A presença de Chadwick Boseman segue na luta antirracista

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REFERÊNCIAS Famoso pelo papel do Pantera Negra, Chadwick sempre representou figuras importantes do movimento negro nos cinemas (Foto: Reprodução)
Andressa Oliveira e Hr Santana

CULTURA Muito difícil escrever sobre a morte do ator Chadwick Boseman, bem mais do que eu pensava. Um homem jovem, talentoso, bonito, determinado, que padeceu por 4 anos com uma doença que vivenciou em sigilo e discrição.

Em sua partida descobrimos que ele era bem mais do que isso. Ele era o Pantera Negra! Seu corpo, já adoecido, deu vida ao poderoso herói que mudou a vida de muitos de nós, meninas e meninos negros, mesmo crescidos como eu, que aos 40 me senti criança novamente, vendo pela primeira vez um herói que me representava.

Na vida real, Boseman era muito consciente de sua importância em Hollywood. Era um homem preto trabalhando em produções de destaque, ocupando espaço em um mercado dominado por brancos, onde o ideal de beleza e o talento não incluem afrodescendentes.

Formado em Belas Artes pela Universidade de Howard, histórica instituição que oportunizou o ensino superior aos negros norte-americanos, tinha plena consciência de quais os papéis que deveria lutar por interpretar em sua vida enquanto artista que questionava os esteriótipos racistas da sociedade.

Foram filmes como “42: A história de uma lenda” (2013), retratando o jogador de beisebol Jackie Robinson, que conseguiu jogar na liga dominada por jogadores brancos; “Get on Up: A história de James Brown”, interpretando o grande artista do soul, e “Marshal: igualdade e justiça”, no qual representa Thurgood Marshal, advogado que na década de 1950 defendeu negros e trabalhadores e chegou a ser indicado para a suprema corte.

Em todos os filmes nos quais atuou após o diagnóstico de câncer de cólon, em 2016, o ator dividiu-se entre as gravações e o tratamento – que incluía cirurgias e sessões de quimioterapia. Apenas depois de sua morte o fato nos foi revelado, e com isso descobrimos que sua determinação e força eram ainda maiores. Um grande exemplo para todos que estão em dificuldades e dores tais que fazem pensar em desistir.

Como disse minha amiga Marcelle Sanuto: “Boseman era um homem negro trabalhando doente pra aproveitar boas oportunidades que surgiram para gerar suporte e novas possibilidades para sua família. Busca de dignidade, vida confortável e de deixar legado. A fama e a grana não o eximiu da luta como homem negro ‘comum’”.

Agora paramos para pensar, uma grande parcela da humanidade sobrevive sobre o julgo do sistema capitalista, condicionada à miséria e escassez de recursos, é claro que essa humanidade deseja construir uma nova sociedade para se libertar, por essa razão o idealismo representado pela sociedade de Wakanda e seus heróis, captura a consciência da população negra e no geral os oprimidos, porém essa gravação da consciência por meio do idealismo, cria na subjetividade da classe oprimida, a sensação de que realmente não existem condições efetivas para transformação da sociedade, porque está presa a uma ideia de milagre ou heroísmo.

A passagem do nosso irmão Chadwick Boseman, é espantosamente forte, porquê além da perda material da sua humanidade, ela não deixa apenas uma representação do espírito de mudança que desejamos, mas sim a extrema necessidade de construirmos uma nova sociedade, pois não queremos mais suportar a carga histórica de tanta opressão, como algo natural e imutável. Para isso nosso desejo tem que se aplicar no real, é se movimentando que converteremos numa derrota do sistema capitalista, por isso necessitamos visitar a história e dela extrair lições possíveis de organização de luta que foram e são capazes de derrotar essa velha sociedade. Esse exercício nos fará enxergar que Panteras Negras não é um idealismo, é uma realidade possível que emergiu na historia, disseminando educação, tecnologia social e ao mesmo tempo preservando a cultura negra e libertária. Aqui no Brasil tivemos a resistência dos quilombos que ameaçaram a sociedade escravocrata, por fim temos diversos levantes na historia da humanidade que nos coloca próximo dessa sociedade que se projeta como possível, a qual nós somos as forças objetivas para essa revolução acontecer

Chadwick Boseman encontra agora nossos ancestrais e deixa uma marca em nossos corações. Rest in power!