Passados sete meses desde o golpe que afastou Evo Morales da presidência da Bolívia, centrais sindicais e movimentos sociais seguem na luta pela convocação de novas eleições e pelo afastamento da presidente golpista apoiada pelos
Por Paulo Henrique Rodrigues
Rio de Janeiro
INTERNACIONAL – No último dia 18 de junho, as principais centrais operárias da Bolívia, a Trabalhadores Mineiros da Bolívia (Fstmb) e a Central Operária Boliviana (COB), deram um ultimato à atual e ilegítima presidente do país, Jeanine Áñez, exigindo a convocação de novas eleições para 6 de setembro. Caso contrário, prometem convocar mobilizações que levarão o país a uma convulsão social.
As centrais denunciaram enfaticamente as medidas econômicas recessivas ditadas pelo FMI e seguidas pelo governo golpista que vêm aumentando o desemprego e a miséria no país. Depois do golpe realizado na Bolívia contra os resultados das eleições de 20 de outubro de 2019, que depôs o presidente Evo Morales, novas eleições vêm sendo adiadas seguidamente sob o argumento da pandemia de coronavírus.
Pesquisas eleitorais realizadas em abril mostraram que o candidato de Evo Morales, Luis Arce, encontrava-se com larga margem de vantagem na preferência popular (33,3%), contra 18,3% do conservador Carlos Mesa 16,9% da golpista Jeanine Áñez (16,9%).
O golpe contra o governo Morales começou no dia seguinte das eleições, quando grupos de direita liderados pelo ultradireitista Luís Fernando “Macho” Camacho, de Santa Cruz de la Sierra, denunciavam supostas fraudes na contagem dos votos. A Organização dos Estados Americanos (OEA) apoiou imediatamente as denúncias, antes do final da contagem e de qualquer auditoria. A violência promovida pela ultra direita em diversas cidades levou a assassinatos de partidários do Movimiento al Socialismo (MAS), de Morales, ao sequestro e humilhação da prefeita de Cochabamba, que foi pintada de vermelho e arrastada pelas ruas.
A pressão golpista ganhou o apoio dos militares e conseguiu a renúncia de Evo Morales em 10 de novembro, seguida à usurpação do poder pela senadora Jeanine Áñez, que se autoproclamou presidente apesar de representar a minoritária ala direitista do Congresso boliviano.
O golpe na Bolívia foi claramente orquestrado pelo imperialismo estadunidense e pelo governo fascista de Bolsonaro, que foi um dos primeiros governos do mundo a reconhecer o governo ilegítimo de Áñez, em 13 de novembro de 2019. A interferência dos EUA na Bolívia segue o que já fora feito no Brasil no golpe de 2016 e nas eleições de 2018, e as tentativas de desestabilização do governo venezuelano. Como os EUA vêm perdendo espaço na disputa geopolítica mundial, decidiram retomar a carcomida Doutrina Monroe de 1823 (“A América para os americanos”), procurando assegurar a preponderância dos seus interesses no continente, que considera como seu quintal.
Além de derrubar o governo Morales, os EUA pretendiam assegurar o controle sobre o lítio, mineral estratégico e matéria prima das baterias de energia solar, cujas maiores reservas do mundo são bolivianas. Acordos feitos pelo governo Morales com a Alemanha e a China para o desenvolvimento da exploração do lítio enfureceram os EUA, que temiam perder o acesso ao mineral.
O governo Bolsonaro esteve envolvido desde a primeira hora com o apoio ao golpe. Hoje se sabe que um dia após o movimento de usurpação do poder por Áñez (11/11/19), e antes de sua posse, que ocorreu em 12 de novembro, o avião presidencial boliviano pousou em Brasília para negociar apoio do governo fascista brasileiro. Depois disso, a empresa estadunidense Flightware, sediada em Houston, Texas, registrou nada menos que 25 voos do mesmo avião entre 11/11/19 e 08/05/20 para diversos destinos no Brasil, como denunciado por Felipe Yapur, do Página 12. Tantos voos mostram a proximidade entre os dois governos de ultra direita sul-americanos e o grau de comprometimento de Bolsonaro com o governo golpista boliviano.