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quinta-feira, 28 de março de 2024

No Equador e no Chile, protestos tomam as ruas contra a crise e o desemprego

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REVOLTA – Protestos começam a eclodir em várias cidades do continente contra incapacidade dos governos de agirem contra a crise (Foto: Unidad Popular / Equador)

A soma de pandemia, crise econômica e governos neoliberais de extrema direita coloca um horizonte de mais ataques e exploração aos trabalhadores em toda a América Latina, que já começam a responder com mobilizações nas ruas de várias cidades do continente.

Por Felipe Annunziata
Rio de Janeiro

Equador e Chile se destacaram no ano passado pelas massivas revoltas populares contra a miséria e a exploração. Nos dois países andinos o povo tem visto a sua situação piorar ainda mais sob a pandemia.

No Equador, o governo Lenin Moreno e sua política subserviente aos EUA e ao FMI foram alvos de gigantescas manifestações em 2019 contra a política de retirada de direitos sociais e de subsídios aos produtos básicos, derrotada pelo povo na rua.

Já no Chile, milhões de pessoas foram às ruas das maiores cidades por vários meses seguidos contra o aumento do custo de vida e em defesa de direitos sociais mínimos, como saúde e educação pública. Depois de muitos enfrentamentos com a polícia e o governo, conquistaram o compromisso de uma nova Constituição que substituísse a atual, de caráter neoliberal, feita ainda sob a ditadura fascista de Augusto Pinochet (1973-1991).

Novas revoltas nas periferias chilenas

Com a pandemia, grande parte do povo chileno ficou desamparado. No país não existe sistema público universal de saúde, nem de aposentadorias. As pessoas vivem sem qualquer apoio do Estado e dependem unicamente da renda que conseguem. Como o desemprego vem crescendo de forma galopante há anos, a situação ficou insustentável para milhares de famílias.

Com a crise do coronavírus, a eleição para a nova Assembleia Constituinte foi suspensa. Aproveitando-se disso, o governo de Sebastián Piñera tem priorizado a “saúde” das grandes empresas em detrimento da vida do povo. Apesar do número oficial de mortos pela Covid-19 ser de pouco mais de 800 pessoas até o dia 30 de maio, há fortes indícios que a quantidade real de vítimas seja cinco vezes maior.

O governo chegou a prometer um auxílio de até 65 mil pesos (R$ 440) até agosto, mas a medida até agora não saiu do papel. Resultado: a fome passou a se fazer presente nas periferias de Santiago e o povo só conta com a solidariedade dos movimentos sociais para não morrer, uma realidade não muito diferente da que vemos no Brasil.

Diante disso, revoltas começaram a explodir em cidades da região metropolitana da capital na última semana de maio. Em La Pintana e El Bosque, a população saiu às ruas exigindo comida e atendimento médico para os doentes. Barricadas foram erguidas para enfrentar a repressão da polícia. Com medo de que os protestos repetissem 2019, o governo prometeu cestas básicas e a liberação do auxílio emergencial. Já o parlamento aprovou uma lei para taxar grandes fortunas na tentativa de arrefecer os protestos.

Equador: revolta contra a destruição de direitos e abandono dos doentes por Covid-19

Já no Equador, a pandemia do novo coronavírus está, desde de março, completamente fora de controle. Imagens de corpos abandonados no meio da rua por falta de atendimento na cidade de Guayaquil (a maior do país) chocaram o mundo. Até agora o governo confirma 38 mil casos e 3.300 mortes por Covid-19. No entanto, as imagens de pessoas tendo que queimar corpos de parentes em putrefação no meio da rua por não conseguir acessar o serviço funerário mostra como esse número é muito maior.

Mesmo assim, o governo equatoriano se aproveitou da quarentena para atacar de todos os modos os direitos sociais. Continuou com a política de dar tudo que podia ao FMI, cortou o orçamento das universidades e da saúde, o salário dos servidores públicos em 25% e dos trabalhadores privados em 40%. Como não podia deixar de ser, o desemprego disparou.

Esse golpe do governo Moreno levou o povo às ruas, mesmo com a pandemia. Desde o início de maio, a União Nacional dos Educadores tem feito manifestações contra a política neoliberal do governo. O movimento culminou com um ato no último dia 25 de maio, onde milhares foram às ruas em todo o país em defesa do direito à vida, ao trabalho e aos serviços públicos. Novamente colocaram o governo contra a parede.

Povos da América Latina sofrerão com a crise

A soma de pandemia, crise econômica e governos neoliberais de extrema direita coloca um horizonte de mais ataques e exploração aos trabalhadores em toda a América Latina. Em todos os países do continente, o capital financeiro, o imperialismo norte-americano, os governos e a mídia continuam pressionando para tirar tudo do povo.

Já começam os discursos para que se faça mais um ajuste fiscal para que o povo pague a conta da pandemia. Demissões, cortes de salários, privatizações e reformas contra os direitos populares estão sendo promovidos sob a justificativa de se combater o vírus. Ao mesmo tempo, os governos nada fazem para resolver de fato a falta de leitos, UTI’s, profissionais e equipamentos nos hospitais.

Assim como em 2019, os exemplos de Chile e Equador mostram que a única saída para a catástrofe que se avizinha está na organização e na luta popular. Somente enfrentando diretamente a política das burguesias de cada país e do imperialismo conseguiremos não só sair da crise, mas salvar milhares de vidas de trabalhadores que hoje se veem jogados à própria sorte por governos e patrões.

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