Corpos das vítimas do Massacre da Penha se encontram no IML e Defensoria Pública é impedida de fiscalizar perícias. Famílias protestam por justiça e pelo direito de enterrar seus mortos.
Chantal Campello | Redação RJ
BRASIL – A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DP-RJ) denunciou, nesta quinta-feira (30/10), ter sido impedida de acompanhar a perícia dos corpos das vítimasa da chacina policial nos complexos da Penha e do Alemão, considerada a mais letal da história, com mais de 130 mortos. De acordo com a instituição, seus representantes foram barrados no Instituto Médico-Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio, sem autorização para entrar na sala de necropsia ou perícia técnica dos corpos.
“Estamos sendo impedidos de exercer um direito elementar de fiscalização pública. Esses corpos não podem ser tratados como números”, afirmou Rafaela Garcez, coordenadora de Defesa Criminal da DPRJ em entrevista em frente ao local.
A decisão de impedir o acesso da Defensoria ocorre justamente no momento mais crítico de uma operação que mobilizou mais de 2.500 policiais que deixou um rastro de violência, desaparecimentos e execuções sumárias. O órgão afirma que a presença de defensores e peritos independentes é essencial para garantir o respeito à integridade das vítimas e evitar fraudes, manipulação de provas ou destruição de evidências.
“A quem interessa impedir o acesso da Defensoria a esses corpos? Para quem busca transparência e contenção de más práticas, não há motivo para barrar nossa presença.”, questiona Rafaela.
De acordo com o deputado federal Tarcísio Motta (PSOL-RJ), uma comissão de parlamentares descobriu que 100 corpos foram necropsiados (periciados) sem nenhum acompanhamento das famílias ou de órgãos de controle como a Defensoria.
Famílias lutam por justiça e para poder enterrar seus mortos
Essa atitude do governo do Rio de Janeiro, sem a oposição do Ministério Público até agora, mostra que a intenção de Cláudio Castro e seus aliados é esconder provas que surgem de que muitas pessoas assassinadas pela polícia nesta terça são inocentes sem envolvimento com o crime organizado.
Enquanto o Estado se fecha, familiares das vítimas se aglomeram na porta do IML, buscando informações sobre seus parentes. Muitos não sabem sequer se os corpos foram identificados corretamente, ou se ainda estão retidos para exames.
No final da tarde de hoje, dezenas de parentes dos mortos ocuparam a Av. Francisco Bicalho, em frente ao IML, em protesto contra a demora na liberação dos corpos. Até agora, dois dias depois da operação, a maioria das famílias não puderam enterraras vítimas do massacre.
Essa operação é parte de uma escalada de violência estatal no Rio de Janeiro, que, nos últimos anos, tem batido recordes de letalidade. Mesmo após determinações do STF para que o governo estadual restrinja ações em favelas e preserve a vida de civis, o sangue segue correndo nas vielas e o controle civil sobre a polícia segue enfraquecido.