Mulheres trabalhadoras e estudantes da USP organizam lutas para exigir justiça por Bruna Oliveira, vítima de feminicídio na zona leste de São Paulo, e cobram governo de Tarcísio de Freitas e prefeitura de Ricardo Nunes.
Movimento de Mulheres Olga Benario SP
Bruna Oliveira da Silva, de 28 anos, era formada em Lazer e Turismo e iniciava seus estudos de mestrado em Mudança Social e Participação Política na Escola de Artes Ciências e Humanidades da USP. Era uma mulher engajada na luta dos movimentos sociais e pesquisava sobre como o futebol de várzea é expressão do lazer entre homens em situação de rua na periferia. Tinha um filho de 7 anos, uma família que a amava, namorado, amigas, amigos e colegas que para sempre sentirão sua falta e que hoje lutam por justiça.
No dia 13 de abril de 2025, um domingo, Bruna voltava para casa de metrô e desceu na estação Itaquera, na zona leste paulistana. Estava com pouca bateria no celular, perdeu o ônibus que a deixaria em casa e, por conta disso, iria solicitar um veículo por aplicativo. Pediu para a família um pix para pagar pelo transporte, mas nunca mais respondeu às mensagens. Seu corpo foi encontrado quatro dias depois, com marcas de violência, após enormes pressões da família e amigos pela investigação do caso.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o principal suspeito do crime era Esteliano José Madureira, de 43 anos. Ele esteve foragido e foi encontrado morto no dia 24 de abril, com o seu corpo encontrado na Avenida Morumbi, na Zona Oeste da capital paulista.
Governo estadual e Prefeitura lavam as mãos
Esse caso, longe de ser uma exceção, evidencia a realidade de insegurança das mulheres trabalhadoras e estudantes na cidade de São Paulo. O local em que ocorreu o corpo de Bruna foi encontrado é central no deslocamento da região leste do município e torna-se um ambiente de risco para mulheres que utilizam o transporte público pela região. Entretanto, medidas não são tomadas pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e nem pela prefeitura de Ricardo Nunes (MDB), que, pelo contrário, reduziram a verba destinada ao combate à violência contra a mulher.
Conforme mostrou a reportagem publicada na Folha de São Paulo na última semana, o terreno que abriga o estacionamento em que aconteceu o crime pertence à Prefeitura. O espaço foi concedido à Secretaria Municipal da Saúde para a construção do complexo Paulistão Saúde, mas, até então, nada foi construído no local.
A política de segurança pública do Governo de Estado e da Prefeitura de São Paulo não está ao lado das mulheres. Sob a gestão de Tarcísio de Freitas foi possível constatar o aumento da violência policial, sobretudo contra a juventude negra e periférica. Por outro lado, o governo estadual congelou as verbas voltadas ao combate à violência contra a mulher. Em 2024, dos R$ 26 milhões previstos no orçamento para ações de enfrentamento a este tipo de violência, apenas R$ 900 mil foram liberados para execução durante todo o ano. Ao mesmo tempo, segundo dados da própria Secretaria de Segurança Pública da gestão de Tarcísio de Freitas, os crimes de feminicídio e estupro bateram recorde em 2024, chegando a 247 e 14.579 casos, respectivamente.
Estudantes da USP lutam contra violência de gênero
Também não é um caso isolado das estudantes da EACH. Com apenas 20 anos de existência, o instituto da USP coleciona casos de violência contra a mulher. Em 2018, Nelly Venite era estudante do curso de obstetrícia e foi vítima de feminicídio cometido pelo seu namorado. Juno Ferrari era estudante do curso de Marketing e foi também assassinada, em 2022, vítima de transfobia.
Em 2024, as estudantes da USP foram repetidamente vítimas de violência de gênero na universidade. Apenas no Conjunto Residencial da USP (CRUSP), foram denunciados quatro casos de violência sexual cometidos dentro da moradia estudantil. Foi denunciado também um caso de tentativa de estupro na Praça do Relógio, espaço central e de grande circulação do campus Butantã. Esses casos evidenciam a falta de preocupação com medidas de segurança para as estudantes. A Praça do Relógio não possui iluminação adequada e traz uma enorme insegurança para as mulheres que frequentam o espaço. Mesmo após cobrança insistente do DCE Livre da USP e do Movimento de Mulheres Olga Benário, não foram instalados mais postes de luz no local.
Em resposta à inação da universidade frente aos diversos casos de violência, o Movimento de Mulheres Olga Benario reivindicou um centro de referência para mulheres na universidade e realizou uma ocupação com esse fim. A Sala Lilás Janaina Bezerra Vive serviu como local de acolhimento para as vítimas, mas também de espaço de poder popular, permitindo a organização política das mulheres em prol de lutar contra esse sistema que as oprime.
A Sala Lilás foi nomeada em homenagem à estudante de Jornalismo da UFPI que também foi vítima de feminicídio, cometido por um estudante da universidade durante a calourada, dentro do campus. O centro de referência foi despejado pela USP dias antes do início das aulas de 2025, sem que uma alternativa de medidas contra a insegurança das mulheres na universidade fosse oferecida, deixando, assim, as estudantes, professoras e funcionárias sem acolhimento.
Bruna Oliveira presente!
Frente a todo esse contexto de violência, as estudantes, professoras e funcionárias se organizam e cobram da universidade ações efetivas. A USP, e especialmente a EACH, devem se posicionar com firmeza junto ao poder público, exigindo medidas efetivas que promovam a segurança no entorno em que Bruna foi vítima desse brutal crime.
O DCE Livre da USP, por meio de militantes do Movimento de Mulheres Olga Benario, inicia uma campanha pela diplomação como mestra da Bruna Oliveira. Também, pela nomeação da sala de amamentação da EACH, em processo de reforma conquistado pelo movimento estudantil, em homenagem da estudante, que deixa seu filho.
Na última semana, as estudantes e professoras da pós-graduação organizaram uma reunião para debater a continuidade da luta por justiça e contra a violência a que as mulheres estão sujeitas. Com isso, foi realizado um ato em memória de Bruna e por justiça. A manifestação aconteceu na estação Itaquera e contou com a presença da mãe da estudante, além de familiares e amigos, que receberam a solidariedade das mulheres trabalhadoras.