Foto: Thales Caramante/Jornal A Verdade
Raphael Martinelli, 95, e Eunice Longo, 91, foram homenageados no Dia da Luta Operária em São Paulo e receberam o Troféu Juan Martinez. A data instituída há 3 anos pela Lei Municipal 16.634 de 2017 rememora a Greve Geral ocorrida em 1917 e referência o jovem sapateiro Juan Martinez assassinado no dia 9 de julho durante uma greve na região do Brás pelas forças públicas. Sua morte causou comoção no operariado e foi o estopim para a primeira greve geral do Brasil em julho de 1917
A instituição da homenagem nesta data é oportuna para a classe trabalhadora, pois é uma oposição política ao feriado estadual de São Paulo que celebra a da “Revolução Constitucionalista” segundo a historiografia burguesa. Porém, na verdade celebra uma revolta da elite cafeicultora paulista que manipulou os interesses populares na tentativa de impor os seus interesses perdidos com o então ditador do Brasil Getúlio Vargas.
No evento, a revista Memória Sindical foi amplamente distribuída. Os primeiros operários grevistas do Brasil ilustram a capa e a matéria principal sobre a greve de 1917. Ensaios e artigos de importantes historiadores preenchem as folhas e combatem a historiografia burguesa em relação à “Revolução Constitucionalista”, trazendo uma perspectiva operária do feriado ao relembrar os levantes da classe proletária nas ruas do Brás e Bresser-Mooca em oposição aos canhões do exército paulista e ao demonstrar, com precisão, como foram os primeiros combates da luta de classes entre o proletariado e a burguesia brasileira.
O cenário também envolveu os presentes nos bastidores do movimento de massas daquela época – era um galpão industrial de mais de 100 anos. Além de homenagear Martinelli e Longo com o troféu José Martinez, a família de Lúcio Bellentani recebeu uma placa assinada pelas centrais sindicais. Ferramenteiro contra a Volkswagen Lúcio Bellentani foi preso e torturado em 1972. Sua prisão ocorreu na Volkswagen, empresa cúmplice do regime ditatorial, por ser militante comunista. Ele estava à frente de uma associação de antigos funcionários que sofreram perseguição dos militares e reivindica reparação. Bellentani morreu no dia 19 de junho deste ano e a cerimônia homenageou sua luta por meio da entrega da placa e do discurso de sua esposa.
A primeira mulher eleita diretora do Sindicato dos Têxteis em São Paulo Eunice Longo foi vice-presidente e, também, a primeira mulher a ser eleita diretora do Sindicato dos Têxteis em São Paulo. Apesar de a categoria ser majoritariamente feminina, os cargos do sindicato eram ocupados por homens. A artesã relembrou, aos 91 anos, das lutas nacionais das quais participou, entre elas, a campanha O Petróleo é Nosso e pela paz, contra a guerra na península coreana na década de 1950. Em seu discurso, garantiu: “participei bastante, não me arrependo de nada do que fiz”.
O Maior Comunista Revolucionário Ferroviário do Brasil
Foto: Thales Caramante/ Jornal A Verdade
Na década de 1940, Raphael Martinelli já era líder sindical comunista e, em 1955, foi preso devido à sua militância entre os ferroviários. Após o golpe militar e aos 50 anos de idade, juntou-se à luta armada através da Ação Libertadora Nacional (ALN) ao lado de Carlos Marighella e Joaquim Câmara, sendo preso novamente em 1971. Mesmo após as prisões e a tortura, não abandonou seus ideais e continua, até hoje, lutando pela memória, verdade e justiça. Ao ver jovens ferroviários e metroviários presentes, aconselhou: “com esse turma revolucionária aqui já podemos organizar uma greve!”, inspirando, assim, os novos militantes.
O camarada impressiona pelo seu vigor em idade tão avançada e chama a atenção por cantar inteira e, a plenos pulmões, o Hino da Classe Operária, A Internacional Comunista. Nos últimos anos, Martinelli foi convidado pelo PCR para ministrar formações direcionadas a União da Juventude Rebelião UJR, a fim de passar sua experiência sobre a história da resistência à Ditadura Fascista e Militar e contribuir na formação do caráter comunista e revolucionário de nossa militância. Também esteve presente no 1º Congresso do Movimento Luta de Classes (MLC) em 2010 quando afirmou: “É necessário educar revolucionariamente a juventude trabalhadora, manter disciplina e a força revolucionária para combater os capitalistas e assim criar as condições de fazer uma Revolução Socialista no Brasil”.
Redação São Paulo
Coletivo “UP nos Trilhos”