“‘O que a gente quer não é aumento salarial, é a reposição inflacionária que já estava no nosso acordo coletivo do ano passado. Essa lei federal que ele [Gean] diz não vale para acordos firmados antes da pandemia: ele não tá pagando porque não quer. Ele tá devendo!” – Afirma David Felipe Conceição, de 20 anos, trabalhador da empresa, sobre os objetivos da greve.’”
Redação Santa Catarina
Jornal A Verdade
FLORIANÓPOLIS (SP) – O Jornal A Verdade, através da militância da Unidade Popular (UP) e da União da Juventude Rebelião (UJR), esteve hoje presente na assembleia das trabalhadoras e trabalhadores da COMCAP, empresa de melhoramentos da capital, responsável, dentre muitas outras atividades, pela limpeza urbana de Florianópolis.
A greve teve início na quarta-feira (01), e tem como demanda o cumprimento do acordo coletivo feito em 2019, assinado pelo prefeito Gean Loureiro (DEM) que previa a readequação do salário em 4,7%, relativo à inflação, e de R$ 2,50 no ticket alimentação.
O Prefeito, há menos de 30 dias reeleito, caracterizou a greve como “ilegal e imoral”. Em uma atitude desonesta e mentirosa, alegou em entrevista à CBN que a greve era criminosa, pois ia contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Disse também em suas redes sociais que iria contratar um serviço privado para que a cidade não seja mais “refém do sindicato”, e que a empresa privada seria contratada por R$176,89 por tonelada, enquanto o investimento na COMCAP é de R$420,00 por tonelada.
Pois bem: o que o prefeito “esqueceu” de citar em seu Instagram é que a empresa privada cobra esse valor apenas pelo serviço de coleta de lixo convencional, enquanto os trabalhadores e trabalhadoras da COMCAP realizam os serviços de coleta seletiva, capina e roçagem, manutenção de praças, limpeza de valas, coleta de áreas críticas (onde o caminhão não consegue chegar, muitas vezes em locais da periferia), limpeza da orla de todas as praias, PEVs (reciclado e lixo pesado) varrição, caixa Brooks, abastecimento de toda a frota municipal, que tem mais de 400 veículos, controle de pragas, pequenas manutenções em prédios públicos, pintura de meio fios, lavação e higienização das ruas da cidade, e abordagem social, além da coleta convencional de resíduos, de acordo com o SINTRASEM.
O prefeito também “esqueceu” de colocar nas redes sociais que a categoria é composta por homens e mulheres com vontade própria, e que o sindicato não faz absolutamente ninguém de refém: pelo contrário, está a serviço dos interesses dos trabalhadores, e, portanto, da cidade como um todo.
“O que a gente quer não é aumento salarial, é a reposição inflacionária que já estava no nosso acordo coletivo do ano passado. Essa lei federal que ele [Gean] diz não vale para acordos firmados antes da pandemia: ele não tá pagando porque não quer. Ele tá devendo!” – Afirma David Felipe Conceição, de 20 anos, trabalhador da empresa, sobre os objetivos da greve.
Sobre os ataques da mídia hegemônica à luta dos trabalhadores da COMCAP, afirma: “A grande mídia é fantoche, o que eles são pagos pra falar, eles falam. Até porque até ontem a gente era os “anjos”, porque a gente estava na rua, por que a gente não parou. Agora nós somos os demônios, é assim que funciona pra eles, porque a mídia é dos empresários.” e complementa “Agora é ficar firme e ter unidade, juntos defendendo a COMCAP, ela não acaba. Todos podem apoiar a gente, nas mídias sociais e nas ruas!”
Sueli Antunes, funcionária há 22 anos da COMCAP, adiciona: “a nossa greve é legal sim! A nossa reposição tá toda atrasada, e o Gean diz que a gente tá muito caro pra COMCAP, mas assim, o nosso trabalho é de muita qualidade! O prefeito tá tirando nossos direitos! Ele colocou os caminhões privados lá, mas eu pergunto: cadê o dinheiro para pagar os funcionários da COMCAP? Como não tem dinheiro se tá contratando caminhão? E eles [empresa privada] vão tirar o lixo de onde? lá da burguesia, no centro? Aqui o continente não tá sendo limpo em nada!”
Sobre a condição dos trabalhadores no meio da pandemia, Sueli continua: “Eu mesma, peguei a Covid, tive que ficar em casa, até hoje não foi pago meu salário, não quiseram aceitar meu atestado, e voltei a trabalhar sem ter recebido do INSS meu salário de julho. Eu entendo que a população não pode ficar com o lixo acumulado dentro de casa! Nós não paramos na pandemia, muito pelo contrário, trabalhamos o dobro, na linha de frente! E o prefeito vem dizer o que, que não temos mérito? Ele paga o que deve e a gente volta a trabalhar na mesma hora, no mesmo dia!”
Durante a assembleia, os trabalhadores demonstraram forte unidade, denunciando a jogada midiática do governo em culpabilizar os trabalhadores pela greve e incentivar a lógica privatista como saída. “A privatização não é culpa da greve, é culpa desse governo privatista! A greve só demonstra que a categoria tem força pra lutar!” Afirmou Renê Munaro, diretor do sindicato. Um dos trabalhadores, fazendo contraponto à lógica do ódio imposta pelo governo, declarou: “Amor é isso, é quando o saco de lixo está pesado demais, quando o lixo tá todo espalhado, eu olho pro lado e tem um companheiro da COMCAP, ajudando a seguir em frente”.
Os trabalhadores criticaram a gestão de Gean Loureiro, que não ofereceu nenhuma proposta decente para negociação, atrelando-a também a lógica nacional fomentada por Jair Bolsonaro. Após amplo debate, a votação encaminhou a continuidade da greve.
A greve segue firme, e no período da tarde, os trabalhadores se dividiram para fazer panfletagens em bairros onde atuam, explicando para a população o porquê de estarem em greve. A luta extrapola assim a pauta salarial, uma vez que os trabalhadores estão pondo na ordem do dia a defesa da empresa contra a ameaça de privatização. Como disse, Sueli, trabalhadora da COMCAP: “Se o Gean privatizar a COMCAP hoje, amanhã o povo todo vai estar na rua para cobrar, pra gente voltar. Privatizar não resolve! Pague o que deve, Gean!”