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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Países imperialistas lutam entre si para dominar mais mercados

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Para tentar sair da crise, países imperialistas intensificam a disputa por mercados e zonas de influência no mundo, as custas da morte de milhares e da fome de milhões de pessoas.

Rafael Freire | Redação


EDITORIAL – A crise econômica que afeta hoje grande parte do mundo não surgiu por acaso. Ela é resultado direto da lógica das grandes potências capitalistas, que, ao mesmo tempo em que produzem mercadorias de forma desordenada, empobrecem a classe trabalhadora.

Os próprios operários (sejam os que vivem nos países ricos sejam os que vivem nos países pobres) não conseguem comprar as mercadorias que eles mesmos produzem. Os salários são miseráveis, a renda dos trabalhadores subempregados ou desempregados mal dá para pagar o alto custo dos alimentos, e ainda é preciso pagar aluguel, gastar com transporte e vestimentas, comprar remédios, pagar pela energia, pela água, etc.

Para tentar sair dessa crise, essas mesmas potências intensificam a disputa por mercados e zonas de influência ao redor do planeta, mesmo que à custa da morte de milhares e da fome de milhões de pessoas. Trata-se de uma corrida por lucros que avança por meio da retirada de direitos dos trabalhadores e do agravamento da miséria. Em países como o Brasil, os efeitos são profundos: fome, desemprego e a ameaça constante ao direito de viver.

“Guerra comercial”

Na manhã do dia 12 de maio, EUA e China anunciaram um acordo de 90 dias sobre as “tarifas extras” que um país impôs aos produtos do outro, após a ofensiva do presidente Donald Trump. As tarifas sobre produtos chineses cairão de 145% para 30%, enquanto as tarifas das importações norte-americanas serão reduzidas de 125% para 10%.

Enquanto os EUA aumentam as tarifas para tentar competir com as mercadorias chinesas e demonstrar força, a burguesia chinesa consegue vender produtos a preços muito mais baixos graças aos subsídios estatais e à superexploração da força de trabalho do proletariado chinês e de outros países asiáticos, como Malásia, Tailândia, Camboja e Vietnã. Alguns “intelectuais de esquerda” confundem isso com o sistema socialista, mas não é tão difícil assim ver a floresta por trás das árvores.

Vejamos o que escreveu Eleanor Marx em artigo publicado poucos meses após a morte de seu pai, Karl Marx, em 1883, no qual ela resume alguns dos principais pensamentos do fundador do socialismo científico:

“Suponha que as trocas não foram iguais, que todos os vendedores sejam capazes de vender seus artigos 10% acima de seu valor real. Então, o que todos eles ganham enquanto vendedores, eles perdem de novo enquanto compradores. Novamente, permita que todo comprador compre 10% abaixo do valor do artigo adquirido. O que ele ganha enquanto comprador abandona novamente suas mãos assim que ele se tornar vendedor.

Suponha, finalmente, que os lucros sejam resultado de trapaças. Eu te vendo uma tonelada de ferro por 5 libras, enquanto seu valor não ultrapassa mais do que 3 libras. Neste caso, eu sou 2 libras mais rico, e você é 2 libras mais pobre. Antes da negociação, você possuía 5 libras em dinheiro e eu possuía 3 libras em valor de ferro – juntos, 8 libras. Após a negociação você possui 3 libras em ferro, e eu, 5 libras em ouro – juntos, mais uma vez, 8 libras. O valor trocou de mãos, porém, este não foi criado, e lucros, para serem reais, devem ser valor recém-criado.”

Sendo assim, fica evidente que toda essa movimentação entre as duas maiores potências econômicas do mundo faz parte do jogo de especulações típico da fase imperialista do sistema capitalista, a fase do capitalismo parasitário, em que este já não consegue mais produzir e vender em ritmo crescente e em cujo centro se encontra o capital financeiro e o mercado de ações nas Bolsas de Valores. Isso não produz novas riquezas, apenas tira capital das mãos de uns capitalistas para colocá-lo nas mãos de outros.

