A diplomação, além de homenagear estudantes da Universidade de São Paulo (USP) mortos pela ditadura militar fascista, representa a luta contínua por memória, verdade e justiça.
Lucas Simião | São Paulo – SP
MEMÓRIA – No dia 26 de agosto, as famílias de 15 estudantes da Universidade de São Paulo (USP), assassinados pela ditadura militar fascista, receberam os diplomas de seus entes. A cerimônia, realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH/USP), faz parte do projeto “Diplomação da Resistência”, que luta para conceder reconhecimento e diplomas a 31 estudantes assassinados pela repressão.
O evento, organizado por entidades estudantis (CAs e DCE), familiares e pela própria Faculdade, aconteceu no prédio de História e Geografia, onde foram homenageados estudantes dos cursos de História, Ciências Sociais, Letras e Filosofia. Membros dos Centros Acadêmicos entregaram os diplomas aos familiares dos estudantes.
Entre os homenageados estava Helenira Resende, uma corajosa lutadora que dedicou sua vida à emancipação das mulheres e à luta de classes. Yara Narazeth de Souto Santos, sobrinha-neta de Helenira, destacou a importância da luta de sua tia-avó na conquista de direitos e pela democracia: “Helenira mostrou que, sim, aquele espaço pertencia a ela; se fez presente na UNE, no partido, no combate à ditadura. Sua luta abriu caminho para que, hoje, novos espaços possam ser ocupados por mulheres negras”.
Já no dia 28, na Faculdade de Medicina (FMUSP), ocorreu a diplomação de Antônio Carlos Nogueira Cabral e Gelson Reicher, militantes da ALN. Está marcada também uma cerimônia de diplomação na Faculdade de Psicologia (IP/USP) para o dia 30/10. Em dezembro de 2023, no Instituto de Geociências (IGC/USP), houve a diplomação de Ronaldo Queiroz e Alexandre Vannucchi Leme, cujo nome batiza o DCE Livre da Universidade.
Memória, Verdade e Justiça
A luta dos familiares, dos movimentos sociais e do movimento estudantil na busca por justiça foi e continua sendo incansável. O processo de reparação ainda está inacabado, e a diplomação representa um momento histórico e crucial na luta por memória, verdade e justiça. Foram necessários 60 anos desde o golpe, e 30 anos desde o fim da ditadura, para que estudantes perseguidos, torturados e assassinados por lutarem contra esse regime cruel, que levou nosso povo à fome, à miséria e à morte, fossem reconhecidos e homenageados por sua faculdade.
“Ainda sofremos com os resquícios da ditadura militar. Um dos compromissos que precisamos assumir ao sair desta sala é lutar para que os militares da ditadura e seus cúmplices de hoje, como Bolsonaro e Tarcísio, sejam punidos pelos crimes e torturas que cometeram e continuam a cometer contra o nosso povo. A falta de punição a esses assassinos dá aval para que a Polícia Militar continue entrando em nossas casas e nos assassinando a tiros, como fizeram no Rio de Janeiro, onde invadiram a casa de João Pedro e dispararam mais de 70 tiros. Mataram um jovem de 14 anos e foram anistiados”, afirma Dany Oliveira, diretora do DCE Livre da USP. E continua: “Eles fazem isso porque têm certeza de que sairão impunes, mas nós vamos construir as condições para que essa Polícia assassina, os torturadores de ontem e de hoje, sejam verdadeiramente punidos por seus crimes contra o nosso povo, contra a juventude”.
A verdade é que a impunidade concedida aos golpistas e torturadores durante o processo de redemocratização gerou um ciclo de violência e impunidade que perdura até os dias de hoje. Por isso, a luta por justiça e reparação é tão importante.