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sexta-feira, 29 de março de 2024

Os comunistas e o movimento negro

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Em homenagem ao Dia da Consciência Negra (20 de novembro), A Verdade publica uma resolução política da 3ª Internacional Comunista sobre a Questão Racial, aprovada no 4º Congresso da IC, realizado em Moscou, em 1922.

Ao contrário do que afirmam a burguesia e os adversários do marxismo-leninismo, os comunistas sempre levaram em conta a importância da questão racial dentro da luta de classes, especialmente nos países dependentes e coloniais. Marx e Engels, no Manifesto Comunista, convocaram os “proletários de todos os países”, sem distinção de raça ou nacionalidade, a unirem-se na luta contra o poder do capital. Após a Revolução de Outubro de 1917, a luta de emancipação dos povos oprimidos teve enorme impulso, bem como a luta por igualdade racial no interior dos próprios países imperialistas.

De fato, enquanto nos Estados Unidos os negros eram espancados, enforcados e incendiados nas ruas, na União Soviética era aprovada, em 1936, a primeira constituição do mundo que condenava categoricamente o racismo. Também, foram os comunistas os organizadores e mais destacados combatentes dos movimentos de libertação nacional na África, Ásia e América Latina.

Hoje, quando a burguesia intensifica a exploração sobre os trabalhadores, os mais prejudicados são, sem dúvidas, os trabalhadores negros, especialmente as mulheres negras. Para estes estão reservados os piores serviços e os salários mais baixos. Portanto, a luta pelo fim do capitalismo e pela construção de uma sociedade socialista, onde não haja a exploração entre os seres humanos, é uma luta também do povo preto. Viva Zumbi! Abaixo o racismo e a exploração capitalista! Viva o 20 de Novembro!

Resolução da Internacional Comunista sobre a Questão Racial

Durante e depois da guerra um movimento revolucionário começou a desenvolver-se entre os povos coloniais e semicoloniais, e este movimento ainda desafia a dominação do capital mundial. Portanto, se o capitalismo continuar, ele deve entrar em acordo com o problema cada vez mais difícil de como intensificar a colonização das regiões habitadas por pessoas negras.

O capitalismo francês reconhece claramente que o poder pré-guerra do imperialismo francês só pode ser mantido através da criação de um império franco-africano, defendido por uma ferrovia trans-saariana. Os magnatas financeiros americanos (que já exploram 12 milhões de negros em seu próprio país) começaram uma invasão pacífica da África. O fato de que a Grã-Bretanha, por sua vez, teme qualquer ameaça à sua posição na África é claramente mostrado pelas medidas extremas que tomou para reprimir as greves na África do Sul (isso refere-se à greve de Rand, em 1922, numa época na qual o lema dominante era “Por uma África do Sul branca”. O Partido Comunista apoiou a greve, enquanto apelava à unidade dos trabalhadores negros e brancos).

Embora a concorrência entre as potências imperialistas no Pacífico cresceu com a ameaça de uma nova guerra mundial, a rivalidade imperialista na África também desempenha um papel sinistro. Finalmente, a guerra, a revolução russa e a rebelião anti-imperialista entre os povos asiáticos e muçulmanos têm despertado a consciência de milhões de negros que durante séculos foram oprimidos e humilhados pelo capitalismo na África, e, provavelmente, ainda em maior grau na América.

A exploração dos negros nos Estados Unidos

A história dos negros norte-americanos preparou-os para desempenhar um papel importante na luta de libertação de toda a raça africana. Há 300 anos, os negros norte-americanos foram arrancados da sua terra natal africana, transportados para a América em navios negreiros e, em condições indescritivelmente cruéis, vendidos como escravos. Por 250 anos, eles foram tratados como gado humano, sob o chicote do feitor norte-americano. O seu trabalho limpou as florestas, construiu as estradas, cultivou o algodão, construiu as ferrovias nas quais repousa a riqueza da aristocracia do sul dos EUA. A recompensa para seu trabalho era o analfabetismo, a pobreza e a degradação.

Os negros não eram escravos dóceis. A sua história é cheia de revoltas, rebeliões e de uma luta clandestina pela liberdade. Mas todos os seus esforços para se libertarem foram violentamente reprimidos. Eles foram torturados, enquanto a imprensa burguesa justificava a sua escravidão.

