Durante o mês de outubro, centenas de escolas foram ocupadas por alunos em todo o Brasil, como protesto contra a Reforma do Ensino Médio e a PEC 241 (agora PEC 55). A primeira escola ocupada foi o Colégio Estadual Padre Arnaldo Jansen, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba; depois dela, ocupações se espalharam por todo o país, sendo o Paraná o Estado onde se concentraram a maioria.
Uma dessas ocupações, em Campo Largo, outra cidade vizinha à Capital, foi a do Colégio Estadual Augusto Vanin. Os estudantes ocuparam a escola no dia 11 de outubro e se mantiveram focados em resistir ao desmonte do ensino público, apesar de todas as dificuldades que enfrentaram, desde a hostilidade de pais contrários à ocupação até o total isolamento em que ficaram pela falta de atividades oferecidas por pessoas externas à comunidade escolar.
Localizado no Jardim Rondinha, na periferia da cidade, o colégio, enquanto ocupado, foi exemplo de organização e cuidado por parte dos estudantes, que tiveram a primeira oficina apenas no dia 3 de novembro, pois as ocupações em áreas periféricas sofreram com a escassez de atividades, como oficinas de arte. Apesar disso, na Ocupação do Vanin, os alunos não se desmotivaram e se mantiveram ocupados limpando as instalações e fazendo cartazes contra a Reforma e contra a PEC.
Além disso, para não ficarem sem nenhuma atividade, os alunos buscaram ter aulas por de maneira informal com os professores que apoiam as ocupações, mas o Governo do Estado do Paraná, de forma autoritária, ameaçou de demissão aqueles que entrassem em alguma escola ocupada. Deste modo, os professores que apoiaram os alunos tiveram de se limitar a levar alimentos e materiais de higiene no portão do colégio.
Diante deste quadro, a primeira oficina ofertada foi de Teatro do Oprimido, que eu mesma promovi. Desenvolvido pelo teatrólogo Augusto Boal, na década de 1970, esse método propõe transformar o espectador em ator, tirando-o do papel passivo, despertando nele que cabe ao homem transformar a própria realidade, fazendo-o pensar sobre as relações sociais estabelecidas em uma sociedade de luta de classes. Importante lembrar também da falta de incentivo que existe para a produção e circulação de arte na periferia, e a dificuldade das pessoas que moram nessas áreas em ter acesso a diferentes produtos culturais, pois isso envolve questões como, por exemplo, a mobilidade urbana.
Os alunos receberam o tema de forma aberta, participaram ativa e conscientemente dos exercícios propostos, que giraram em torno de assuntos como as próprias ocupações e o modo como a mídia está retratando este fenômeno, o conflito entre trabalhadores rurais e latifundiários, a fama de políticos notoriamente racistas, a marginalização dos moradores de rua e a seletividade da justiça. Bertolt Brecht dizia que o teatro, mesmo quando didático, não deve ser enfadonho, e os alunos do Vanin, em sua primeira experiência com a prática teatral, conseguiram captar isso. Embora tocassem em pontos sensíveis e polêmicos, os alunos se divertiram durante a oficina, não deixando de lado, entretanto, a reflexão sobre o que faziam.
Quando questionados sobre o que mudou após estarem ocupando o colégio, foi unânime a resposta de que todos passaram a desenvolver um senso de coletivo que antes não tinham. Passaram a conhecer melhor seus colegas, a respeitar as diferenças e a valorizá-las, a ver como uns precisam dos outros. Um dos estudantes comentou que, durante a ocupação, ele percebeu que não é a nota que define a inteligência de um aluno, pois ali estão pessoas com características bem diferentes, e um reconhece no outro a sua importância.
No Estado governado por Beto Richa, que, desde o dia 29 de abril de 2015, representa o que há de mais sórdido em relação aos professores, os secundaristas mostraram que não aceitarão calados a retirada de direitos perpetrada por um governo golpista. Em tempos sombrios, nos quais direitos como saúde e educação estão ameaçados, em que vemos dia após dia a tentativa de criminalização dos movimentos sociais, os alunos da Ocupação Vanin são um raio de esperança. São jovens que sabem pelo que lutam e o mais importante: a forma como lutam e a importância em pensar no coletivo.
Manifestação de alunos é reprimida
Os alunos que ocupam o Colégio Estadual Augusto Vanin fizeram um ato, no último dia 04 de novembro, em Campo Largo. Eles levaram cadeiras na tentativa de fechar a Av. Padre Natal Pigatto, mas foram reprimidos pela Guarda Municipal, que quebrou algumas cadeiras e agrediu os estudantes verbal e fisicamente. Um ônibus e um motociclista tentaram atropelar quem participava do ato; transeuntes também foram hostis, agredindo verbalmente os adolescentes.
Os alunos optaram por desocupar a escola pela manhã do dia 05. Eles iriam esperar a chegada do oficial de justiça, mas, no mandado que expedido pelo Tribunal de Justiça Estadual está que o oficial deveria identificar os envolvidos na ocupação.
Por fim, fica a pergunta: quem disse que não houve aulas no Vanin em todos esses dias?! Muitas lições foram aprendidas por todos!
Carolyne Dornelles, produtora teatral no Paraná