UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 6 de outubro de 2024

As mulheres revolucionárias nas lutas do povo

As mulheres revolucionárias nas lutas do povoVítimas de opressão dupla na sociedade de classes, imposta pelo sistema a todos os despossuídos e a específica, que as relega a um papel secundário, o de cuidar dos afazeres do lar, ou as submete a dupla jornada, quando desempenham alguma atividade econômica, as mulheres nunca se conformaram com essa situação. Muitas, sintetizando a força e o desejo contidos nas mentes e nos corações de todas elas, romperam grilhões e preconceitos e se colocaram na vanguarda das lutas, provando aos homens sua capacidade de ocupar as ruas, liderar greves, passeatas, piquetes, enfrentar patrões, polícia, desbravar florestas, empunhar fuzil. Tornaram-se heroínas do povo brasileiro. A Verdade já falou de algumas delas: Anita Garibaldi, Olga Benário, Sônia Angel, Margarida Alves. Em reverência ao seu Dia Internacional, o 8 de março, marcado pelo sacrifício brutal das tecelãs grevistas de Chicago, vamos falar de outras que, entre tantas, marcaram as lutas do povo brasileiro, em diferentes fases da nossa história. Operárias, camponesas, estudantes, intelectuais, valentes, dispostas, bravas lutadoras.

Ana Lins e Bárbara de Alencar, na Confederação do Equador

Alagoana, uma senhora de engenho adepta da liberdade, Ana Lins se engajou nas lutas republicanas de 1817 e 1824, arregimentando escravos e garantindo a sua libertação. Derrotada a Confederação do Equador, não se entregou, lutando até não dispor mais de nenhuma munição. Bárbara de Alencar, foi a heroína da Confederação no estado do Ceará. Chamada de “infame culpada” pelos monarquistas, redimiu-a o poeta Caetano Ximenes, dizendo: “Bárbara aprofundou seus passos no território livre do seu povo”. E ela, sertaneja, se tornou “Iansã, deusa dos ventos, orixá dos pescadores”.

Nas lutas operárias, o vigor e o perfume de uma Rosa

Numa fase em que as meninas brincam com suas bonecas, Rosa Bittencourt já era operária no Rio de Janeiro. Aos sete anos, selava carretéis, aos dez passou para o setor de fiação. Rosa observava as trabalhadoras adolescentes serem molestadas sexualmente pelos chefes e ficava revoltada. Aos doze anos, chegou o seu dia. Um contramestre tentou aproveitar-se dela e recebeu como resposta uma bordoada com um rolo de ferro que estava ao alcance da mão. Ganhou a admiração das mulheres operárias, que fizeram várias manifestações de protesto contra a sua demissão e a garota voltou a trabalhar na mesma fábrica. Era o ano de 1903. Daí em diante, todas as lutas contaram com a participação da valente obreira: pela jornada de oito horas, pelo almoço, por melhores salários e condições de trabalho, na linha de frente das greves de 1919 e 1920. Demissões e prisões foram uma constante, mas Rosa nunca recuou. Quando nenhuma fábrica a aceitou mais, passou a viver de biscates e distribuir boletins de porta em porta, conversando, conscientizando os trabalhadores, especialmente as mulheres. Palavras dessa lutadora: “Cada rua é um jardim, cada porta um canteiro, cada material que eu entrego representa as flores que colho para enfeitar o meu peito cardíaco”.

Abaixo a ditadura do Estado Novo. Viva o Socialismo!

Laura Brandão era participante ativa da Aliança Nacional Libertadora. Poetisa, preferia estar com as setenta operárias que integravam a Ala Feminina da ANL no Rio de Janeiro. Com suas poesias revolucionárias, animava e comovia os trabalhadores na Praça Mauá e no Cais do Porto. A ditadura do Estado Novo (Vargas) expulsou-a do Brasil. Laura foi para Moscou, onde deixou suas últimas poesias e morreu de armas na mão defendendo a capital do socialismo da sanha nazista dos invasores alemães na Segunda Guerra Mundial.

Nas Ligas Camponesas

Muitas mulheres integraram e tiveram importantes funções nas Ligas Camponesas.13,8% dos líderes eram mulheres, entre as quais Maria Celeste, Maria Aquino e as duas que citamos nessa homenagem.
Viúva de João Pedro Teixeira, dirigente da famosa Liga de Sapé (PB), assassinado a mando dos latifundiários em 1962, Elizabete Teixeira ficou com onze filhos para criar, mas não se acomodou. Assumiu o posto do companheiro morto e percorreu o Brasil inteiro, divulgando a proposta das Ligas, defendendo a Reforma Agrária, denunciando a impunidade dos assassinos. Com o golpe militar de 1964, Elizabete passou a viver na clandestinidade, até a anistia decretada em 1979.

Anatália de Sousa Alves de Melo

Potiguar, de Mossoró, mudou-se para Pernambuco e atuou politicamente junto às Ligas Camponesas. Era admirada pelo seu espírito de solidariedade e companheirismo. Depois do golpe militar aderiu à esquerda revolucionária, integrando o PCBR. Presa em dezembro de 1972, não resistiu às torturas. Morreu no dia 13 de janeiro de 1973.

Helenira Rezende na luta contra a ditadura militar.

Quantas deram a vida. Sua juventude. Exemplo e memória. Para simbolizá-las, Helenira Rezende de Sousa Nazareth, que nasceu em 19 de janeiro de 1944 em César Cerqueira (SP). Lenira, Preta, Nira. Participou do Movimento Estudantil, de 1967 a 1970, foi dirigente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Presa no Congresso de Ibiúna, foi solta por meio de ha-beas-corpus, pouco antes da edição do Ato Institucional n.º 5 (AI-5). Militante do PCdoB, passou a viver na clandestinidade e foi para o Araguaia, viver e lutar como camponesa. Pegou em armas junto com os companheiros para defender-se dos ataques do Exército. No dia 29 de setembro de 1972, numa emboscada, recebeu uma rajada de metralhadora nas pernas. Caída e se esvaindo em sangue, revidou o ataque, matando um soldado e ferindo outro. Presa, gritou: “os companheiros me vingarão”. Foi assassinada friamente no local a golpes de baioneta e ali mesmo enterrada. Sua legendária bravura permanece viva, como seu sangue que tingiu de vermelho as águas do Araguaia.

Seguindo seus passos

Estrelas-guias do amanhã. Seu brilho clareia o Brasil, a América Latina, o mundo inteiro. Unidos na luta, de mãos dadas, trilharemos o caminho iluminado por vocês, revolucionárias de ontem, de hoje e de amanhã.

Movimento de Mulheres Olga Benário
(Publicado no Jornal A Verdade, nº 26, março 2002)

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1 COMENTÁRIO

  1. Excelente artigo! E pensar que muitas mulheres renegam o seu passado… Tantas mulheres se sacrificaram “ONTEM” para sermos HOJE o que somos e, às vezes, nem temos consciência disso. O espírito feminino é um só. Desejamos, acima de tudo, liberdade. E as que lutaram, a minha (e a de muitas) eterna gratidão. Ainda há muito para conquistar, ainda há muito que sonhar, muito que lutar. Mas alguns primeiros passos já foram dados, por estas guerreiras.

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