UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

“Trabalhador tem que ser tratado com dignidade”

Outros Artigos

A Verdade entrevistou Radamés Cândido, 46 anos, eleito presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Limpeza Urbana da Paraíba (SINDLIMP-PB) e membro da Coordenação Nacional do Movimento Luta de Classes (MLC). Radamés é filho de uma família humilde de Pernambuco, trabalhou no corte da cana de açúcar e na indústria de calçados.                 

Rafael Freire, Paraíba

 

A Verdade – Como você iniciou sua militância sindical?

Eu trabalhava numa indústria de calçados, em Carpina, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, e, em 1996, recebi um convite para entrar na chapa da nova diretoria do sindicato, que tinha base estadual e sede em Recife. Nosso trabalho foi tão efetivo nesta fábrica que, no final de 2003, decidimos fundar um sindicato de base municipal porque a direção do sindicato estadual traiu a luta dos trabalhadores. Desde então, o sindicato de Carpina tem sido uma fonte de formação de dirigentes sindicais que têm contribuído em muitas frentes de batalha através do Movimento Luta de Classes. Posteriormente, me mudei para a Paraíba e passei a trabalhar na limpeza urbana de João Pessoa.

Quais são os principais problemas vividos pelos agentes de limpeza na Paraíba?

No serviço da coleta domiciliar, por exemplo, os trechos que enfrentamos são muito extensos e existe uma pressão enorme das empresas para cumprir tudo dentro do prazo que eles estabelecem, e não dentro de um tempo justo. A gente tem que literalmente correr atrás dos caminhões. E cada vez mais a população cresce e produz mais lixo. Temos mais trabalho e carregamos mais peso em cada trecho. No serviço da varrição, sofremos com o sol forte o dia inteiro, com o barulho do trânsito, o perigo de ser atropelado quando estamos limpando os canteiros. Não existe nenhum investimento em treinamento, em renovar a frota de caminhões e até mesmo coisas essenciais, como pás e vassouras. Sem falar no tratamento que recebemos por parte das empresas, que, muitas vezes, nos tratam como “Zé Ninguém”, como mais um que elas usam até o limite das nossas forças e depois jogam fora. São muitos os casos de trabalhadores humilhados e com problemas de coluna, nos braços. Todo trabalhador deve ser tratado com dignidade, com respeito. Apesar de toda a luta do sindicato, nosso salário ainda é muito baixo, sempre um pouco mais do que o salário mínimo e as empresas (e a Justiça) se negam a reconhecer a NR do Ministério do Trabalho que diz que toda a categoria deveria receber 40% de adicional de insalubridade porque lidamos diretamente com lixo.

Como o SINDLIMP-PB tem enfrentado a exploração dos patrões?

O nosso sindicato é bastante atuante. Quase todos os dias, a partir das seis da manhã, estamos nos trechos com a patrulha sindical, fiscalizando o serviço, realizando assembleias, exigindo os equipamentos de segurança, as ferramentas de trabalho. Se alguma coisa não estiver em ordem, nós paramos aquela turma até resolver. Se encontramos um caminhão de coleta com dois trabalhadores, nós mandamos de volta para a garagem para completar a equipe. Já realizamos centenas de paralisações por setor e cinco greves gerais. Em todas as nossas falas, nós destacamos que temos que nos organizar enquanto categoria, enquanto classe trabalhadora, pois debaixo do capitalismo os patrões sempre vão explorar nossa força de trabalho para aumentar seus lucros.

Como foi a participação da categoria na eleição realizada no mês passado?

Devido ao trabalho que desenvolvemos, renovamos a diretoria numa eleição muito movimentada, no dia 1º de novembro, mesmo com chapa única, pois fizemos uma intensa campanha nos dias anteriores à votação e tivemos mais de 700 votantes, o que deu uma participação de 67% dos sócios. Até quem não era sócio quis votar e vários outros trabalhadores se filiaram ao sindicato enquanto as urnas estavam nos locais de trabalho. Funcionários do setor administrativo, que sofrem uma pressão direta das empresas, romperam o medo e se aproximaram do seu sindicato. Isso é um reconhecimento ao trabalho que realizamos diariamente ao lado dos nossos companheiros, com chuva ou com sol, atendendo o telefone a hora e o dia que for. Nós diretores do SINDLIMP nos orgulhamos muito disso.

O SINDLIMP-PB completou, no mês de junho, 15 anos de fundação. Qual balanço a Diretoria faz deste período?

Durante esses 15 anos que o SINDLIMP da Paraíba está à frente da categoria tivemos muitas conquistas, mas eu acredito que a maior foi a revolução na consciência do trabalhador, a conquista da dignidade. Hoje, se um fiscal ou um gerente vem impor alguma coisa diferente do que o trabalho exige, eles cruzam os braços, ligam imediatamente pra denunciar ao sindicato. Não aceitam mais que falem com eles num tom de ameaça, não baixam mais a cabeça. Isso e todas as lutas que o sindicato travou fizeram com que a nossa categoria fosse hoje reconhecida como umas das mais organizadas do Estado.

Quais os principais desafios do movimento sindical diante da reforma trabalhista que acabou com dezenas de direitos assegurados pela CLT?

Acredito que estamos vivendo um grande retrocesso na História, e os sindicatos e as centrais devem entender que é preciso construir um grande movimento classista. Não há mais tempo nem espaço para conciliação. Os direitos conquistados pelos nossos companheiros há décadas atrás foram colocados na CLT por uma luta acirrada e não pela bondade de um presidente. Isto agora está posto de novo porque os capitalistas e seu governo fascista estão acabando com nossos direitos. Os sindicalistas não podem ficar dentro das sedes dos sindicatos. Precisam mobilizar as bases e levar a classe para as ruas para enfrentar com coragem esta situação.

Por fim, deixe uma mensagem para nossos leitores.

Mais do que nunca, necessitamos de uma unidade, de uma alternativa política para confrontar os capitalistas, o imperialismo, que está organizado para destruir nosso povo. Não há mais condições de viver nesta divisão social em que uma minoria explora uma ampla maioria. Estamos na luta também para construir esta unidade, a Unidade Popular, fazendo as coletas de assinaturas da UP na base da limpeza urbana e fazendo o cadastramento das fichas na sede do sindicato. Continuaremos firmes em todas estas lutas em 2018!

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes