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domingo, 6 de outubro de 2024

Reforma no Anhangabaú expõe os interesses da Prefeitura de São Paulo para o centro

FALSA REVITALIZAÇÃO – Vista do novo Vale do Anhangabaú, em julho. (Foto: Reprodução/A Vida No Centro)
Imagens divulgadas em julho mostram o andamento das reformas do Vale do Anhangabaú e causam enormes discussões acerca de quem irá de fato se beneficiar do novo espaço.
Leonardo Santos

SÃO PAULO (SP) – “Onde estão as árvores?”. Essas foram as palavras que circularam nas redes sociais quando foram divulgadas as imagens do andamento das reformas do Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo.

Idealizada ainda na gestão Fernando Haddad (PT) e em obras desde junho do ano passado, a reforma tornou-se um dos símbolos da gestão Bruno Covas (PSDB) na prefeitura da capital.

Tendo custo previsto anteriormente de R$80 milhões (mas já custando quase R$ 100 milhões aos cofres públicos), a reforma estava prevista para ser entregue em julho deste ano, mas foi adiada para setembro.

No projeto em execução além da retirada de grande parte do espaço verde está prevista a construção de quiosques, banheiros públicos, fachadas ativas nos edifícios da área e ainda uma vistosa fonte com diversos chafarizes.

Além disso, está previsto ainda a concessão do espaço à iniciativa privada por dez anos, podendo a empresa ganhadora se beneficiar economicamente do uso do Vale.

A obra, de gosto duvidoso, tem atraído mais críticas do que elogios nas redes sociais, elas vão além de uma discussão meramente estética. Críticas principalmente acerca da utilização do espaço – que estaria direcionado a população de renda mais elevada – e ainda ao possível esvaziamento do local pela reforma.

Seria um acirramento do fenômeno da gourmetização do Centro da cidade, que se tornaria menos acessível à população mais pobre. Além disso, o completo descaso com a história do local, sua importância e sua identidade para a população paulistana marcaram este conjunto de críticas.

Mas para além deste debate acerca do uso do espaço, o projeto da reforma se insere num amplo processo que vem sendo construído nos últimos anos, isto é, a dita revitalização do Centro de São Paulo.

Na desculpa de reverter um suposto esvaziamento e degradação do centro da capital, a Prefeitura, em conjunto com o Governo Estadual, têm mantido uma série de ações efetivamente contrárias à população e quase sempre executadas de forma violenta.

O Centro de São Paulo esteve durante décadas abandonado pela Prefeitura, o que fez surgir uma série de edifícios abandonados (muitos se tornaram ocupações por movimentos de luta por moradia), praças e parques antigos de grande valor histórico ocupados por moradores de rua e dependentes químicos – o próprio Vale tinha em seu espaço diversas pessoas em situação de rua e em seu entorno existem diversas ocupações. A poucos quilômetros dali se encontra a infame Cracolândia, ferida aberta que expõe a degradação humana na cidade mais rica do país.

Longe de solucionar estas questões, a Prefeitura e o Governo Estadual se esforçam para aplicar a mesma receita higienista que nunca funciona.

A suposta ‘revitalização’ do centro ignora os problemas históricos da população paulistana no centro da cidade e através de grandes obras de reforma de pontos turísticos busca apenas a valorização dos terrenos para elevar os lucros da especulação imobiliária.

Ignoram, também, todos os problemas estruturais e humanos do centro da cidade, demonstram isso pela expulsão deliberada de dependentes e moradores de rua, pela coleção de fracassos na destruição da cracolândia e pelo despejo truculento das ocupações, isso quando não deixam os ocupantes morrerem por negligência, como ocorreu no incêndio do edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paiçandu, que matou pelo menos sete pessoas em 2018.

“Os problemas da reforma do Vale do Anhangabaú expõem os problemas da gestão capitalista do espaço urbano. Para além dos problemas da ausência de árvores o projeto representa a política higienista da Prefeitura de São Paulo, preocupada em favorecer os capitalistas em detrimento de toda a população da cidade, sobretudo a mais pobre e vulnerável. Tal política, que “gourmetiza” os espaços históricos da cidade em favor da especulação imobiliária, ignora a importância do espaço para o povo paulistano e os graves problemas sociais que existem na cidade fazendo uso inclusive da violência para ocultá-los”, afirma a Unidade Popular Pelo Socialismo.

“É preciso se opor a esta ofensiva da prefeitura, dizer basta ao processo higienista de ‘revitalização’ do Centro em favor da especulação imobiliária e lutar por uma alternativa popular de gestão da cidade e do espaço urbano. Lutemos por uma alternativa revolucionária que seja realmente em favor do povo trabalhador paulistano”, finalizam.

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