UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 22 de dezembro de 2024

As ruas estão abertas para o nosso bloco passar!

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Por todo país povo se revolta contra o fascismo. Foto: Paulo Paiva

Por Wanderson Pinheiro
São Paulo

Vai passar
Nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai
Se arrepiar…

(Chico Buarque)

Nos últimos três meses estivemos em nossas casas, mas também estivemos nas ruas prestando nossa solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras que vivem numa tremenda miséria. Estamos sem emprego, sem água, sem leitos de hospitais e sendo despejados das nossas casas. Muitos estão trabalhado de subemprego, de camelôs, de entregadores, sendo submetidos a uma jornada de trabalho exaustiva, mesmo em meio a essa pandemia que já matou 37.312 seres humanos. Mas dissemos “só o povo salva o povo” e fomos prestar nossa solidariedade proletária aos nossos.

Foram também inúmeros panelaços nas janelas e nas ruas que gritaram FORA BOLSONARO! Enquanto isso, meia dúzia de fascistas faziam desfiles em carros de luxo defendendo a exploração, pediam o fechamento do congresso e o fim das liberdades democráticas. Mas resolvemos dar um basta a tudo isso e dissemos: nem um passo atrás! Ocupamos as ruas com milhares de pessoas, negros e negras, jovens, mulheres, sem tetos, trabalhadores e trabalhadoras, e as ruas foram abertas para o nosso bloco passar. Como disse o poeta Castro Alves “A praça! A praça é do povo/ Como o céu é do condor!/ É o antro onde a liberdade/ Cria águias em seu calor.”

É importante percebermos que a luta antifascista, antirracista e revolucionária vai avançar ainda mais e que estamos apenas começando. Foi um bom começo, vitorioso e com bastante energia, mas ainda sim um começo. Precisamos nos preparar para uma grande jornada de lutas, pois os fascistas não sairão de cena facilmente, sem serem derrubados. Hoje fomos milhares, mas precisamos ser (e seremos!) milhões e assim esmagaremos o fascismo. Agora que as ruas estão abertas, devemos fazer descer o morro e levar a luta a outros patamares.

Luta nas favelas e no asfalto contra a miséria e o fascismo

Precisamos combinar as lutas gerais com a luta nos bairros por água, por alimentos, pelo auxílio emergencial, contra os despejos e não tratar como algo natural ver uma família ser jogada na rua em meio a pandemia. Defendamos a suspensão de aluguéis para as famílias mais pobres. Façamos protestos na porta de supermercado, nas subprefeituras regionais e exijamos comida para quem precisa. Façamos panelaços contra a fome, trancando ruas e avenidas e assim levaremos as famílias mais pobres a agirem contra o fascista Bolsonaro.

A luta de classes demonstrou que existe disposição do povo para lutar, ao contrário do que muitos “pessimistas” insistem em dizer. Falavam inicialmente que não tínhamos correlação de forças favoráveis, que estávamos sendo esmagados e que tínhamos que ficar em casa esperando o bloco fascista passar. Felizmente não os ouvimos, dissemos não a ilusão de classes, ao reformismo e ao eleitoralismo, que ainda insiste em nos puxar para trás. Mas dizemos não, nem um passo atrás!

É importante que combatamos o oportunismo que quer levar o movimento apenas para o campo das eleições burguesas e ficar pedindo o povo para se acalmar. Lembrem que primeiro não queriam o Fora Bolsonaro e diziam que era para ele governar até 2022, depois mudaram de opinião e passaram a defender um impeachment de gabinete e agora são contrários ao povo ir para as ruas. Acabarão obrigados a seguir as ruas, mas vão apenas para defender o que é mais atrasado.

Defendemos que o povo possa eleger prefeitos e vereadores populares, defendemos o direito ao voto direto contra o fascismo, mas somos contra o oportunismo que prega a conciliação de classes. Por isso, devemos ter nossas pré-candidaturas populares na linha de frente das batalhas, se manifestando pelos direitos do povo, enfrentando a repressão da polícia e assim o povo poderá separar o joio do trigo.

Precisamos assim tirar do nosso caminho as ilusões com o STF e com o Congresso Nacional que não retirarão do governo os militares e banqueiros sem um enorme levante popular. Fazer uma dita “Frente Ampla” que não leva em consideração os interesses dos trabalhadores e que concilia com os fascistas não é o caminho. Se é para ter como inspiração a Frete Ampla Antifascista que derrotou o exército de Hitler devemos nos preparar para tal e nos aliarmos as camadas médias e não a grande burguesia que vai aderir ao fascismo assim que lhe for conveniente. O essencial agora é construir um grande levante popular contra o fascismo e fazer uma frente unitária com todos os setores realmente antifascistas.

