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sábado, 21 de dezembro de 2024

Estudantes se mobilizam contra violência sexual na USP

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Caso de estupro na moradia universitária da USP gerou denúncias da inação da Reitoria. Junto ao Movimento de Mulheres Olga Benário, mulheres e mães uspianas se mobilizam pela criação da Sala Lilás “Janaína Bezerra Vive” e por um serviço especializado de atendimento às vítimas de violência no campus.

Mariana Rodrigues


No último dia 21/8, a Universidade de São Paulo (USP) foi palco de um novo caso de violência sexual, que chocou a comunidade uspiana. Na saída de um evento, um homem rendeu uma aluna com um simulacro de arma de fogo em uma área arborizada da Praça do Relógio, em clara tentativa de estupro. O agressor e a vítima entraram em luta corporal, da qual ela escapou com ferimentos e o criminoso fugiu deixando para trás o simulacro.

Pouco após o acontecido, sabendo que não podem contar com a burocracia universitária, os próprios estudantes organizaram comissões de segurança para se protegerem mutuamente na volta para casa e dispararam em massa uma denúncia do caso nos grupos de comunicação da comunidade uspiana.

Na sequência, a Diretoria de Mulheres do DCE Livre da USP, entidade cuja gestão conta com a participação do Movimento de Mulheres Olga Benario e o Movimento Correnteza, convocou uma reunião com os coletivos feministas da USP para tomar ações em relação ao ocorrido. Assim, foi chamado um ato em frente da Prefeitura do Campus Cidade Universitária, em paralelo a uma reunião que ocorria entre o órgão e a Diretoria de Mulheres para cobrar medidas por parte da instituição. A Prefeitura se comprometeu a realizar a poda das árvores da Praça do Relógio e anunciou a abertura de uma licitação para a compra de novas lâmpadas.

No mesmo período, Yasmin Mendonça, estudante do curso de Letras e moradora do Conjunto Residencial da USP (CRUSP), e agora militante do Movimento de Mulheres Olga Benario, foi vítima de um caso de estupro na moradia. Em entrevista ao jornal A Verdade, a aluna denuncia a situação que viveu: “Após o ocorrido, me senti totalmente desamparada pela universidade como um todo. Eu fui enviada para a delegacia, depois para a assistência social, para outra delegacia, para a universidade, para a defensoria pública. É uma burocracia feita para te exaurir até que você desista de ter seu caso tratado com atenção. Sem contar com os episódios de ridicularização que passei durante esse período, implorando por uma medida protetiva, que me foi negada diversas vezes e que é única saída para conseguir a expulsão do assediador ao menos da moradia estudantil.”

Após longos dias de luta, o caso de Yasmin ganhou repercussão na mídia comercial. Devido à pressão popular comandada pelos movimentos estudantil e feminista, o abusador, na tarde do dia 12 de setembro, foi expulso da moradia universitária. Yasmin conseguiu uma medida protetiva cautelar, mas a USP ainda se nega a impedir que o agressor continue frequentando as aulas.

Não são casos isolados

Nem o caso de Yasmin e nem o caso da Praça do Relógio são eventos isolados. São frequentes as denúncias e os casos de violência de gênero que ocorrem na USP e chegam ao conhecimento do Movimento de Mulheres Olga Benario. Todavia, a universidade não possui nenhum tipo de serviço especializado para realizar o acolhimento dessas pessoas. Pelo contrário, em suas instâncias, a instituição expõe a vítima a situações constrangedoras e trabalha ativamente para abafar esses casos sem que eles tenham sido sequer solucionados.

Nesse contexto, os núcleos do Olga na USP reivindicam a criação da Sala Lilás “Janaína Bezerra Vive!”, um centro de referência para mulheres e vítimas de violência no campus Cidade Universitária (Butantã) e a criação de uma Sala de Amamentação no campus da USP Leste, para que haja um espaço acolhedor para estudantes mães.

