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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Os dias gloriosos da Globo e da Ditadura

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“Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam se unir todos os patriotas para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para os rumos contrários à sua vocação e tradições… Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegem de seus inimigos.” (Editorial do jornal O Globo saudando a derrubada do presidente João Goulart)

A Rede Globo de Televisão foi fundada um ano após o Golpe de 1964, em abril de 1965, fruto de um acordo entre o já consagrado empresário do setor jornalístico Roberto Marinho (dono do jornal O Globo e de emissoras de rádio) e o conglomerado norte-americano Time-Life, que investiu um total de US$ 25 milhões, mais assessoria técnica e comercial.

O acordo chegou a ser investigado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a partir de denúncias de Carlos Lacerda e Assis Chateaubriand, rivais dos Marinho. A CPI concluiu que a criação da TV Globo era ilegal, pois feria o artigo 160 da Constituição Federal, o qual proibia a participação de capital estrangeiro em empresas de comunicação brasileiras.

“A Globo e seu associado norte-americano mobilizaram todos os recursos necessários para uma montagem impecável da emissora. E os dólares fluíram conforme as necessidades iam surgindo. Não havia, oficialmente, qualquer contrato regulando as remessas de dólares. Na CPI, Roberto Marinho declarou que nem sabia quanto estava devendo para Time-Life e que tudo corria simplesmente ‘com a condição de um acerto futuro’”. (Daniel Herz, em A História Secreta da Rede Globo)

O processo de legalização da TV Globo só foi concluído em 1968, quando o general Costa e Silva, ditador-presidente de plantão, resolveu a questão com uma canetada.

“Participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada”, afirmou Roberto Marinho, em 1984, 20 anos após o golpe e já próximo do fim da Ditadura, quando o povo brasileiro saía às ruas em massa para repudiar o domínio dos militares e exigir a retomada da democracia sob a palavra de ordem de [eleições] “diretas já!”.

Após a morte do patrono da família Marinho, em 2003, seus três filhos herdaram todo o poder e a fortuna construída com o sangue de milhares de brasileiros mortos e violentados pela Ditadura. Hoje, segundo os dados oficias (não contabilizados os milhões referentes à sonegação de impostos), a família Marinho é, de longe, a mais rica do Brasil, com um patrimônio estimado em mais US$ 30 bilhões.

A História mostra que o enriquecimento particular foi, de fato, o real motivo pelo qual a família Marinho apoiou todos os atos criminosos dos golpistas e torturadores. Alerta-nos ainda para as recorrentes posturas manipuladoras e contrárias aos interesses do povo brasileiro por parte deste grupo familiar, que traz literalmente, em seu DNA, a tradição golpista.

Médici: “no noticiário da TV Globo, o Brasil está em paz”

Trechos retirados da matéria especial publicada pela Folha de S. Paulo (aliás, o sujo falando do mal lavado), quando da morte de Roberto Marinho, em 2003, dão conta de alguns aspectos da trajetória da Globo no período dos militares no poder:

“A TV Globo ficou associada ao regime autoritário por ter sido porta-voz dos militares e por ter crescido naquele período. As empresas jornalísticas do grupo se adaptaram às regras impostas pelos governantes: o noticiário político desapareceu e o econômico fazia eco aos ‘milagres’ de Delfim Netto e sucessores. Caso célebre de colaboração foi Amaral Neto, o Repórter, programa em que supostos documentários ajudavam a construir a imagem positiva do regime.

Em 1972, o então presidente Emílio Garrastazu Médici chegou a afirmar: ‘Sinto-me feliz todas as noites quando assisto ao noticiário. Porque, no noticiário da TV Globo, o mundo está um caos, mas o Brasil está em paz’.

Casos como as coberturas parciais e enviesadas das greves dos metalúrgicos do ABC (1979), da eleição para o Governo do Rio de Janeiro (1982), a relutância na cobertura da campanha das Diretas Já! (1983/84), a polêmica edição do debate entre os candidatos a presidente Fernando Collor e Lula (1989) marcaram não só a imagem da emissora como de todo o Grupo Marinho.”

Só mais um exemplo: 20 anos após o fim da Ditadura, ao anunciar o reconhecimento do corpo do dirigente da ALN Luiz José da Cunha, o Comandante Crioulo, durante o Jornal Nacional do dia 28 de junho de 2006, a emissora falou que ele havia sido morto em tiroteio com a Polícia em julho de 1973, reproduzindo a versão oficial divulgada à época. A verdade, porém, é que ele foi morto sob torturas, inclusive tendo sua cabeça arrancada do corpo como prova o laudo do Departamento de Medicina Legal da USP.

Por isso que o slogan “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!” vem sendo repetido nas mais diversas manifestações de rua, em diversos episódios históricos, como este pelo qual atravessa o País, em que a emissora defende abertamente o golpe (impeachment) da presidenta Dilma e promove o linchamento midiático do PT e do ex-presidente Lula.

Após todas as mentiras que propagaram, após todos os crimes que ocultaram, as Organizações Globo, hipocritamente, publicaram no jornal O Globo do dia 31 de agosto de 2013 um editorial em que “reconhecem que, à luz da História, o apoio à Ditadura foi um erro”. Esta mesma História, evocada para sustentar o insustentável, não permite, porém, que os falsários permaneçam impunes por toda a vida. Mais cedo ou mais tarde, chegará a hora do acerto de contas do povo brasileiro com a família Marinho.

Rafael Freire, diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)

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