Os generais e banqueiros fascistas se encolheram, ficaram do tamanho que na verdade são, pois representam menos de 1% da população que é a minoria burguesa. Nós somos a imensa maioria do proletariado explorado que vive na miséria provocada por essa pequena minoria. Somos o povo negro que é explorado e humilhado pelo racismo, sendo as principais vítimas da violência policial, das prisões arbitrárias e dos assassinatos que ocorrem todos os dias nas favelas e periferias onde moramos. Mas não ficamos e nem ficaremos mais calados. Nossa revolta está presa nas nossas gargantas por mais de 500 anos e por isso nos rebelaremos contra toda a exploração e opressão.

Faremos uma consequente luta contra o racismo, que é também a luta contra o capitalismo, sistema que massacra negros, indígenas e brancos pobres. Estes são os proletários brasileiros que trabalham sendo superexplorados na metalurgia, na construção civil, na limpeza urbana recebendo menos e trabalhando mais do que nos países imperialistas. Vemos portanto a luta contra o racismo como luta de classes. Moramos nas favelas e periferias sem direito a transporte digno, sem direito a saúde e sem direito a moradia e isso também é o racismo. Racismo que nos joga no lixo, nos massacra, nos oferece as drogas e a morte. Por isso, nós revolucionários devemos propagar uma grande revolta contra o racismo e lutar pela retirada de monumentos que promovem velhos racistas como se fossem heróis, começando por Pedro Alvares Cabral.

É importante percebermos que a jornada de lutas que desenvolvemos aqui é uma jornada mundial que expressa uma grandiosa luta contra a exploração, a opressão dos povos e o racismo. Enquanto existir o capitalismo de um lado, existirá a luta de classes do outro. Essa luta de classes hoje se expressa na luta contra o racismo, protagonizada pelo povo negro dos EUA; na luta contra o fascismo ocorrida no Brasil e em diversos países; na luta contra o imperialismo ocorrida na Venezuela, em toda América Latina e na África. Existe assim, um processo revolucionário em curso que é antifascista, antirracista, anti-imperialista e precisamos trabalhar para que seja socialista!, pois somente com o socialismo acabaremos com todas essas mazelas.

Povo nunca saiu das ruas nessa quarentena e está todos os dias lutando pela sua vida. Foto: reprodução

A única saída é a derrubada do sistema capitalista

Devemos, portanto, desenvolver a luta operária contra o fascismo, mas também a luta pelo socialismo que é a única saída para a crise mundial. A grande burguesia quer despejar ainda mais a crise sobre os ombros os trabalhadores, para isso pretende aprofundar a opressão, o racismo e construir Estados fascistas contra o povo. Precisamos então levantar a bandeira da liberdade, que só será verdadeira com a socialização de todas as riquezas que produzimos.

Sabendo das pretensões fascistas da grande burguesia não podemos vacilar nos processos de luta em curso. Precisamos nos somar com a convocatória dos novos atos e dialogar com amplos setores para convencer que precisamos ir as ruas e que não exite outro caminho. As ruas estão abertas para o nosso bloco passar e agora precisamos seguir em frente, consolidar um caminho e não recuar. É fundamental que combinemos as marchas e manifestações com pequenas lutas nos bairros populares, pois assim vamos adquirindo confiança do nosso povo que ampliará a saída as ruas fortalecendo o conjunto do movimento. Lutar pela água, energia, alimentos, contra as violências praticadas, mantendo firme a palavra de ordem “Fora Bolsonaro! Por um governo popular!”.

O ato do dia 07 de junho nos trouxe vários ensinamentos e a confiança de que sempre estivemos no caminho correto, pois participamos na linha de frente dos atos em todo o Brasil e defendemos a saída as ruas como fator principal na atual conjuntura desde o início. Essa constatação não deve servir para massagear nosso ego, mas para nos fazer perceber a responsabilidade que temos e devemos cumprir. As ruas foram abertas, mas ainda temos um caminho pela frente e viveremos muito em breve momentos decisivos. Fomos milhares nas ruas e vencemos uma importante batalha contra os fascistas neste dia 07 de junho, mas é necessário crescermos e sermos milhões construindo uma grande rebelião popular contra o fascismo!

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