Recentemente, EUA e China intensificaram a chamada “guerra comercial”, com aumentos diários nas tarifas extras sobre a importação de produtos de ambos os lados. O que houve de concreto, num período 40 dias, foi que cerca de US$ 600 bilhões deixaram de ser negociados, gerando uma ameaça real de disparada na inflação e nas demissões na população norte-americana, caso o impasse se prolongasse.

No total, 185 países foram taxados pelo Governo Trump com porcentagens entre 10% (caso do Brasil) e 50%. Ainda não está definido como ficarão essas taxas extras a partir de agora. Fato é que, na briga entre os capitalistas, quem paga é a classe trabalhadora, como afirma documento da CIPOML, de outubro de 2024:

“As políticas protecionistas, de restrição monetária e de ‘austeridade’ aplicadas pelos Estados capitalistas estão acumulando os elementos de uma futura crise econômica, causando aumento do desemprego e diminuição dos investimentos, com taxas de inflação, especialmente nos preços de energia e alimentos.

O comércio de matérias-primas, especialmente alimentos, prejudica os países dependentes e seus povos, e o fardo da dívida recai sobre os trabalhadores. O abismo entre renda e riqueza está aumentando; os monopólios aumentam enormemente seus lucros, enquanto os salários e rendimentos reais dos estratos mais pobres e desfavorecidos da sociedade diminuem. Todos esses são sintomas de uma crise cada vez mais profunda, que levou os imperialistas até mesmo a realizar a guerra na Ucrânia [e o genocídio na Palestina, como demonstra o texto abaixo].”

E, mais à frente:

“A classe operária e os povos não podem confiar em uma potência imperialista em sua luta contra outra; eles devem intensificar a luta contra todo o imperialismo. A tese do chamado ‘multipolarismo’, que afirma que existem países imperialistas beligerantes e agressivos e países imperialistas progressistas, nos quais os povos podem confiar para a libertação nacional, é falsa. Não basta lutar apenas contra o odiado imperialismo norte-americano, porque, mesmo que ele seja enfraquecido ou mesmo destruído, outros imperialistas continuarão a saquear e oprimir os povos.” (Conferência Internacional de Partidos e Organizações Marxistas-Leninistas – CIPOML)

Dependência econômica

No caso do Brasil, além de não ter sido revogada a tarifa extra de 10% sobre os produtos importados pelos EUA, essa disputa interimperialista aumenta a dependência do país do modelo de exportação que perdura há mais de 500 anos.

Por um lado, o nosso país exportará mais produtos agrícolas e pouco industrializados para atender à demanda dos países que, antes, trocavam produtos entre si. Economistas burgueses dirão que isso é bom, mas, na realidade, isso agravará a fome no Brasil. Com mais alimentos sendo exportados e menos disponíveis no mercado interno, os preços aqui subirão ainda mais, e teremos que pagar mais caro pela comida.

Por outro lado, caso os produtos industrializados desses países sejam transferidos para o Brasil, isso afetará diretamente a produção industrial nacional, que diminuirá ainda mais, gerando desemprego e acelerando o processo de desindustrialização do país.

Frequentemente, o Governo Federal divulga “resultados positivos” da economia, falando em aumento de renda, mas, ao que parece, esquece que, mês a mês, a inflação abocanha uma parte cada vez maior da renda das famílias mais pobres. Cerca de 80% das famílias estão endividadas e hoje não se compra mais no supermercado o que se comprava há semanas atrás.

Só a luta organizada do povo no Brasil e no mundo, da classe operária, da juventude e das mulheres pode deter a política de guerras imperialistas e de fome gerada pelo apodrecido sistema capitalista e apontar para a construção do poder popular e do socialismo.

Publicado na edição n° 313 do Jornal A Verdade.

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