Sobre o projeto, Lisa Topan, militante do Olga USP e estudante de Têxtil e Moda, explica: “O projeto da sala de amamentação e da sala lilás foi produzido pelo Movimento de Mulheres Olga Benário por meio de um edital da PRIP (Pró Reitoria de Inclusão e Pertencimento), que visava recolher “ideias inovadoras” relacionadas à diversos âmbitos, como bem-estar e saúde mental. No entanto, os projetos foram produzidos visando encobrir falhas da própria instituição, que delegou para os próprios estudantes a tarefa de resolver a falta de inclusão das estudantes mães e mulheres na Universidade de São Paulo”.

Não obstante, no início desse ano, o jornal A Verdade publicou a matéria “A USP acolhe as estudantes no combate à violência contra as mulheres?”, em que se denuncia a ausência de serviços de atendimento à mulheres vítimas de violência sexual nos campi da universidade.

Sobre isso, a militante do Olga USP e estudante de Ciências Sociais, Naomi Asato, afirma que “muitas estudantes se encontram sem canais efetivos de denúncia pelos órgãos da própria universidade. Por um lado, os próprios dados de violência são subnotificados. A Guarda Universitária, por exemplo, havia registrado apenas um caso de estupro em 2016 e nove de violência contra a mulher ao longo de 10 anos (2014 a 2024). Por outro, as Comissões de Direitos Humanos dependem do atendimento de professores e representantes discentes de cada curso, de modo que a gestão da Reitoria se desresponsabiliza dos casos. A gente tem entendido que realmente a única solução é nos organizarmos e lutarmos por uma universidade que assegure nossas vidas”.

As estudantes do movimento Olga destacam que a crise não foi inesperada. Em maio de 2024, o Olga, com o apoio do Correnteza, havia realizado uma roda de conversa sobre a Cartilha Verde “Violência contra as mulheres: conhecer para combater”, na cozinha coletiva do Bloco G do CRUSP, chamando atenção para os inúmeros casos de violência que ocorrem na moradia estudantil da USP.

Combater a violência, lutar pelo socialismo

Para o Movimento de Mulheres Olga Benário, as diversas formas de violência contra a mulher são a maneira utilizada pelo homem para exercer seu papel de dominação dentro do sistema capitalista. No mesmo sentido, o assédio, o estupro e a agressão são ataques a integridade física e moral da mulher, na lógica de que são uma forma do abusador afirmar seu poder em relação ao corpo considerado por ele inferior.

Ainda de acordo com o movimento, a USP, quando não toma nenhuma atitude para combater esses crimes, não faz isso por incompetência, falta de recursos materiais ou mau planejamento, mas “de caso pensado”. Na visão das militantes, a universidade sabe dessas ocorrências e tem todos os recursos para acabar com elas, mas seu projeto institucional prefere conviver com a violência de gênero e o racismo para tornar difícil a permanência da classe trabalhadora.

Em vez de criar medidas de combate à violência nos campi, dizem as mulheres do Olga, é cômodo para a USP simplesmente se omitir nesses casos, alegar à mídia comercial que medidas estão sendo tomadas e encobrir as denúncias até que a vítima desista de buscar justiça por conta de tantas dificuldades. A própria base da Polícia Militar da USP fica localizada nos arredores da Praça do Relógio e do CRUSP, mas nada foi feito em favor das vítimas dos recentes casos.

Pouco efetivos para combater crimes reais que têm acontecido no campus, esses mesmos policiais não deixam de marcar presença ostensiva em todas as manifestações e atos organizados na universidade, denunciam as organizações do movimento estudantil.

Após a Revolução Russa de Outubro de 1917, a dirigente bolchevique Alexandra Kollontai afirmou que “a escrava silenciosa de ontem agora é uma lutadora corajosa pela libertação da classe trabalhadora”. Compartilhando dessa concepção, o Movimento de Mulheres Olga Benário defende que a única maneira de colocar fim a esse sistema de opressão e violência é organizando as mulheres estudantes e trabalhadoras na luta.

Frente a situações como o crescimento da violência sexual na USP, as mulheres do Olga vêem como uma de suas tarefas principais a denúncia do projeto precarizador do governo estadual de Tarcísio de Freitas, “o inimigo número um dos estudantes de São Paulo”, e seus aliados na universidade. Além disso, convoca o movimento, é necessário denunciar as contradições existentes e apresentar para as mulheres e todo o povo a única saída para os problemas do capitalismo: a organização da classe rumo à construção da sociedade socialista, livre de todas as opressões.

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