Extraído de La Forge, Órgão Central do Partido Comunista dos Operários da França, abril de 2020. Tradução de Felipe Annunziata
Médicos franceses estão sendo obrigados a combater a epidemia do coronavírus sem equipamentos de proteção. Muitos permaneceram por longas semanas sem máscaras. Por outro lado, os pacientes, principalmente os mais velhos, atenderam ao pedido das autoridades sanitárias e ficaram em casa. Muitos profissionais de saúde continuaram mantendo contato telefônico com eles, mas a telemedicina não é acessível a todos.
Além disso, há a realidade dos “desertos médicos” [regiões da França sem atendimento primário de saúde. N.T.], denunciados há anos por profissionais de saúde e grupos de usuários. Eles atingem, em particular, áreas rurais, mas também bairros populares nas grandes cidades, onde é muito difícil ter um médico. Essas são as áreas que mais precisam de agentes da linha de frente, principalmente porque o acesso aos serviços de emergência é impossível.
Nos lares de idosos, os médicos e, principalmente, os enfermeiros, auxiliares de enfermagem e todas as categorias que trabalham nesses estabelecimentos, carecem, há semanas, de equipamentos de proteção individual. As autoridades políticas e de saúde, que batem ponto diariamente na mídia, dão, dia após dia, os números de pessoas infectadas, de mortes, sem dar, entretanto, os dados nos lares de idosos [na França, assim como na Espanha, se suspeita que grande parte dos mortos são por conta da falta de equipamentos e condições de proteção adequadas nos asilos públicos e privados. N.T.].
A implantação de grandes recursos para evacuar pacientes de hospitais nas regiões mais afetadas pelo coronavírus para outros hospitais é amplamente divulgada. O governo quer mostrar que está fazendo tudo – “custe o que custar” – para salvar vidas. Não é discutível se os hospitais devem ser aliviados. É óbvio que a equipe de enfermagem que se dedica incansavelmente a essa tarefa deve ser aliviada. Sem essas centenas de jovens estagiários, enfermeiros, médicos de emergência, a catástrofe seria considerável.
É também por isso que ocorre essa onda de solidariedade entre a população, que se expressa em particular pelos aplausos nas janelas todas as noites. Mas isso não deve impedir-nos de pensar em outros meios, como, por exemplo, o uso de leitos hospitalares fechados, que estavam assim por conta dos cortes de gastos defendidos pelo governo e implementados, principalmente, por agências regionais de saúde. Essas são perguntas que não podem mais ser evitadas.