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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Acervo de Dom José Rodrigues é inaugurado em Juazeiro-BA

Dom José Rodrigues foi o segundo bispo da cidade de Juazeiro-BA, localizada no Vale do Rio São Francisco, sertão da Bahia. Nasceu em Paraíba do Sul, município do Rio de Janeiro, em 25 de março de 1926. Depois de ter exercido o sacerdócio em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Amazonas e Bélgica, chegou em terras juazeirenses em 1975 e ficou até 2003, mas as marcas que o Dom dos Excluídos deixou na cidade perduram até hoje, e, ao que parece, nunca será esquecido. Segundo Leonardo Boff (Teólogo), lembrar de Dom José Rodrigues “é lembrar dos pastores fiéis e dos profetas destemidos que souberam estar sempre do lado dos fracos e perseguidos, sem temor e sem subterfúgios.”

No último dia 12 de dezembro, foi inaugurado o Acervo Dom José Rodrigues, instalado dentro da biblioteca do Campus III da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, em Juazeiro-BA. Com mais de 40 mil títulos, o acervo estará aberto ao público de segunda à sexta, contribuindo enormemente para os trabalhos de graduação, mestrado, doutorado, pesquisas em geral, grupos de leitura e será ponto de partida para diversos projetos sociais. Quase todos os livros foram comprados pelo próprio Bispo, em suas viagens pelo Brasil, seguindo a sugestão do pedagogo Paulo Freire, que o orientou a criar uma biblioteca na cidade, para contribuir com a luta pela transformação da região, tão carente de direitos e de livros.

Dom José ficou conhecido pela sua atuação em defesa dos mais pobres, dos marginalizados, dos trabalhadores, dos camponeses, dos atingidos pela construção da barragem de Sobradinho-BA, dos sem teto e dos sem terra. Em seu programa de rádio, que acontecia semanalmente, fazia discursos contra a grilagem de terras e em defesa dos trabalhadores da região. Foi uma voz ativa pela indenização das 72 mil pessoas deslocadas compulsoriamente de suas casas, para a construção da barragem de Sobradinho-BA na década de 70, não se intimidando com a ditadura militar.

Por não se submeter à elite local e ao governo militar, teve sua casa invadida e vasculhada, os muros e portas da catedral foram pichados pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Todo levante popular contra os desmandos públicos e privados lhe era atribuída, como as mortes de fazendeiros no vale do Salitre (Juazeiro-BA) em confronto com lavradores, na disputa pela água que era roubada pelos canos das motobombas para os latifúndios irrigados.

Mantinha contato direto com Dom Helder Câmara, o Dom da Paz, também perseguido pela ditadura militar. Quando o estudante de sociologia da UFPE, Edival Cajá, membro da Comissão de Justiça e Paz da arquidiocese de Olinda-PE coordenada por Dom Helder, foi preso pela ditadura, o Dom dos Excluídos visitou-o na prisão num ato de grande solidariedade. Em depoimento, o ex-preso político Cajá contou um pouco como recebeu a visita do Dom dos Excluídos: “recebi a honrosa visita de Dom José. Trocamos um grande abraço e em seguida ele me deu as boas notícias sobre a resistência popular à ditadura militar em todo o país. Após minha liberação visitei-o em Juazeiro-BA e vi de perto sua atuação em defesa dos atingidos pela barragem”. Também num gesto de grande provação e sacrifício, em virtude do sequestro do gerente do Banco Central, se entregou aos sequestradores no lugar do funcionário público, na ponte que liga Petrolina-PE a Juazeiro-BA, o que motivou o livro “O amor conduz a verdade”, da jornalista Jacira Félix.

A obra de Dom José Rodrigues em defesa dos mais pobres e oprimidos não para por ai. Chegou a dar destinação social às terras da diocese, servindo de moradia para várias famílias. Fundou um programa de educação popular com atuação de Paulo Freire, que veio até Juazeiro-BA para dar formação aos coordenadores do projeto. Consolidou a Pastoral da Mulher Marginalizada, criada por D. Tomaz, trabalhando junto às prostitutas, oferecendo capacitação profissional. Criou nove Pastorais Sociais (da Terra, da Criança, da Juventude do Meio Popular, da Saúde, dos Pescadores, Carcerária, etc). Criou o Setor Diocesano da Comunicação Audiovisual, com equipamentos de produção de rádio e televisão, uma locadora com 2.000 títulos de vídeos para escolas e professores além de 3 programas de rádio semanais e um boletim informativo com o nome de “caminhar juntos”.

Foi o criador do projeto Cisternas Caseiro, para armazenar água de chuva. Prestou depoimento em numerosas CPIs, sobre a grilagem, a Barragem de Sobradinho, a seca e a fome no nordeste. Membro da Associação Baiana de Imprensa durante seis anos seguidos, Dom José recebeu o Troféu Mandacaru de Ouro, criado por um grupo de jornalistas da Bahia para homenagear os destaques do ano em política, economia, arte, cultura e religião.

Dom José Rodrigues faleceu no dia 7 de novembro de 2015, em Goiânia-GO, vítima de pneumonia contraída durante tratamento cirúrgico para retirada de água do crânio (hidrocefalia). Porém, suas ações e história lhe mantém mais vivo do que nunca nos corações e nos pensamentos daqueles que vivem e lutam pela justiça para o povo pobre.

Bruno Melo

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