Quando a escravidão se tornou num obstáculo que impede o desenvolvimento pleno e irrestrito dos EUA para o capitalismo, quando esta escravidão entrou em conflito com a escravidão do trabalho assalariado, ela teve que ceder. A guerra civil, que não era uma guerra para a emancipação dos negros, mas uma guerra para a preservação da hegemonia industrial do Norte, confrontou os negros com uma escolha entre o trabalho forçado no Sul e a escravidão salarial no Norte. O sangue, suor e lágrimas dos “emancipados” negros ajudaram a construir o capitalismo norte-americano e, quando o país, que agora se tornou uma potência mundial, foi inevitavelmente puxado para a Primeira Guerra Mundial, os negros norte-americanos ganharam igualdade de direitos com os brancos… para matar e para morrer pela “democracia”.

Quatrocentos mil proletários de cor foram recrutados para o exército norte-americanos e organizados em regimentos especiais. Estes soldados negros mal tinham retornado do banho de sangue da guerra antes de serem confrontados com a perseguição racial, linchamentos, assassinatos, a negação dos direitos, a discriminação e desprezo geral. Eles lutaram, mas pagaram caro pela tentativa de fazer valer os seus direitos humanos. A perseguição de negros tornou-se ainda mais difundida do que antes da guerra, e os negros mais uma vez aprenderam a “conhecer o seu lugar”. O espírito de revolta, inflamado pela violência pós-guerra e da perseguição, foi suprimido, mas os casos de crueldade desumana, como os eventos em Tulsa City, Oklahoma, ainda incendeiam os ânimos novamente. Isto, somado à industrialização do pós-guerra dos negros no Norte, coloca os negros norte-americanos, em especial os do Norte, na vanguarda da luta pela libertação dos negros.

A Internacional e o movimento negro

A Internacional Comunista está extremamente orgulhosa de ver os trabalhadores explorados negros resistindo aos ataques dos exploradores, uma vez que o inimigo da raça negra e o inimigo dos trabalhadores brancos são o mesmo: o capitalismo e o imperialismo. A luta internacional da raça negra é uma luta contra o inimigo comum.

Samora Machel, comunista moçambicano e líder da guerra de independência contra Portugal

Um movimento negro internacional com base nesta luta deve ser organizado: nos Estados Unidos, o centro da cultura negra e do protesto negro; na África, com a sua reserva de mão-de-obra humana para o desenvolvimento do capitalismo; na América do Sul e Central (Costa Rica, Guatemala, Colômbia, Nicarágua e outros países “independentes”), onde o domínio do capitalismo norte-americano é absoluto; em Porto Rico, Haiti, São Domingos e outras ilhas do Caribe, onde o tratamento brutal dos nossos irmãos negros pela ocupação norte-americano provocou um protesto em todo o mundo de negros conscientes e trabalhadores brancos revolucionários; na África do Sul e Congo, onde a industrialização crescente da população negra levou a todos os tipos de revoltas; e no leste da África, onde as incursões do capital mundial levou a população local a iniciar um ativo movimento anti-imperialista.

A Internacional Comunista deve mostrar aos negros que eles não são os únicos a sofrer a opressão capitalista e imperialista, e que os trabalhadores e camponeses da Europa, Ásia e América também são vítimas do imperialismo; que a luta negra contra o imperialismo não é a luta de um único povo, mas de todos os povos do mundo; que na Índia e na China, na Pérsia e Turquia, no Egito e Marrocos, os povos oprimidos não-brancos das colônias estão lutando heroicamente contra os seus exploradores imperialistas; que esses povos estão se levantando contra os mesmos males, ou seja, contra a opressão racial, desigualdade e exploração, e estão lutando pelos mesmos fins – emancipação política, econômica, social e pela igualdade.

A Internacional Comunista representa os trabalhadores e camponeses revolucionários de todo o mundo na sua luta contra o poder do imperialismo. Ela não é apenas uma organização dos trabalhadores escravizados brancos da Europa e da América, mas é também uma organização dos povos oprimidos não-brancos do mundo, que assim incentivam e apoiam as organizações internacionais dos negros na sua luta contra o inimigo comum.

O movimento negro e a revolução

Amílcar Cabral e Fidel Castro em Havana

A questão negra tornou-se parte integrante da revolução mundial. A Terceira Internacional já reconheceu a valiosa ajuda que os povos de cor asiáticos podem dar à revolução proletária, e ela percebe que nos países semicapitalistas a cooperação com os nossos irmãos negros oprimidos é extremamente importante para a revolução proletária e para a destruição do poder capitalista. Portanto, o IV Congresso da Internacional dá aos comunistas a responsabilidade especial de vigiar de perto a aplicação das “Teses sobre a questão colonial” à situação dos negros.

O IV Congresso considera essencial apoiar todas as formas do movimento negro que visam minar ou enfraquecer o capitalismo e o imperialismo ou impedir a sua expansão.

A Internacional Comunista lutará pela igualdade racial de negros e brancos, por salários iguais e igualdade de direitos sociais e políticos.

A Internacional Comunista vai fazer o possíveil para forçar os sindicatos a admitirem trabalhadores negros onde a admissão é legal, e vai insistir numa campanha especial para alcançar este fim. Se esta não tiver êxito, ela irá organizar os negros nos seus próprios sindicatos e então fazer uso especial da táctica da frente única para forçar os sindicatos gerais a admiti-los.

Por fim, a Internacional Comunista vai tomar imediatamente medidas para convocar uma conferência ou congresso internacional negro em Moscou.

Extraído das Resoluções do IV Congresso da Internacional Comunista, realizado em Moscou, em 1922.

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1 COMENTÁRIO

  1. REBELDIAR

    EU NÃO CORRO MUNDO PARA CAIR MORTO,
    CORRO MUNDO PRA DIZER QUANTO SOU TORTO.
    PARIDO DA LAMA, DO MANGUE, DA AREIA,
    DO BARRO E DO SOL A PINO QUE SERPENTEIA
    MONTANHAS, PEDRAS, LAGOS, RIOS, LADEIRAS,
    MATAS, CERRADOS, CAATINGAS, POEIRAS,
    LAGARTOS, LOBISOMES E TUDO MAIS,
    QUE INFESTAM AMARGOR NOS CANAVIAIS.

    LEMBRANÇA SERENA QUE SUFOCA O SER
    PAIRANDO SOFREGA DOR, AO SE QUERER,
    FORTUITA E NEFASTA É LAMÚRIA DE MEDO.
    EXPLODE NOS ARES, EXPANDE O SEGREDO,
    DE VIDA, DE MORTE, DE TUDO ENFIM,
    POIS HERÓI AO JAZER DESPERTA ESTOPIM.
    GEMIDOS DISTANTES ASSUSTAM O ALGOZ
    QUE VINGA O CANTO ARREBATANDO A VOZ.

    CUIDADO VILÃO QUE AO NASCER SE FORJA
    NA DESGRAÇA DA VÃ PLEBE, LOGRA CORJA,
    EXPANDINDO TERROR COM O PRESSENTIR
    DA BUSCA INSANA E DESIGUAL NO PORVIR;
    COM GANÂNCIA, LUXÚRIA, DOUTOS PECADOS,
    RÁBULAS INFELIZES, AFUGENTADOS,
    TINGEM DE NÉCTAR CLAMORES DESUMANOS
    COMO DEUSES EMBRIAGADOS, INSANOS.

    DAS PROMESSAS BRAMIDAS MIL SÓIS SE EIVAM
    POR ENTRE ECOS, RAIOS QUE SE ENFEIXAM,
    DESENLAÇAM SONHOS. LOUCAS REBELDIAS
    VIRÃO, ANTES QUE OS DESEJOS, ARREDIAS,
    DECERTO DESCALSAS, DESNUDAS, SEM TRONOS;
    MAIS FORTES, DE FRONTES ERQUIDAS SEM DONOS,
    ENTRANDO NAS ALMAS, NAS MENTES SUTIS,
    DESFIANDO FLORES DESARMAM FUZIS.

    E TU QUE NADA FOSTES SENÃO VAIDADE
    RELES, ARRAIGAS PROPOSITAL DESUMANIDADE.
    JAMAIS COMPREENDEREIS O FERVOR QUE SOBRESSAI
    DAS ENTRANHAS DA MÃE TERRA E QUE SE ESVAI
    DE MENTE EM MENTE, DE CORAÇÃO EM CORAÇÃO,
    FORJANDO EM CADA ALMA ÁVIDA PAIXÃO
    QUE NEM A MORTE, TAL ÍNGREME VERDADE,
    IMPEDIRÁ O GRITO UNÍSSONO POR LIBERDADE.

    E SE OUVIRÃO, ENFIM, DAS TREVAS DO ÓDIO AMARGO,
    RESVALAREM RAIOS A VAGAR COM TODO AFAGO,
    DENEGANDO ÀS ARMAS BAIONETAS LUZENTES;
    ELEVANDO-SE DOS BRADOS ENCANDESCENTES
    O AMOR VISLUMBRANTE, CAPAZ DE INSINUAR,
    PARA O OFERTÓRIO SE ESTENDER EM ALTAR,
    AOS SUPREMOS DEUSES SAGRADOS DESTEMIDOS,
    SEPULTANDO AD AETERNUM TODOS OS GEMIDOS.

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