massas.
“Em primeiro lugar, o que pesa particularmente sobre o Partido é a separação entre as suas organizações e as amplas massas. Houve tempo em que nossos organismos tinham em suas fileiras milhares de homens, e arrastavam sob a sua direção dezenas de milhares. O Partido possuía então raízes sólidas nas massas. Hoje não é a mesma coisa. Em vez dos milhares de homens, deles restaram dezenas; no melhor dos casos, centenas. Quanto à direção de centenas de milhares de homens, não vale a pena sequer falar a respeito. É verdade que nosso Partido exerce uma grande influência ideológica sobre as massas, que as massas conhecem-no e o respeitam. Justamente e sobretudo por isso, o Partido de “depois da revolução” distingue-se do Partido de “antes da revolução”. Mas a influência do Partido está toda aí.”
Em segundo lugar, o camarada Stálin pontuou que o Partido sofria não só por sua separação das massas, mas também pelo fato de que seus organismos não estavam ligados uns aos outros. A separação das organizações levava à separação das forças do Partido, à medida em que não se sabia o que era feito de forma unitária nas demais regiões.
“Petersburgo não sabe o que se faz no Cáucaso, o Cáucaso não sabe o que se faz nos Urais, etc.: cada setor vive uma vida à parte. Rigorosamente falando, não existe mais de fato aquele Partido único que vivia uma vida comum, o Partido do qual falávamos com altivez nos anos de 1905, 1906 e 1907. Estamos num período de trabalho artesão dos mais vergonhosos. (…) É verdade que entre as organizações separadas umas das outras há muito de comum, que se liga ideologicamente; que elas têm um programa comum, o qual resistiu à crítica da revolução, princípios práticos confirmados pela revolução, gloriosas tradições revolucionárias. (…) O fato é que a unidade ideológica de suas organizações ainda está bem longe de salvar o Partido do fracionamento orgânico, da separação criada entre seus organismos. Basta indicar o fato de que até mesmo a simples informação escrita não é levada na devida consideração dentro do Partido. Nem falemos sequer na união efetiva do Partido num único organismo.”
A solução estava na organização de um jornal para toda a Rússia e da proletarização do Partido
Para Stálin, a saída dos problemas do Partido se encontrava na criação e organização de um jornal para toda a Rússia, que estivesse no centro do trabalho do Partido e fosse editado na Rússia.
A partir do jornal, seria possível unir os organismos esparsos pela Rússia unicamente na base de um trabalho comum do Partido e ampliar a ligação entre a classe operária através de sua divulgação sistemática.
Ressaltava Stálin que um jornal para toda a Rússia seria o centro de direção do trabalho do Partido, para animá-lo e orientá-lo. As demais matérias, correspondências, reclamações surgidas das fábricas tornariam-se patrimônio coletivo de todos os organismos partidários. E acrescenta:
“Mas para que esses jornal possa verdadeiramente dirigir o trabalho é necessário que das várias localidades afluam sistematicamente pedidos de informações, declarações, cartas, correspondências, reclamações, protestos, planos de trabalho, problemas que agitam as massas, etc.; que entre o jornal e as várias localidades existam os laços mais estreitos, as ligações as mais sólidas; que o jornal, dispondo assim de uma quantidade suficiente de material, possa oportunamente levantar, abordar e ilustrar, quando isso for necessário, determinados problemas, extrair dos materiais as indicações e as palavras de ordem indispensáveis e fazê-las tornarem-se patrimônio de todo o Partido, de todos os seus organismos… “
Portanto, o jornal serviria para crescer a influência do Partido nas massas, aprofundar suas relações com o movimento operário e popular e para fortalecer a ligação de todas as organizações partidárias em um plano único, coeso.
Inspirados e orientados por Stálin, os bolcheviques fundaram em 1912 o jornal Pravda (em português, A Verdade). Este jornal comunista diário foi construído materialmente com base dos recursos financeiros recolhidos pelos próprios operários, possuindo uma difusão que alcançava os 40 mil exemplares. A tiragem de alguns números do jornal atingia 60 mil exemplares.
“Sobre o Pravda no ano de 1912 se cimentou o triunfo do bolchevismo em 1917″, afirmava Stálin ao analisar as condições que os bolcheviques tomaram o poder na Rússia. De fato, sem um jornal, seria impossível em primeiro lugar unificar todas as organizações através de uma educação sistemática em todo país e em segundo lugar, convocar os explorados para a luta contra os exploradores. Aí estava a cura para a crise que atravessava o Partido.