Líder indígena Merong Kamakã é encontrado morto em território ameaçado por mineradora em MG

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Nesta segunda (04/03), foi encontrado morto o líder indígena Merong Kamakã. Merong se encontrava na linha de frente da luta pela retomada do território do povo Kamakã Mongoió, em Brumadinho (MG). 

Redação


LUTA POPULAR – Ainda não se sabe a causa oficial da morte do líder indígena Merong Kamakã, no entanto, a comunidade Kamakã Mongoió já vinha sofrendo, nos últimos meses, ameaças por parte de seguranças privados e policiais militares. A área indígena fica numa região de interesse da mineradora Vale, que continua a explorar diversos territórios em Minas que são reivindicados pelos povos indígenas.

Merong havia se filiado recentemente à Unidade Popular pelo Socialismo (UP), partido pelo qual já havia sido candidato à vereador de Porto Alegre nas eleições de 2020. Em Minas, Merong se mantinha articulado com os movimentos sociais dos quais a UP fazia parte. De acordo com Poliana Souza, do Diretório Estadual da UP-MG, em uma visita recente à comunidade de Merong, ele havia afirmado que a UP “era o único partido em que ele confiava.

É preciso uma investigação rápida e profunda das circunstâncias da morte do camarada Merong. Além dele, dezenas de lideranças indígenas vem sendo ameaçadas e mortas por lutarem em defesa de seus territórios. O agronegócio, as mineradoras, o fascismo e as forças do Estado sempre vem se juntando para perseguir caciques, cacicas e outras lideranças como Merong.

Confira abaixo a nota completa da Unidade Popular sobre a morte de Merong Kamakã.

Merong Kamakã, presente!

Com profundo pesar, informamos que nesta segunda-feira (04/03), o companheiro Merong se encantou. Seu corpo foi encontrado no território Kamakã Mongoió. O povo Kamakã Mongoió resiste numa retomada localizada territorialmente em Brumadinho (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte.

A retomada foi constituída para seguir fortalecendo na luta pela continuidade da existência e autonomia de povos indígenas. Cacique Merong foi uma liderança que deu continuidade na luta daqueles que não aceitam viver sob as ordens dos seus opressores. Seu povo protagonizou um período histórico de lutas por sua própria existência, e suas sementes seguem gerando frutos.

Alguns povos originários – entre eles Kiriri-Sapuiá, Tupinambás, Kamakã Mongoió e Baenã, viveram conjuntamente em território próximo a Vitória da Conquista (BA), até que no começo do século XX foram violentamente expulsos por fazendeiros.

No entanto, a resistência e a luta pela vida e autonomia dos povos culminaram na retomada da fazenda São Lucas, em 1982. Em meio a este processo, a avó de Merong migrou até a região de Contagem (MG), local onde Merong nasceu.

O povo Kamakã Mongoió, junto com o Cacique Merong e a Cacica Katorã, sua mãe, guiam uma luta no território numa retomada que desde 2021, carregando a força dos povos originários que resistem há mais de 500 anos no país.

Em sua trajetória em vida, honrou seu povo e lutou pela identidade da etnia Kamakã Mongoió, e também pela autonomia de outras etnias indígenas.

Desde a retomada, o Cacique Merong e o povo Kamakã Mongoió sofrem com as intimidações e as várias formas de violências feitas por seguranças privados e também pela Polícia Militar. A mineradora Vale, que afirma ser dona daquele pedaço de terra, também é perpetuadora dessas intimidações à retomada Kamakã.

Exigimos que as razões das mortes sejam apuradas!

Exigimos que haja uma investigação idônea para haver justiça para Merong e para o Povo Kamakã Mongoió e demais povos indígenas!

Expressamos nosso profundo sentimento de dor e luta pela sua vida e existência.

Para honrar o Cacique Merong Kamakã uma vida inteira de lutas!

Cacique Merong, presente!

Agora e Sempre!

Não ao Marco Temporal!

Demarcação já!

Unidade Popular pelo Socialismo