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sexta-feira, 29 de março de 2024

O papel da greve na luta pela emancipação da mulher

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NI UNA MENOS – Na Argentina o movimento Ni Una Menos reúne milhões de mulheres contra a violência e a exploração. (Foto: Reprodução)
Larissa Mayumi

SÃO PAULO – Na Polônia, em 2016, iniciou-se um movimento grevista feminino, em que milhares de mulheres se organizaram para realizar paralisações e marchas em oposição à proibição do aborto. Chegando a outros países, como na Argentina, através da campanha “Ni Una Menos” (Nem Uma a Menos), se alastrando para a Itália, Espanha, Brasil, Turquia, Peru, Estados Unidos, México, Chile e dezenas de outros, a luta de mulheres por uma nova sociedade, embarcando reivindicações pontuais contra políticas neoliberais que atacam a autonomia e os direitos das mulheres.

De acordo com a Rosa Luxemburgo, toda greve tem um pensamento político e deve ser entendida como um processo e não apenas a fatos isolados: “em cada ato individual da luta, há uma intersecção de muitos fatores: econômicos, políticos e sociais, gerais e locais, materiais e psíquicos”. Assim, devemos entender a greve como instrumento de luta e seu pensamento político é essencial para compreendemos que temos a tarefa história de pensar a greve que protagonizamos.

Como a Greve das Mulheres Transformou o Conceito de Greve e Classe Trabalhadora

A greve tem o intuito de parar a produção de capital através das atividades exercidas pelo trabalhador. Porém, a greve como instrumento sindical, reivindicando melhores salários ou condições de trabalho, não abrange todo o conceito de greve das mulheres. Isso porque, dentro do capitalismo, as mulheres exercem diversas funções para além do trabalhado assalariado, além da precarização dos trabalhos que vem crescendo, com o aumento no número de trabalhadores sem carteira assinada, trabalhando informalmente. Desta forma, a ideia de greve precisou ser ampliada para além dos espaços de trabalho remunerado, para servir como instrumento de luta para toda nossa classe, dando visibilidade e valor a trabalhos invisíveis dentro da nossa sociedade, esse trabalho não pago que as mulheres executam diariamente.

No capitalismo, as mulheres exercem o papel não remunerado de produção e reprodução da mão-de-obra, através do trabalho doméstico, da reprodução e cuidado dos filhos. Assim, pensar na greve de mulheres, faz com que nos atentemos à ideia de classe trabalhadora e entendamos que não somente os trabalhadores assalariados são os que geram valor dentro do capitalismo. Por isso, devemos pensar na classe trabalhadora, além do trabalhado assalariado, incluindo também os trabalhadores que exercem trabalhos comunitários, doméstico, do campo, informal, dos cuidados e imigrante, pois não é o salário quem determina quem é trabalhador e quem não é. Como disse Karl Marx, a respeito de classe: “é a divisão social entre aqueles que, para se relacionar consigo e com o mundo, dependem de sua força de trabalho, e aqueles que não”.

As Greves de Mulheres

A partir de 2016, iniciou-se em diversos países a onda que levou a internacionalização da organização da paralisação no 8 de março, politizando novamente o Dia Internacional das Mulheres. Resgatando o caráter revolucionário do 8 de março de 1917, que teve origem nas greves das operárias têxteis russas contra a Primeira Guerra Mundial e ao czar da Rússia, iniciando as greves que culminaram na Revolução Russa. Luta que também aconteceu no Brasil, em 1917, com a primeira greve geral de sua história, iniciando em São Paulo, onde as mulheres protagonizaram as primeiras paralisações, se espalhando para o Rio de Janeiro e Porto Alegre.

As greves lideradas por mulheres colocaram-nas como sujeitos políticos, saindo da posição de vítimas e as colocando em situação de luta. Diante da indignação de diversas mulheres em relação ao crescente número de violência contra as mulheres e o feminicídio, a greve de mulheres, permitiu “parar as atividades que contribuem para a nossa opressão e, ao mesmo tempo, de produzir aquelas que ampliam o horizonte do que queremos como sociedade”, como  afirmou a escritora Silvia Federici, a respeito do Dia Internacional das Mulheres. Pois, é próprio do capitalismo, a divisão sexual do trabalho na qual o homem exerce apenas o trabalho remunerado e fora do lar, criando uma hierarquia em relação ao trabalho não remunerado, doméstico e de cuidado com os filhos normalmente realizado pelas mulheres.

Mulheres na Linha de Frente Contra o Sistema de Exploração Capitalista

Entendendo como o capitalismo explora as mulheres através do trabalho de produção e reprodução, colocando-as em situações em trabalhos precarizados e/ou não remunerados, a greve de mulheres permite pensar nas questões de gênero, raça e classe, colocando as mulheres nas ruas em defesa de seus direitos diante de governos neoliberais e fascistas.

Em 2016, na Argentina, as mulheres foram as primeiras a chamar paralisações contra o governo neoliberal de Mauricio Macri, contra políticas que afetariam diretamente a exploração das mulheres. No Equador e no Chile, as mulheres também protagonizaram lutas estudantis, greves e manifestações. No Brasil, derrubaram o projeto de criminalização do aborto, de Eduardo Cunha; desde 2017, tem se juntado à greve geral internacional de mulheres, no dia 8 de março, denunciando cortes de verbas nas áreas de educação, saúde, moradia, com a PEC 55 de Michel Temer, a reforma trabalhista e a reforma da previdência; em 2018, iniciaram a campanha #EleNao nas épocas de eleições, contra o então candidato fascista, Jair Bolsonaro e desde então, nas mobilizações do 8 de março de 2019 e 2020 chamam o Fora Bolsonaro.

Com esses exemplos, fica claro entender qual o papel da luta das mulheres na crise que enfrentamos hoje. Com a crise econômica e política desencadeada pela Covid-19, o fascismo se mostra como alternativa para garantir o lucro através de políticas autoritárias que reduzem os direitos do povo trabalhador, tirando cada vez mais os direitos das mulheres, aumentando a violência e a exploração. É por isso que as mulheres devem se somar nos atos antifascistas e lutar para derrubar esse governo fascista!

Para nós que lutamos, a crise não é apenas tempo de sofrimento, mas de despertar político. É nela que a grandes massas retiram o apoio a quem detém o poder e buscam novas referências, ideias, organizações e alianças. E é por isso que nós mulheres devemos organizar greves gerais de mulheres, ser linha de frente lutando pelo poder popular, trazendo mais mulheres para lutar ao nosso lado, só assim garantimos a revolução para a construção de uma nova sociedade socialista, onde a nossa vida seja mais importante que o lucro!

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